metropoles.com

Nos 57 anos do golpe, militares tentam manter política fora do quartel

Pedidos de apoio e demissões elevaram a tensão entre os militares e o presidente Bolsonaro. Exército, Marinha e Aeronáutica estão sem chefes

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Michael Melo/ Metrópoles
exercito na esplanada
1 de 1 exercito na esplanada - Foto: Michael Melo/ Metrópoles

Há 57 anos, em 31 de março, o país dava início a um dos períodos mais sombrios de sua história: o golpe militar de 1964. O movimento retirou presidente eleito do poder e mergulhou o Brasil em ditadura que durou 21 anos, até 1985. Uma combinação preocupante marca este aniversário infame: a linha divisória entre a política e os militares volta a se confundir.

A investida do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em aproximar-se e reunir um apoio mais forte do Exército, da Marinha e da Aeronáutica gerou uma instabilidade inédita na gestão dos órgãos. Pela primeira vez, as três forças estão ao mesmo tempo sem comandantes, o que levou o oficialato a se fechar em um acordo de blindagem.

Com a tensão elevada, o recado militar ao governo Bolsonaro repercutiu da caserna até o alto escalão: as Forças Armadas evitam interferência política em seu funcionamento. Não querem ser garantidoras do que chamam de “uma aventura” que aparece em conversas de apoiadores do presidente. A reportagem do Metrópoles conversou com políticos e integrantes das Forças Armadas que confirmam esse cenário.

A mudança de posicionamento dentro dos quartéis é uma novidade. Nas eleições de 2018, o grupo militar, incluindo o alto escalão, foi força motriz para a vitória de Bolsonaro. E mesmo com adversidades, permaneceram com o governo.

O combustível para a crise é um embate pessoal do presidente Bolsonaro com governadores e prefeitos por conta da edição de decretos de isolamento social, medida que minimiza a transmissão da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

O presidente é contra esse tipo de restrição na circulação e nos últimos dias chegou a dizer frases contra o distanciamento citando os militares como o “meu Exército”. Não pegou bem.

A pressão do presidente soou como ruptura institucional. Segundo fontes do Exército e da Defesa, os comandantes não gostaram das cobranças de “mais fidelidade ao governo” e de investidas consideradas autoritárias.

“Esse tipo de pressão não é bem recebida. Uma troca dessa proporção e da forma como ela ocorreu mais afasta do que aproximam as forças do presidente”, pondera um integrante do Exército.

No Ministério da Defesa, a reforma militar também causou estranhamento, mas a palavra de ordem é passar “tom de normalidade na transição”. Desde segunda-feira, a movimentação na pasta é intensa e promete entrar pelo feriado de Páscoa.

“As trocas são prerrogativas do presidente, mas todas as instituições de Estado têm seus limites, deveres e obrigações”, destaca um general ligado à pasta fazendo referência à Constituição.

A tentativa de despolitização dos quartéis enfrenta dificuldades adicionais com a Ordem do Dia do estreante ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, ordenando a celebração do golpe, que “pacificou o Brasil” segundo o militar que substituiu o ex-chefe da pasta Fernando Azevedo e Silva.

7 imagens
O presidente Jair Bolsonaro
Presidente Jair Bolsonaro e vice-presidente Hamilton Mourão
Jair Bolsonaro
Postagem de Roberto Jefferson
Ministro da Defesa, Walter Braga Netto
1 de 7

Jair Bolsonaro e Braga Netto se cumprimentam durante cerimônia

Igo Estrela/Metropoles
2 de 7

O presidente Jair Bolsonaro

Rafaela Felicciano/Metrópoles
3 de 7

Presidente Jair Bolsonaro e vice-presidente Hamilton Mourão

Isac Nóbrega/PR
4 de 7

Jair Bolsonaro

Reprodução/ YouTube
5 de 7

Postagem de Roberto Jefferson

Reprodução/Twitter
6 de 7

Ministro da Defesa, Walter Braga Netto

Hugo Barreto/Metrópoles
7 de 7

General Augusto Heleno e Paulo Guedes, ministros de Bolsonaro

Igo Estrela/Metropoles
O início da crise

A crise no seio militar começou com a demissão do general Fernando Azevedo e Silva, na segunda-feira (29/3) e virou um castelo de cartas que desmoronou.

Os problemas se intensificaram menos de 24 horas depois, com a saída dos titulares do Exército, general Edson Pujol; da Marinha, almirante Ilques Barbosa Junior; e da Aeronáutica, brigadeiro Antônio Carlos Moretti Bermudez, quando os comandantes pediram demissão na terça-feira (30/3).

Foi um protesto e uma antecipação. Bolsonaro já havia determinado a Braga Netto que demitisse ao menos o comandante do Exército.

Os substitutos não foram anunciados e a negociação é mais uma fonte de tensão. O governo busca nomes para apaziguar a situação com os militares. Em entrevista para tentar diminuir a temperatura da crise, o ministro Fábio Faria, das Comunicações, disse à CNN que nada muda nas Forças Armadas ou na relação delas com o governo. Segundo ele, comandantes “mais modernos” serão nomeados, mas respeitando a hierarquia das instituições.

As Forças Armadas preparam uma lista tríplice para indicar nomes ao presidente. Só oficiais de alta patente nas três forças tem voto e lugar na lista.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?