Em conversa gravada, José Sarney critica a “ditadura da Justiça”

Áudios inéditos feitos pelo ex-senador e ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, divulgados nessa quinta-feira (26/5) pelo Jornal Nacional, revelaram uma conversa entre ele e o ex-presidente e ex-senador José Sarney (PMDB) que teve como alvo os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Juristas e o juiz Sérgio Moro também não escaparam. Na conversa, eles reclamam que ninguém se manifesta contra Moro, criticam as decisões que estão combatendo a corrupção e classificam a situação como uma “ditadura da Justiça”.

No final do ano passado, Machado foi alvo de buscas na operação Lava Jato. Como presidente da subsidiária da Petrobras, ele foi acusado de cobrar propina das construtoras para a liberação de recursos em obras licitadas legalmente. Indicado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB) ao cargo, ele confessou aos investigadores que, depois disso, teve medo de ser preso e decidiu, entre fevereiro e abril deste ano, gravar conversas com políticos importantes, antes da votação do impeachment de Dilma Rousseff no Congresso Nacional.

Confira os trechos divulgados:

Trecho 1

(…)

SARNEY – E com esse Moro perseguindo por besteira.

MACHADO – Presidente, esse homem tomou conta do Brasil. Inclusive, o Supremo fez porque é pedido dele. Como é que o Toffolil e o Gilmar fazerm uma p*** dessa? Se os dois tivessem votado contra, não dava. Nomeou uns ministro de m*** com aquele modelo.
SARNEY – Todos.

Trecho 2

(…)

MACHADO – Não teve um jurista que se manifestasse. E a mídia tá parcial assim.  Eu nunca vi uma coisa tão parcial. Gente, eu vivi a revolução […]. Não tinha esse terror que tem hoje, não. A ditadura da toga tá f***.
SARNEY – A ditadura da Justiça tá implantada, é a pior de todas!
MACHADO – E eles vão querer tomar o poder. Pra poder acabar o trabalho.
Outros políticos
Um dos trechos divulgados no início da semana pelo jornal Folha de S. Paulo derrubou o senador Romero Jucá (PMDB) do cargo de ministro do Planejamento. As gravações feitas por Sérgio Machado com Sarney, Jucá e Renan Calheiros conhecidas até agora são dominadas por um assunto: as tentativas de barrar a operação Lava Jato e obstruir a Justiça.

Mas o tema principal da delação premiada feita por Machado e homologada pelo STF são os desvios de dinheiro da Transpetro para políticos ao longo de mais de dez anos.

Presidente do STF, Ricardo Lewandowski, disse, por meio de nota, ser normal integrantes da Corte manterem conversas com representantes da classe política, mas afirmou que isso não traz nenhum prejuízo à imparcialidade do magistrado.

A assessoria do ex-presidente José Sarney disse que, enquanto ele não tiver acesso às gravações, não vai poder falar especificamente de cada assunto. Em nota à imprensa, o ex-presidente disse que é amigo de Sérgio Machado há muitos anos, que as conversas foram marcadas pela solidariedade, e que usou palavras que pudessem ajudar Machado a superar as acusações que enfrentava. Sarney também disse lamentar que as conversas privadas tenham se tornado públicas, porque os diálogos podem ferir outras pessoas. (Com informações do G1 e da Agência Estado)