Em conversa com filho de Cerveró, Delcídio cita influência sobre ministros do STF
Na conversa, interceptada pela Justiça, que durou 1 hora e 35 minutos, Delcídio chegou a sugerir três rotas de fuga a Cerveró, que tem também nacionalidade espanhola
atualizado
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Na conversa que manteve no dia 4 de novembro com Bernardo Cerveró – filho de Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da Petrobras preso na Operação Lava Jato – o senador Delcídio Amaral (PT-MS) citou nominalmente ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre os quais teria influência.
Com a promessa de interceder a favor de Cerveró, ele disse ter conversado com o ministro Dias Toffoli e que iria conversar com os ministros Luiz Fachin e Gilmar Mendes, além de prometer “interlocução” com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o vice-presidente Michel Temer.
Os R$ 50 mil que Delcídio ofereceu à família de Cerveró, a serem pagos de forma parcelada, seriam financiados, segundo a conversa gravada do senador com o filho de Cerveró, por André Esteves, controlador do banco BTG Pactual. Esteves teria, segundo Delcídio, cópia de minuta do acordo de delação premiada de Cerveró o que, para a Justiça, confirma a existência de um canal de vazamento na Operação Lava Jato.
Fuga pelo Paraguai
Na conversa, interceptada pela Justiça, que durou 1 hora e 35 minutos, Delcídio chegou a sugerir três rotas de fuga a Cerveró, que tem também nacionalidade espanhola. A fuga se daria depois da obtenção de habeas corpus e seria concretizada mesmo que Cerveró fosse obrigado a usar tornozeleira eletrônica.
A porta de saída do País se daria pelo Paraguai, onde ele embarcaria num táxi aéreo Falcon 50, com autonomia para chegar à Espanha. Com isso, o senador teria a garantia de que Cerveró não revelaria segredos à Polícia Federal e à Justiça num acordo de delação premiada.
O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, defendeu que a decisão pela manutenção ou não da prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS) seja tomada ainda nesta quarta-feira (25/11), em razão das graves acusações. Segundo ele, é difícil o Senado votar contra a decisão do Supremo Tribunal Federal que, por unanimidade, autorizou a prisão do senador Delcídio.
“Em reunião com o presidente do Senado, acompanhado de outros líderes partidários, sugeri que a manifestação do Senado ocorra logo após o recebimento dos autos, que deve estar ocorrendo agora nas próximas horas”, disse.
A Constituição Federal determina que o Supremo Tribunal Federal (STF) comunique o Senado em 24 horas, mas não dá um prazo para que a Casa avalie a decisão. Mais cedo, Renan Calheiros afirmou que a Casa se reuniria em um “prazo razoável”, sem determinar qual seria esse prazo.
Para Aécio Neves, postergar a votação sobre a prisão “transfere uma questão extremamente grave, que circunda um senador da República, para todo Senado Federal”. O presidente do PSDB defendeu ainda que a votação seja aberta.
Questionado sobre qual seria seu posicionamento, o senador tucano afirmou que, com base apenas nos fragmentos aos quais já teve acesso, deve acompanhar a decisão do STF. “Posso antecipar que, para nós do PSDB, o caminho natural é obviamente acompanhar a decisão do Supremo Tribunal Federal que já teve a oportunidade de analisar matéria”.
Para Aécio, tudo relacionado a Lava Jato está “umbilicalmente ligado ao Planalto”. “Não se montaria um esquema desse vigor se não houvesse beneplácito do governo, porque ele foi, em última instância, o grande beneficiário desse esquema”, afirmou.