Em churrasco surpresa, Bolsonaro busca relação cordial com a imprensa
Presidente chamou jornalistas para evento privado e respondeu a perguntas por mais de uma hora sem se exaltar
atualizado
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A relação entre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e a imprensa é turbulenta e marcada por ataques. O capitão reformado costuma reclamar da abordagem da mídia em relação ao seu governo e, não raro, parte para embates com os jornalistas que cobrem o dia a dia do Palácio do Planalto. Em um churrasco fora da agenda nesse sábado (31/08/2019), porém, o mandatário da República mudou de comportamento e se mostrou afável – respondeu a dezenas de perguntas, sem questioná-las, e chegou a se emocionar ao relembrar a facada da qual foi vítima durante as eleições 2018.
A aparente trégua com os profissionais de comunicação ocorre num momento em que o chefe do Executivo federal enfrenta sua maior crise de imagem até agora, com os incêndios que assolam a Amazônia, e vê o Congresso contrariar a vontade do governo em votações importantes.
Bolsonaro não tinha agenda oficial no sábado, mas deixou o Palácio da Alvorada no meio da manhã, para cavalgar com a filha em um quartel da PMDF. Na volta, também sem previsão, a comitiva presidencial parou em um bloco administrativo vizinho ao Quartel General do Exército. No local, ocorria um churrasco organizado pela equipe de segurança do presidente, com a presença de suas famílias.
Inicialmente, o grupo de jornalistas que acompanhava a comitiva foi barrado na porta do quartel. Cerca de meia hora depois, porém, um dos responsáveis pela segurança de Bolsonaro foi até a área onde a imprensa estava e disse que o presidente fez um convite a todos os profissionais para almoçar.
Bolsonaro, de acordo com outro integrante do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), havia se compadecido com “os trabalhadores” que haviam ficado esperando, na hora do almoço, debaixo de um sol de mais de 30°C, além da umidade relativa do ar abaixo de 30% do inverno brasiliense.
Havia regras: não seria permitido entrar no local com celulares, câmeras, gravadores e até mesmo papel e caneta. Nem a conversa com o presidente estava garantida, apenas a comida: churrasco acompanhado de arroz branco, mandioca cozida, vinagrete e três tipos de farofa – tudo preparado pelos servidores.
Os jornalistas, cinegrafistas e motoristas das empresas de comunicação foram instruídos a sentar em mesas perto da porta, as mais distantes de onde o presidente comia. Pouco tempo depois, porém, Bolsonaro foi até o grupo – formado por 12 pessoas, incluindo a equipe do Metrópoles –, puxou uma cadeira e cumprimentou a todos. Chegou a dizer que não responderia perguntas a respeito de política. No entanto, por cerca de uma hora, até que fosse chamado pela segurança, falou com tranquilidade sobre todos os assuntos trazidos pelos repórteres.
Sem se exaltar com a imprensa em nenhum momento, Bolsonaro conversou sobre a difícil relação com o Congresso (“A cobrança por cargos é grande, se não entregar alguns, não se vota nada”); comentou a relação com seus ministros, adversários políticos, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB); abordou a “impossível” criação de um imposto nos moldes da CPMF; e, por fim, falou da facada que levou em Juiz de Fora e até coisas mais pessoais, como o cotidiano no Palácio da Alvorada, “aquela coisa enorme”.
Ao relembrar do atentado de que foi vítima e do difícil tratamento médico que se seguiu, o presidente chegou a chorar brevemente. Na maior parte do tempo, porém, mostrou bom humor e fez brincadeiras, inclusive ironizando as próprias “caneladas”. Bolsonaro estava no local acompanhado da filha, Laura, de 8 anos. Em vários momentos, o presidente se referiu à menina como “fraquejada”, em referência a uma piada que lhe rende críticas.
Antes de ir embora, Bolsonaro chegou até mesmo a elogiar o comportamento dos jornalistas, apesar de eles não o terem poupado de perguntas que em outros momentos levaram a respostas ríspidas, como a resistência do Senado à indicação do filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para o cargo de embaixador nos EUA. “Aqui, estamos tendo uma conversa respeitosa. E sei que quando não é [respeitosa], não é uma coisa pessoal. Quando estão ali no quebra-queixo [entrevista normalmente improvisada em saídas de eventos ou prédios públicos], vocês estão atrás da manchete, é o trabalho de vocês”, concluiu, com um sorriso.