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Em carta, mais de 300 diplomatas pedem saída de Ernesto do Itamaraty

Chanceler Ernesto Araújo vem sendo pressionado para deixar o cargo. Planalto já busca perfil menos ideológico, mas ainda resiste à mudança

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Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo
1 de 1 Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Em carta aberta publicada neste sábado (27/3), um grupo de mais de 300 diplomatas pediu a saída do governo do atual ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e ainda acusou a atual política externa do Itamaraty de causar “graves prejuízos para as relações internacionais e a imagem do Brasil”. O documento foi obtido pelo jornal Folha de S.Paulo.

“Esperamos, com essas reflexões, oferecer mais elementos para que as necessárias e urgentes mudanças na condução da política externa ganhem maior apoio na sociedade. A crise da Covid-19 tem revelado que equívocos na política externa trazem prejuízos concretos à população”, diz trecho da carta.

Desde que as negociações para a compra de vacinas contra a Covid-19 tiveram início, o governo federal tem enfrentado dificuldades para importar doses e insumos necessários para a produção de imunizantes.

Diante do cenário atual, o Congresso Nacional tem pressionado o Palácio do Planalto para que Ernesto Araújo seja exonerado.

Na última semana, o governo passou a buscar um perfil menos ideológico para o cargo, mas a cúpula do Planalto ainda resiste a ideia de retirar Araújo do Itamaraty, uma vez que o chanceler tem a confiança do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A carta divulgada neste sábado conta com ao menos dez embaixadores de carreira do Itamaraty. Eles, no entanto, não se identificaram, pois caso o fizessem, estariam infringindo o artigo 27 da Lei do Serviço Exterior, que diz que é necessário “solicitar, previamente, anuência da autoridade competente, na forma regulamentar, para manifestar-se publicamente sobre matéria relacionada com a formulação e execução da política exterior do Brasil”.

No documento, os diplomatas apontam que “avolumaram-se exemplos de condutas incompatíveis com os princípios constitucionais e até mesmo com os códigos mais elementares da prática diplomática”.

“Além de problemas mais imediatos, como a falta de vacinas, de insumos ou a proibição da entrada de brasileiros em outros países, acumulam-se danos de longo prazo na credibilidade internacional do país”, escreveram os diplomatas.

Chanceler é criticado no Senado

Em audiência no Senado Federal na quarta-feira (24/3), Araújo foi alvo de críticas por diversos parlamentares, que questionaram a capacidade do ministro para estabelecer uma boa relação com a diplomacia chinesa como forma para que o Brasil possa aumentar a quantidade de vacinas no curto prazo.

Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa, a senadora Kátia Abreu (PP-TO) questionou a possibilidade de o ministro manter-se à frente das negociações por vacinas.

“O senhor se sente realmente à vontade, como chanceler do Brasil, para fazer essas ligações, essa interlocução, essas reuniões remotas com esses países, com a China e com os Estados Unidos, diante deste quadro diplomático desastroso, ministro?”, indagou a senadora.

Outros, como o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), foram mais longe, e chegaram a pedir a renúncia do chanceler.

“O senhor realmente se sente possibilitado de continuar nesse cargo e reverter essa situação, sendo que o senhor é responsável pela cara do Brasil lá fora? A nossa cara agora, a cara do Brasil, é a de um país que está colocando o planeta em risco!”, questionou a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP).

“Por favor, chanceler, ponha a cabeça no travesseiro, pense com consciência, se não valeria a pena o senhor abrir mão desse cargo”, pediu a tucana.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, na última semana, um dos principais representantes do Centrão, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), deu um recado claro ao Palácio do Planalto. Ele disse que se o chanceler Ernesto Araújo não mudar a atuação na pandemia, o parlamentar terá de passar a defender “uma troca de ministro”.

“É um ministério que poderia estar ajudando o país neste momento de extrema dificuldade, essa questão das vacinas, insumos, e não ajudou em nada”, afirmou.

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