“É bom que você se pirulite do Brasil”, diz advogada da JBS em áudio
Em gravação feita por Joesley Batista, a advogada Fernanda Tórtima afirma que, para procuradores, saída do empresário do país seria positiva
atualizado
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Na véspera da votação da segunda denúncia contra Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a Câmara dos Deputados disponibilizou em seu site áudios gravados pelo empresário Joesley Batista e recuperados pela perícia da Polícia Federal. A informação foi publicada nesta segunda-feira (16/10) pela Folha de S.Paulo.
Em um dos diálogos, Joesley Batista, o diretor da JBS Ricardo Saud e o advogado Francisco de Assis e Silva conversam dentro de um carro com Fernanda Tórtima, advogada que atuou na delação premiada da J&F. O quarteto bate papo após deixar uma reunião na PGR para tratar das gravações secretas feitas por Joesley com Temer, o senador Aécio Neves e o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures.
O diálogo, com cerca de 30 minutos de duração, tem início com Tórtima avaliando a reunião dos delatores. “Acho que eles estão com pressa para fazer. Eles gostaram, tentaram evitar ao máximo demonstrar o quanto gostaram, mas a pressa mostra tudo. Eles vão furar a fila de outros casos”, diz Tórtima.“Eles não vão perder uma oportunidade dessas. Não vão mesmo. (…) Para eles [procuradores], é bom que você [Joesley] se pirulite do Brasil também. Se for para dar imunidade, que seja fora para ninguém ver tua cara e lembrar que tu existe. Você longe daqui, sumido, as pessoas até esquecem que ganhou imunidade”, diz a advogada.
Ouça aqui a gravação com a advogada da JBS:
Antes de descer do carro em um endereço na Asa Sul, Fernanda Tórtima pergunta a Joesley se ele iria deixar o país naquele mesmo dia. “Vou amanhecer em Nova York [EUA], se Deus quiser. Eu vou ficar aqui, Fernanda? Você tá louca? Soltar uma bomba dessa aí e ficar aqui fazendo o quê?”, responde o empresário. Após ser questionada se voltariam a se encontrar para tratar de outros detalhes, Tórtima responde, aos risos: “Vou sempre. Se vocês me convidarem, vou sempre visitar vocês”.
A delação premiada do grupo J&F embasou parte da acusação feita pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer, por obstrução da Justiça e organização criminosa. Os arquivos fazem parte do acervo descoberto pela PGR que culminou na suspensão temporária dos benefícios de executivos da empresa.
“Batom na cueca”
Nos três áudios disponibilizados pela Câmara – que estavam em sigilo por determinação do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF) –, Joesley Batista, Ricardo Saud e Francisco de Assis e Silva aparecem em conversa com três interlocutores diferentes.
Em um deles, Joesley conversa com “Gabriel”, que supostamente seria o deputado federal Gabriel Guimarães. Na gravação, o empresário diz ter aconselhado um amigo sobre o que levar em consideração na hora de decidir por um acordo de delação premiada. “Ô, meu, é a coisa mais simples do mundo, porque se você tem problema e o problema é, como se diz, batom na cueca, ô, meu, corre lá e faz a p… dessa delação”, diz.
Ouça a conversa de Joesley com Gabriel:
Em outro, Saud fala com o ex-deputado João Magalhães sobre dinheiro que deveria ter sido repassado ao político. O ex-parlamentar, no entanto, não teria recebido a quantia de aproximadamente R$ 4 milhões.
Confira o diálogo abaixo: