Doria desiste de usar “farinata” na merenda de escolas municipais
O composto alimentar produzido com alimentos próximos do vencimento foi alvo de críticas e questionamentos do Ministério Público
atualizado
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A gestão João Doria (PSDB) desistiu nesta quinta-feira (19/10) de usar a farinata – composto produzido a partir de alimentos próximos ao vencimento – na merenda de escolas municipais de São Paulo. O recuo ocorreu um dia após o prefeito anunciar a ideia, que foi alvo de críticas de especialistas e de questionamento do Ministério Público Estadual (MPE). A proposta também não chegou a passar por avaliação da Secretaria Municipal de Educação.
Na quarta-feira (18) Doria havia anunciado que iniciaria o uso da farinata na merenda ainda neste mês. Mas em nota enviada na noite desta quinta-feira, a administração municipal não garantiu nem o uso do produto para a população carente, como inicialmente proposto na semana passada. Disse que a “eventual” distribuição da farinata “será de atribuição, principalmente, dos serviços municipais de assistência social” e usada na produção de pães, bolos e sopas.
A ideia de usar a farinata na alimentação escolar gerou reações de especialistas, mães de alunos e do MPE, que havia aberto um procedimento para apurar a proposta de usar o composto alimentar nas escolas. Em um dia, o Ministério Público recebeu 57 representações por e-mail contra a proposta.
“Enquanto o mundo se move para uma alimentação saudável, nós estamos na contramão”, disse a educadora Paula Rodrigues, de 32 anos, mãe de Anahi, de um ano, aluna da rede municipal. Ela e outras dezenas de mães participaram de um ato contra a farinata na noite desta quinta-feira na Avenida Paulista, na região central, que reuniu quase cem pessoas. O grupo chamou o composto de “ração”.
Em visita à Goiânia, Doria disse nesta quinta-feira que não haveria “afobação” para implementar o programa e criticou o “aspecto ideológico” da discussão, “com manifestações do PSOL, do PT, dos partidos de esquerda”.
Críticas
Especialistas criticaram o fato de não terem sido dados detalhes sobre o programa nem sobre levantamento de alunos com mais necessidades nutricionais, por exemplo.
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do Ministério da Educação, por exemplo, prevê que a introdução de um novo alimento (exceto frutas e hortaliças) ou alterações no preparo devem passar por “teste de aceitabilidade” pelos alunos, sob coordenação de um nutricionista. O teste não pode ser aplicado em crianças com menos de 3 anos.
A definição do cardápio nas escolas municipais é de responsabilidade da Coordenadoria de Alimentação Escolar, da Secretaria de Educação, que não havia sido avisada sobre a ideia.
João César Castro, nutrólogo pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ressalta que a obesidade infantil é mais comum do que a desnutrição. “Mesmo entre as famílias mais pobres a obesidade preocupa mais, porque elas optam pelos alimentos mais baratos que, em geral, são aqueles com muito açúcar, carboidrato e sódio.”