Dois anos depois, saiba destino de partido que Bolsonaro tentou criar
Aliança pelo Brasil não reuniu número mínimo de assinaturas para virar partido político. Maior parte do bolsonarismo já abandonou a ideia
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro completou, na última sexta-feira (12/11), dois anos sem filiação partidária. Trata-se de um recorde entre presidentes da República e um prazo maior do que o previsto inicialmente pelos próprios bolsonaristas.
Ele deixou o PSL, partido pelo qual foi eleito presidente, em novembro de 2019, após uma série de desentendimentos com a cúpula da sigla. Na ocasião, assim que se desincompatibilizou da legenda, promoveu o lançamento de uma nova agremiação: o Aliança pelo Brasil. O projeto, entretanto, não saiu do papel em razão da dificuldade para recolher as assinaturas exigidas para registro perante o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Em agosto, o TSE limitou aos partidos, mediante login e senha, a consulta de dados sobre apoiadores ou filiados políticos, em atendimento à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Antes dessa determinação, a última consulta feita pelo Metrópoles ao site da Corte eleitoral identificou pouco mais de 124 mil assinaturas para o partido em formação, o que representa 25% do exigido pela legislação (491.967 assinaturas). Outra condição é de que sejam reunidas assinaturas em pelo menos nove unidades da Federação.
A insistência no Aliança ainda vem de alguns apoiadores do presidente, que costumam citá-lo nas conversas no cercadinho do Palácio da Alvorada. A ideia, porém, é descartada pelo próprio Bolsonaro nesses mesmos encontros. “Esquece, é impossível, zero chance de formar o Aliança”, disse em outubro a um simpatizante.
Em alguns eventos externos dos quais o mandatário participa são vistos poucos militantes tentando coletar assinaturas, mas existe ceticismo entre políticos aliados.
Para um grupo de bolsonaristas “raiz”, o tempo que Bolsonaro passou sem partido serviu de demonstração de que ele segue um outsider na política nacional. Na análise do cientista político e o advogado Nauê de Azevedo, a conjuntura partidária do presidente “mantém a narrativa antissistema, mas só até certo ponto, porque fica em uma zona nebulosa entre demonstração de força e demonstração de fragilidade”.
O Aliança pelo Brasil foi anunciado com grande pompa como o partido que sintetizaria os ideais bolsonaristas sem ceder a práticas da política tradicional, como o “toma lá, dá cá”, como ficou conhecida a troca de cargos por apoios no Congresso. Dois anos depois, Bolsonaro selou a aliança com o Centrão e tem hoje dois representantes do bloco no governo: Ciro Nogueira, do PP, na Casa Civil, e Flávia Arruda, do PL, na Secretaria de Governo.
Esta semana, ele definiu que vai se filiar ao PL, presidido pelo condenado no Mensalão Valdemar Costa Neto.
Para o analista político, a demora em definir o futuro partidário mostrou dificuldade do presidente em ser atendido em seus pleitos. “Não consigo ver neste momento nenhuma estratégia, a não ser entrar em uma espécie de leilão para ver quem oferece mais, mas soa mais como uma dificuldade de conseguir efetivamente essa adesão absoluta que ele deseja”, explicou Azevedo.
Nos bastidores, parlamentares avaliam que a demora acabou por atrasar a composição das bases eleitorais. O prazo limite para filiação de postulantes a cargos públicos é março de 2022, seis meses antes do pleito de outubro, mas deputados e senadores interessados na reeleição se preocupam com o prazo curto.
Negociações frustradas
Bolsonaro já tentou negociar, sem sucesso, com siglas pequenas, como PRTB, PMB, Avante e Patriota. No caso desse último, um dos filhos, o senador Flávio Bolsonaro, chegou a se filiar à legenda para abrir espaço para o pai. No entanto, dificuldades internas impediram que as negociações fossem adiante. O partido teve uma espécie de motim interno que inviabilizou o desejo do presidente e de seus aliados.
Entre as demandas apresentadas por Bolsonaro, está o controle dos diretórios regionais e o poder de indicar candidatos ao Senado Federal nas eleições do ano que vem.
Em seus 30 anos de vida pública, Bolsonaro já passou por oito agremiações, algumas das quais foram decorrentes de fusões ou tiveram mudança de nomenclatura. Ele se elegeu vereador, em 1988, pelo PDC, partido que depois se fundiu ao PDS, herdeiro direto da Arena, formando o PPR. Durante seus sete mandatos como deputado federal, Bolsonaro passou por PPB, PTB, PFL (atual DEM), PP, PSC e PSL.