Disputas por diretórios ameaçam liderança de Bivar no União Brasil
Bivar comanda o União Brasil e deputados se dividem entre perspectiva de saída e articulação para eleição do partido, em maio deste ano
atualizado
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Além da crise despontada no Rio de Janeiro, a gestão de Luciano Bivar (PE) à frente do União Brasil enfrenta outras frentes de desgaste. O deputado federal observa o fortalecimento de oposicionistas, que se articulam neste mês de abril para definição dos seus diretórios estaduais. Caso sofra revés longe de Brasília, a reeleição do pernambucano no comando da sigla, até o momento dada como certa, passará a ser vista como duvidosa pelos seus correligionários.
No Rio de Janeiro, há uma insatisfação geral e mais aguerrida contra Bivar. Isso porque o parlamentar indicou cargos na gestão de Eduardo Paes (PSD) na capital carioca, à revelia da bancada federal. “Parte dos deputados chegou para a eleição, não eram do DEM ou do PSL. Fomos comunicados pela imprensa de que o partido seria base”, diz um parlamentar do União Brasil, ouvido sob reserva pelo Metrópoles.
Ele explica que, caso as lideranças estaduais percam o prazo – até o fim de abril – para instauração das executivas locais, a gestão do União Brasil nos estados continuará feita por comissões provisórias, com menos independência. Diante da disputa no Rio de Janeiro, além das já conhecidas confusões em Pernambuco, Mato Grosso do Sul e na Bahia, parlamentares entendem que há espaço para articulação visando maio do próximo ano, quando o partido elegerá por voto a nova executiva.
Outro membro do União Brasil aponta que, além da ministra do turismo Daniella do Waguinho e do prefeito de Belford Roxo, a tendência é que os demais insatisfeitos aguardem a eleição para a direção do partido. “Muitos vão aguardar, é difícil Bivar perder a eleição. Mas essa forma atropelada, truculenta e desatenciosa faz eles perderem força. Eles não vão ser tão soberanos quanto pensam, vamos precisar de uma governança melhor”, explica.
Decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) estabelece que deputados federais, estaduais ou vereadores que trocarem de partido podem responder a processo por perda de mandato no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O entendimento é que o mandato é do partido, e não do parlamentar eleito.
Divisão nos estados e municípios
A direção municipal já causa confusão no União Brasil desde dezembro último. No fim do ano passado, Márcio Canella venceu, com apoio de Rueda, vice-presidente do União, uma disputa com o deputado federal Chiquinho Brazão e ficou com o comando da comissão do partido no Rio de Janeiro. Agora, seu nome é ventilado para disputar a eleição de Belford Roxo, cidade governada pelo marido de Daniella, Waguinho.
Daniella do Waguinho é egressa do MDB. Chiquinho Brazão era do Avante antes de se filiar ao União Brasil.
Em Pernambuco, a comissão provisória estadual do União Brasil não reconheceu a eleição de Mendonça Filho como presidente do diretório municipal do Recife. A decisão foi assinada por Marcos Amaral, gestor estadual da legenda e nome ligado a Luciano Bivar. A Justiça, porém, reconheceu a vitória do ex-ministro da Educação de Temer.
Também há confusão em Mato Grosso do Sul, onde o diretório nacional da legenda disputa com a senadora Soraya Thronicke, presidente da comissão provisória estadual, o comando da presidência da sigla no estado. Há também insatisfação envolvendo filiados da Bahia, mais resistentes a uma adesão à base do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Eles se envolveram em nova disputa no início deste mês, quando Marcos Amaral, apoiado por Bivar, saiu vitorioso na eleição do diretório estadual do partido em Pernambuco. Ele venceu a chapa encabeçada por Mendonça.
Agora, o temor é que situações semelhantes se desenvolvam nas demais disputas pelos comandos dos diretórios estaduais, que devem ser definidos ainda neste mês. A insegurança atrapalha as articulações para as eleições de 2024, mas é justamente a proximidade do pleito e o fundo partidário da legenda que seguram os insatisfeitos.
“Quem está construindo eleições municipais está preocupado com diretórios”, diz a fonte, ouvida pelo Metrópoles. Como presidente, Bivar controla para onde vão os recursos dos fundos partidário e eleitoral da legenda.
Futuro
No União Brasil, há quem aposte numa antecipação da substituição de Bivar como presidente da legenda, caso as eleições dos diretórios estaduais não saiam como planejado. A expectativa é que Rueda conseguiria apaziguar a situação, pois o advogado é um nome com mais trânsito na área política, enquanto o atual presidente é visto como explosivo.
Parlamentares atribuem a Rueda, e também ao governador de Goiás Ronaldo Caiado, a responsabilidade de apaziguar atritos envolvendo Luciano Bivar durante a campanha.
Quando decidiu abandonar a candidatura à Presidência da República e ser candidato a deputado federal, Bivar foi acusado de atrasar o repasse do fundo eleitoral de Mendonça Filho. O deputado federal também chegou a ficar sem propaganda eleitoral na TV. Também há acusações de fogo amigo contra outros candidatos no último pleito.
A reportagem do Metrópoles procurou o deputado Luciano Bivar, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno. O espaço continua aberto.