Dilma reage a Maia: “É dócil com Bolsonaro e dança conforme a música”
A ex-presidente reagiu às declarações do presidente da Câmara, que apoiou sua saída, mas não vê motivo para impeachment de Bolsonaro
atualizado
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A ex-presidente Dilma Rousseff (PT-MG) reagiu às declarações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) que disse não ver elementos para encaminhar os pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonaro e, ao mesmo tempo, reiterou sua posição favorável ao impeachment da petista, ocorrido em 2016. Para a ex-presidente, Maia não tem compromisso com a democracia e sua posição não a surpreendeu.
“Não surpreende as declarações do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), reiterando sua posição favorável ao meu impeachment e descartando a possibilidade de abrir um processo de afastamento de Jair Bolsonaro da Presidência da República. O deputado não tem compromisso com a democracia ou com o povo brasileiro. Seu compromisso é com a manutenção da atual política econômica, responsável pelo aumento da desigualdade social e com a agenda neoliberal nefasta imposta pelo ministro Paulo Guedes“, disse a ex-presidente, por meio de nota.
As manifestações de Maia ocorreram em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, nessa segunda-feira (3/8). Ele disse que não vê, nas dezenas de pedidos de impeachment protocolados na Câmara, nenhum crime que teria sido cometido por Bolsonaro.
“Qualquer decisão agora leva a recursos ao plenário e nós vamos ficar discutindo impeachment sem nenhuma motivação para isso. É por isso que eu não decido”, observou Maia. “Dos [processos] que estão lá, a princípio, me parece que não há nenhum problema. Mas se eu começar a decidir pelo indeferimento, nós vamos transformar o plenário da Câmara, que ainda tem muitas pautas relevantes para votar, num enfrentamento político entre o presidente e a oposição”.
“Caráter pusilânime”
Na nota, Dilma Rousseff enfatiza que Bolsonaro se atira contra as instituições democráticas, apoiando manifestações em defesa do fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele ainda negligencia, em sua opinião, o combate à pandemia, segurando o repasse de recursos a governadores e prefeitos e nomeia um general intendente sem experiência na saúde pública para ocupar o Ministério da Saúde em meio à mais grave crise sanitária dos últimos 100 anos. “Nada disso parece sensibilizar Rodrigo Maia e demonstra o caráter pusilânime de sua liderança”, criticou Dilma.
“O parlamentar diz não ter convicções para apoiar um processo de impeachment contra um genocida como Jair Bolsonaro, mas não se furtou a defender meu afastamento do governo, mesmo sem crime de responsabilidade, como determina a Constituição Federal. Certamente porque as supostas divergências políticas que diz ter com Bolsonaro são de pequena monta já que não o impedem de manter cargos na estrutura do atual governo. Ou ainda assegurem que sua conduta dócil não afronte aos interesses reais das tropas bolsonaristas. Rodrigo Maia dança conforme a música”, disse a ex-presidente.
“Sua visão utilitarista da política, que serve para a manutenção de privilégios e do status quo, tão ao gosto de conservadores como ele mesmo e os que o apoiam – as classes dominantes do país, incluindo seus braços político e empresarial –, é a mesma das oligarquias que governaram o país por mais de 500 anos. Também é a negação da esperança, da Justiça Social e da luta por um país mais justo e solidário. E, nos dias atuais, da defesa e da garantia da vida. É o que, sem dúvida, permitiu a ascensão de Jair Bolsonaro e da extrema-direita em 2018. Os conservadores apoiam o bolsonarismo porque é o que garante aos ricos ficarem mais ricos, enquanto metade do país vive com menos da metade de um salário-mínimo”, apontou Dilma.