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Dilma está indignada com acordo de delação e vazamento, diz Jaques Wagner

O chefe da Casa Civil afirmou que “tem muita poeira e pouca materialidade” no acordo de delação e comparou o vazamento ao escândalo da Escola Base, da década de 1990

atualizado

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Wilson Dias/Agência Brasil
Jaques Wagner
1 de 1 Jaques Wagner - Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

O chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, afirmou nesta quinta-feira (3/3) que a presidente Dilma Rousseff está “muito indignada” com o acordo de delação do senador Delcídio Amaral (PT-MS) e o vazamento do conteúdo da declaração dele à revista IstoÉ. “(A presidente) está com a mesma indignação que eu, talvez até mais que eu, porque envolve diretamente o nome dela”, afirmou.

“Ela está preocupada porque eu acho que é uma coisa totalmente fora de qualquer padrão. Uma delação que eu não sei se foi, pelo que eu sei, não foi homologada, que envolve ministros e, principalmente, a figura da Presidência da República. Aí, está totalmente de cabeça para baixo”, afirmou.

Wagner afirmou ainda que “tem muita poeira e pouca materialidade” no acordo de delação e comparou o vazamento ao escândalo da Escola Base, da década de 1990, em que os donos do colégio de São Paulo foram inocentados anos depois de denúncias de abuso infantil.

“Eu prefiro ser objetivo, fático. Esse fato é intolerável numa República e num Estado Democrático de Direito. Se faz um linchamento público, seja de quem for, para depois alguém dizer: ‘É, não valeu, não vale nada'”, afirmou. Ele disse ainda que é “um absurdo completo” a execração pública para depois alguém provar que algo está diferente.

“Tocaram fogo na escola, tocaram fogo na família, tocaram fogo nas pessoas, para dois anos depois dizerem: ‘Ih, não é nada disso’. Então, não dá, gente. Eu acho que isso aqui é um absurdo completo”, disse. Wagner, que se reuniu com Dilma e com o ex-ministro da Justiça e novo chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), José Eduardo Cardozo, para definir uma estratégia de reação do Poder Executivo, também levantou suspeitas sobre a veracidade das informações de Delcídio, mas preferiu não “adjetivar” se as razões do acordo de delação seriam uma espécie de vingança.

O chefe da Casa Civil declarou ainda que o suposto acordo de delação “tem muita inconsistência” e que o senador do PT de Mato Grosso do Sul “é o delator, ele é a testemunha, ele é tudo”. “Na minha opinião, tem muito pouca materialidade”, acredita. Após a divulgação do acordo de Delcídio, a administração federal tem tentado desqualificar as falas dele, alegando que o senador tem mentido.

Desde que deixou a prisão, Delcídio afirmava que não faria acordo de colaboração premiada, pois “reescreveria” a história “sem revanchismo”. Perguntado se Cardozo poderia ter conhecimento do acordo e por isso ter deixado o cargo, Wagner rebateu dizendo: “Vocês sempre pressupõem que a gente conhece de tudo”. “O que mudaria a gente tirar ou deixar o José Eduardo Cardozo, até porque ele foi pra AGU, ele continua ministro?”, questionou.

Wagner também evitou comentar a possibilidade de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é inimigo público do Executivo, estar por trás do vazamento. “Não, aí eu não tenho e, até gosto porque eu não tenho uma cabeça conspirativa, eu prefiro dizer o seguinte: o fato é inaceitável, que alguém pegue algo que vale ou não sei se vale, bote em qualquer órgão de imprensa”, acha.

O chefe da Casa Civil julga que o acordo de delação que estava sob sigilo da Justiça não poderia ter sido vazado e que “estão receptando informações”, mas que não caberá ao Ministério da Justiça investigar os vazamentos. “No caso, não tem o que o Ministério da Justiça apurar porque só teve a delação”, admitiu. “Se couber a alguém é a própria Procuradoria-Geral da República (PGR)”, completou, ressaltando que a gestão federal mantém “relações harmônicas e respeitosas com os outros Poderes”.

Delação
De acordo com a IstoÉ, Delcídio teria dito em acordo de delação que Dilma tentou atuar ao menos três vezes para interferir na Operação Lava Jato por meio do Judiciário. “É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de promover a soltura de réus presos na operação”, afirmou o senador do PT no acordo, segundo a revista. Cardozo deixou esta semana o ministério alegando sofrer pressões do PT.

Na delação, Delcídio teria citado também o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e detalhado os bastidores da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras. As primeiras revelações do ex-líder do governo fazem parte de um documento preliminar da colaboração. Nessa fase, o delator indica temas e nomes que pretende citar em seus futuros depoimentos após a homologação do acordo. Delcídio foi preso no dia 25 de novembro do ano passado acusado de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato e solto no dia 19 de fevereiro.

O senador foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo pela tentativa de atrapalhar investigações. Em conversas gravadas pelo filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, o senador aparece negociando o silêncio do ex-diretor da estatal. Nas gravações, Delcídio sugere uma rota de fuga e dinheiro à família de Cerveró, para não ser mencionado em eventual acordo de delação premiada. Na delação, de acordo com a revista, o senador teria negociado com Cerveró a mando do ex-presidente Lula.

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