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Dilma e Marina: “Farinha do mesmo saco” briga com “dissimulada”

Divergências entre a candidata ao Planalto pela Rede e a ex-presidente começaram no governo Lula e se agravaram desde 2014

atualizado

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1 de 1 marina-dilma - Foto: Arte/Metrópoles

As eleições de 2018 resgataram uma disputa particular entre duas poderosas integrantes do governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva. A candidata da Rede ao Planalto, Marina Silva, e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), postulante a uma vaga no Senado por Minas Gerais, voltaram a se confrontar recentemente. A última rusga foi exposta no Jornal Nacional e no Twitter.

No dia 30 de agosto, em entrevista ao telejornal da TV Globo, Marina retomou a briga elevada ao ponto máximo na disputa eleitoral de 2014, quando as duas se enfrentaram pelo comando do país. “Dilma e (Michel) Temer são farinha do mesmo saco, angu do mesmo caroço. Ambos cometeram os mesmos crimes de caixa 2, de desvio de dinheiro público”, afirmou a candidata ao Planalto.

O ataque verbal provocou reação da ex-presidente pela rede social. “Sempre foi dissimulada”, escreveu Dilma sábado (1º/9), no Twitter, referindo-se à ex-colega de Esplanada. Dois dias depois, ela conseguiu direito de resposta no JN. “É incontroverso que nunca fui condenada pela prática de qualquer crime, seja ele de caixa dois ou desvio de dinheiro público”, afirmou a petista, em texto lido pela apresentadora Renata Vasconcellos.

Na mesma mensagem, Dilma reclama do comportamento da adversária: “A fala enfática e veemente da candidata Marina Silva é patente afirmação falsa de condutas definidas como crimes, configurando, por esse motivo, calúnia”.

Embora tenha veiculado a resposta da ex-presidente, o Jornal Nacional explicou, em seguida, que a ex-presidente “é investigada em dois inquéritos em desdobramentos da Operação Lava Jato”. Um, por suspeita de obstrução de Justiça. Outro, por suspeita de integrar organização criminosa.

“Nos dois casos, ela chegou a ser denunciada pela Procuradoria-Geral da República ao STF, e os inquéritos foram enviados para a Justiça Federal, em Brasília. Dilma sempre se declara inocente das acusações”, concluiu o JN.

Divergências ambientais
As duas políticas fizeram parte do governo Lula desde o começo. Marina era ministra do Meio Ambiente e, Dilma, de Minas e Energia. Em 2005, com a queda de José Dirceu em decorrência de denúncias do mensalão, a mineira foi deslocada para a Casa Civil.

Desde 2003, elas demonstraram divergências em relação a obras públicas de grande porte. “Elas tinham visões diferentes em relação a questões ambientais”, afirmou ao Metrópoles o ex-secretário-executivo do MMA João Paulo Capobianco. “Dilma tinha pressa, as coisas tinham de ser aceleradas. Marina concordava, mas era rigorosa no cumprimento da legislação ambiental”, explica.

Mesmo com concepções distintas, elas mantinham convivência normal entre colegas de governo. Nesse clima de cordialidade, no primeiro mandato de Lula, Marina conseguiu adotar medidas que reduziram o desmatamento. Também fez valer sua vontade de endurecer a liberação de licenças ambientais.

Os conflitos entre Marina e outras áreas do governo ficaram mais evidentes entre o final do primeiro e o início do segundo mandato de Lula. As tensões se davam, principalmente, em torno da ampliação das unidades de conservação na Amazônia. O ritual seguido pelo MMA atrapalhava a execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pacote de obras tocadas pelo governo para melhorar a infraestrutura do país,  alavancar a economia e impulsionar a candidatura de Dilma para o Planalto.

Defensores da exploração mineral e das grandes hidrelétricas minavam a permanência da ministra do Meio Ambiente. Ao mesmo tempo, aliados de Marina estimulavam suas pretensões de suceder Lula na cadeira de presidente.

Nessa época, ela cunhou uma frase que seria lembrada em 2008, quando deixou o governo: “Perco a cabeça mas não perco o juízo”. As pressões continuaram mesmo depois que Marina encontrou soluções técnicas para liberar as construções das usinas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia.

O episódio determinante para a saída da titular do Meio Ambiente foi a entrega, em 2008, do Plano Amazônia Sustentável (PAS) a Mangabeira Unger, ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). Marina soube que fora preterida pouco antes do início da solenidade de lançamento do pacote ambiental no Palácio do Planalto. No dia 13 de maio, cinco dias depois, ela pediu demissão.

Apesar das posições contrárias aos projetos da colega, a chefe da Casa Civil não batia de frente. “Era uma relação dura, difícil, porque Dilma era defensora forte do desenvolvimentismo insustentável. Mas não posso dizer que ela tenha tido influência direta na decisão do presidente de entregar o comando do PAS para o ministro Mangabeira”, diz André Lima, ex-diretor de Políticas de Controle de Desmatamento no MMA, um dos assessores mais próximos da então ministra do Meio Ambiente e, hoje, candidato a deputado distrital.

Desconstrução na campanha de 2014
Fora do governo, Marina consolidou o rompimento com o projeto político do PT em 2010, quando se candidatou a presidente pela primeira vez, filiada ao PV, partido do atual vice da candidata ao Planalto, Eduardo Jorge. Nessa disputa, ela e Dilma mantiveram a cortesia formal dos tempos que conviveram no governo. Como se sabe, a petista venceu e a rival ficou em terceiro, com 19,33% dos votos, desempenho surpreendente para a representante de uma pequena legenda.

Em 2014, foi diferente. Candidata a presidente pelo PSB depois da morte de Eduardo Campos em um acidente de avião, Marina subiu nas pesquisas eleitorais e chegou a ultrapassar Dilma. Nessas circunstâncias, com mais tempo na TV e com João Santana no comando do marketing, a campanha da então presidente desconstruiu a adversária.

Nas peças publicitárias de Santana, a postulante do PSB foi apresentada como uma candidata que tiraria a comida da mesa dos brasileiros e que não tinha estrutura partidária para governar, como Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello, que não terminaram o governo. Marina sentiu o baque e, mais uma vez, ficou em terceiro lugar, na faixa dos 20% dos votos. Dilma foi reeleita.

As suspeitas de caixa 2, alimentadas pelas investigações da Operação Lava Jato, levaram a ex-ministra do Meio Ambiente a defender a cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em 2016, Marina posicionou-se favoravelmente ao impeachment da então presidente. Com isso, afastou-se ainda mais do PT, partido ao qual foi filiada por 23 anos. A vitória da chapa no julgamento do TSE, em 2017, representou mais uma derrota da atual candidata a presidente.

As últimas manifestações das duas ex-ministras mostram que a rivalidade chegou a 2018. Na hipótese de as duas serem eleitas, os brasileiros certamente vão acompanhar novos embates. Seria entre uma senadora do PT e uma presidente da República.

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