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Diálogos da Lava Jato: veja 7 boatos que circulam em redes sociais

Informações viralizaram após site publicar reportagens sobre conversas entre membros da operação

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Sergio Moro
1 de 1 Sergio Moro - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Depois que o site The Intercept Brasil divulgou diálogos entre membros da força-tarefa da Lava Jato em um aplicativo de mensagens, muitas informações sobre o caso passaram a circular em redes sociais. As reportagens publicadas no último domingo (09/06/2019) mostram conversas entre o procurador Deltan Dallagnol e o ex-juiz e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro (aqui, aqui, aqui e aqui).

A Lupa verificou conteúdos que viralizaram sobre a série de reportagens. Há equívocos sobre jornalistas envolvidos na apuração, sobre as próprias conversas publicadas e outros temas. Veja alguns dos boatos:

“Glenn Greenwald (Traidor dos Estados Unidos)”

Texto de imagem que, até as 11h30 de 12 de junho de 2019, tinha mais de 5,7 mil compartilhamentos no Facebook

A informação é falsa. Glenn Greenwald jamais foi acusado formalmente de traição pelo governo dos Estados Unidos. Ele foi o jornalista responsável por revelar, em 2013, os documentos secretos reunidos por Edward Snowden, ex-prestador de serviços da Agência de Segurança Nacional (NSA), sobre o programa de vigilância interno e global promovido pelos norte-americanos. Snowden é quem sofre acusações criminais nos EUA, por espionagem, e será preso se voltar ao país – e não Greenwald. Desde a publicação das informações pela imprensa, Snowden vive na Rússia, onde obteve asilo político.

Em 2014, Greenwald subiu ao palco do Oscar, ao lado da diretora Laura Poitras, que recebeu o prêmio de melhor documentário por Cidadãoquatro. O filme conta os bastidores do caso Snowden. A presença do jornalista não seria possível se ele tivesse sido acusado de traição pelo governo dos Estados Unidos. Ele seria preso ao desembarcar no país.

“David Miranda (Acusado de terrorismo na Grã-Bretanha)”

Texto de imagem que, até as 11h30 de 12 de junho de 2019, tinha mais de 5,7 mil compartilhamentos no Facebook

David Miranda não responde a uma acusação de terrorismo no Reino Unido. Ele foi detido no aeroporto de Heathrow, em Londres, em 18 de agosto de 2013, quando viajava de Berlim, na Alemanha, para o Rio de Janeiro. Agentes de segurança prenderam o marido de Greenwald com base na lei contra o terrorismo britânica de 2000, usando um dispositivo que permite o interrogatório de pessoas consideradas suspeitas na fronteira.

Ele teve apreendido um disco rígido criptografado com material secreto ligado ao caso Snowden, que seria entregue a Glenn Greenwald no Brasil. Miranda passou por um interrogatório, em que disse ter sofrido tortura psicológica, e foi liberado nove horas depois.

Em 2016, uma corte de apelações britânica considerou que a detenção foi legal, mas violou o artigo 10 da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que trata da liberdade de expressão. Para o tribunal, o poder de detenção não tem amparo legal suficiente se usado contra informação ou material jornalístico.

“Jean Wyllys (Suspeito no atentado ao Bolsonaro)”

Texto de imagem que, até as 11h30 de 12 de junho de 2019, tinha mais de 5,7 mil compartilhamentos no Facebook

O ex-deputado federal Jean Wyllys não foi considerado suspeito no atentado sofrido pelo então candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL), em 6 de setembro de 2018, durante a campanha eleitoral, em Juiz de Fora (MG). O relatório final da Polícia Federal sobre o caso pediu o indiciamento do autor da facada, Adélio Bispo de Oliveira, e não cita Wyllys em nenhum momento.

“Descartou-se, como dito alhures, a participação direta de terceiros em coautoria com Adélio Bispo de Oliveira no dia e no momento da prática do atentado, seja emprestando apoio moral ou material”, diz um trecho do relatório.

A associação de Wyllys ao atentado foi feita por meio de boatos espalhados nas redes sociais depois que ele renunciou ao mandato, em 24 de janeiro de 2019. A sua saída do país, por conta de uma série de ameaças recebidas, foi associada por sites de direita e ultradireita a uma tentativa de fugir das autoridades. Perfis anônimos no Twitter fizeram as primeiras acusações, que depois foram reproduzidas por contas com milhares de seguidores.

“OAB Pede O Fim da Lava Jato”

Texto da imagem que, até as 18h do dia 11 de junho de 2019, tinha sido compartilhada mais de mil vezes no Facebook

A informação é falsa. A assessoria de imprensa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) informou, em nota, que a entidade não pediu o fim da Operação Lava Jato. “Isso sequer esteve em pauta em qualquer momento”, diz o texto.

Na última segunda-feira (10/06/2019), a entidade publicou uma nota recomendando o afastamento das pessoas citadas nas reportagens do The Intercept Brasil, ou seja, parte dos procuradores da Lava Jato, o coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol, e o ministro Sergio Moro. Segundo a OAB, esse afastamento seria necessário “para que as investigações corram sem qualquer suspeita.”

“Porque o jornalista Glenn Greenwald ligou 17 vezes para Adélio Bispo no dia do esfaqueamento de Bolsonaro??”
Texto da imagem que, até as 15h do dia 12 de junho de 2019, tinha sido compartilhada mais de 400 vezes no Facebook

A informação é falsa. A Procuradoria Regional de Minas Gerais afirmou que a informação não procede, enquanto o Ministério Público Federal comunicou, em nota, que desconhece o assunto. Por último, a Polícia Federal, que investiga o atentado contra Jair Bolsonaro, informou que não comenta casos em aberto.

Em setembro de 2018, a juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho determinou a quebra de sigilo dos quatro celulares e de um notebook apreendidos com Adélio Bispo. Com isso, a PF rastreou ligações, mensagens e contatos de Adélio. Até o momento, não foi divulgada qualquer informação sobre um supostos mandante ou cúmplice do atentado.

Em fevereiro, circulou pelas redes sociais que ex-deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB) teria ligado 18 vezes para Adélio Bispo no dia do atentado contra Bolsonaro (PSL). A Lupa também classificou essa informação como falsa.

“Deltan elogia Glenn Greenwald”
Legenda da imagem que, até as 15h do dia 10 de junho de 2019, tinha sido compartilhada mais de 1,2 mil vezes no Facebook

No dia 3 de outubro de 2017, o procurador Deltan Dallagnol publicou em seu Facebook um post afirmando que o “renomado jornalista Gleen Grennwald” foi o palestrante da cerimônia de um prêmio ao qual a Lava Jato concorria. O procurador divulgou um trecho do discurso de Greenwald, no qual o jornalista elogia a Operação Lava Jato.

“Moro, o ‘justo’, e Dallagnol, o ‘imparcial’, conversam…”
Legenda da imagem que, até as 15h do dia 10 de junho de 2019, tinha sido compartilhada mais de 1,2 mil vezes no Facebook

Os diálogos mostrados na imagem analisada pela Lupa são falsos. A reprodução começou a circular nas redes sociais após o site The Intercept Brasil publicar uma série de reportagens com conversas entre membros da Lava Jato, entre eles o procurador Deltan Dallagnol (aqui, aqui, aqui e aqui), em chats no Telegram, aplicativo de mensagens semelhante ao WhatsApp. Um dos textos reproduz conversas de Dallagnol com o ministro Sergio Moro, mas os diálogos citados na imagem que circula em redes sociais não aparecem.

O The Intercept Brasil informou, em nota, que a conversa não consta nos arquivos que foram entregues pela fonte anônima que passou o conteúdo ao site. “Esta imagem não foi produzida pela equipe do Intercept Brasil e nós não somos responsáveis pela divulgação dela”, informou.

Também não há registros antigos – em outros sites ou jornais – dos diálogos entre Dallagnol e Moro que circulam em redes sociais. O The Intercept Brasil foi o primeiro veículo jornalístico a divulgar conversas desse tipo. As reportagens (aqui e aqui) mostram que o então juiz federal sugeriu ao procurador que trocasse a ordem de fases da Lava Jato, cobrou novas fases da operação, sugeriu fontes e deu conselhos sobre a investigação.

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“Mourão diz que conspiração de Sergio Moro é muito grave e pede punição”
Título de texto publicado pelo site Plantão Brasil que, até as 15 horas de 10 de junho de 2019, tinha mais de 1.000 compartilhamentos no Facebook

A informação analisada pela Lupa é falsa. O vice-presidente não concedeu entrevista à BandNews sobre as reportagens publicadas pelo The Intercept Brasil. Portanto, não disse que considera as revelações graves e estarrecedoras, nem pediu investigação e punição aos envolvidos.

As frases, que têm vários erros de português, na verdade, foram extraídas de um perfil falso de Hamilton Mourão no Twitter.

O perfil falso responsável pela publicação usa a letra “I” maiúscula no lugar do “L” e não tem o selo de conta verificada do Twitter, que garante a autenticidade. A conta verdadeira do vice-presidente é @GeneralMourao.

Por telefone, a assessoria de imprensa da Band afirmou que a entrevista jamais existiu. O portal do grupo repercutiu, por engano, o tuíte do perfil falso em uma notícia, e, mais tarde, divulgou uma retratação. Outros sites acabaram replicando o conteúdo enganoso depois.

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