Destino de hackers que atacaram autoridades será discutido esta semana
PF continua as investigações: aparelhos eletrônicos serão periciados e presos vão passar por audiência de custódia
atualizado
Compartilhar notícia
Depois da prisão de quatro suspeitos de hackearem autoridades no país, as investigações que desencadearam a Operação Spoofing continuam mantendo o assunto no debate político na semana que começa nesta segunda-feira (29/07/2019). Uma perícia da Polícia Federal em aparelhos eletrônicos de Walter Delgatti Neto, o “Vermelho”, apontado como o líder da ação, pode trazer novos desdobramentos.
O motivo do ataque virtual a centenas de pessoas, incluindo membros da cúpula dos três Poderes, ainda não foi concluído pela polícia. Também não se sabe se há outros envolvidos nos crimes praticados. Nesse domingo (28/07/2019), Walter Delgatti Neto revelou ter deixado cópias das mensagens com terceiros no exterior.
Prisão temporária
A prisão temporária dos suspeitos venceria no sábado (27/07/2019), mas foi prorrogada pelo menos até terça-feira (30/07/2019) pelo juiz da 10ª Vara Federal do DF, Vallisney de Oliveira. Uma audiência de custódia agendada para esta data vai determinar se eles podem ou não ser libertados.
Desde o dia 23 de julho, Walter Delgatti Neto, Gustavo Santos, conhecido como “DJ Guto”, e Danilo Cristiano Marques estão na carceragem da Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Suelen de Oliveira, namorada de Gustavo, foi transferida e está em um presídio feminino.
Entre os que tiveram os celulares violados, estão procuradores, os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), o ministro da Economia, Paulo Guedes, e até o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). De acordo com a Polícia Federal, mais de mil números foram acessados pelos suspeitos.
Caminho das invasões
Em depoimento à Polícia Federal, Delgatti Neto explicou como conseguiu acesso aos aparelhos invadidos. De acordo com o documento, revelado pela TV Globo, tudo começou em março de 2018, quando o suspeito fez uma ligação para seu próprio número de telefone e teve acesso ao seu correio de voz por meio de um serviço de chamadas.
Delgatti contou que tinha o costume de validar o acesso ao aplicativo Telegram dessa maneira e percebeu que poderia conseguir os códigos de outras pessoas se repetisse o processo.
Divulgação de diálogos
“Vermelho” também disse à polícia que foi ele a fonte anônima que forneceu mensagens privadas envolvendo o ministro da Justiça, Sergio Moro, ao jornalista Glenn Greenwald, cofundador do site The Intercept. O compartilhamento foi feito, segundo ele, pelo sistema de armazenamento virtual DropBox.
As conversas, de acordo com o portal, indicam que Moro orientou ações de procuradores na Operação Lava Jato enquanto era juiz.
Vários celulares foram acessados para que o suposto hacker conseguisse fazer contato com Glenn. O suspeito disse ter conseguido o telefone do jornalista por meio da ex-deputada federal do PCdoB.
O telefone de Manuela, por sua vez, foi obtido na agenda da ex-presidente Dilma Rousseff. Ele conseguiu o contato da ex-presidente por meio da lista de contatos do ex-governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão, mas não soube dizer como pegou o contato de Pezão.
O hacker negou que tenha sido pago para fazer o serviço e alegou que procurou Glenn porque o jornalista norte-americano é conhecido pelo caso Snowden, nos Estados Unidos — a divulgação de centenas de milhares documentos secretos da NSA, a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos.
Destino das mensagens
Sergio Moro chegou a dizer que as mensagens obtidas de forma ilegal seriam destruídas. No entanto, a Polícia Federal divulgou uma nota afirmando que o destino do material será definido pela Justiça.
O presidente, Jair Bolsonaro, também afirmou, nesse sábado (27/07/2019), no Rio de Janeiro, que não cabe a Moro definir qual será o caminho adotado em relação ao conteúdo, mas garantiu estabilidade no cargo ao ministro.
As trocas de mensagens são cobiçadas por advogados de réus, que querem usá-las a favor dos clientes. A possibilidade ainda será avaliada judicialmente.
Destino de Glenn Greenwald
No sábado (27/07/2019), no Rio de Janeiro, Bolsonaro indicou ainda que Glenn poderia ser preso no Brasil. Na ocasião, o presidente foi questionado sobre uma portaria que regula a deportação de pessoas consideradas “perigosas” ou “suspeitas”. A medida, assinada por Moro, foi publicada na sexta-feira (26/07/2019), no Diário Oficial da União.
O presidente disse que o jornalista não se encaixa na portaria e, por isso, não deve deixar o país. “Talvez pegue uma cana aqui no Brasil”, afirmou.
Glenn Greenwald usou as redes sociais para responder. “Ao contrário dos desejos de Bolsonaro, ele não é (ainda) um ditador. Ele não tem o poder de ordenar pessoas presas. Ainda existem tribunais em funcionamento. Para prender alguém, tem que apresentar provas para um tribunal que eles cometeram um crime. Essa evidência não existe”, escreveu o jornalista.