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Destaque de ala militar em crises gera incômodo para Bolsonaro

Para presidente, integrantes do grupo que têm atuado como “bombeiros” do Palácio do Planalto “colhem os louros” enquanto ele é atacado

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Jair Bolsonaro fala sobre saída de Sergio Moro
1 de 1 Jair Bolsonaro fala sobre saída de Sergio Moro - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Embora recorra com cada vez mais frequência a integrantes das Forças Armadas, o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), influenciado pelos filhos, demonstra incômodo com o destaque obtido por ministros militares apontados como “tutores” e “bombeiros” de um governo que acumula crises. Para Bolsonaro, os auxiliares fardados ficam com os louros do que considera “aspectos positivos” de sua gestão, enquanto que ele e auxiliares civis afinados com o discurso ideológico são atacados.

Bolsonaro, segundo apurou o Estadão, chegou a cobrar ministros para que se manifestassem publicamente contra reportagens que citam críticas de militares, de modo reservado, a ele e também como um contraponto aos filhos.

Atualmente, três generais têm assento no Palácio do Planalto. São os ministros da Casa Civil, Walter Braga Netto, da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno. O trio atuou tentando contornar as crises envolvendo os ex-ministros da Justiça Sérgio Moro e da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, que deixou a pasta anteontem.

Na terça-feira, o trio de ministros militares prestou depoimento no inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar a acusação de Moro de que Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal. Moro afirmou que os três se dispuseram a conversar com o presidente para tentar encontrar um consenso sobre a substituição de Maurício Valeixo no comando da corporação.

De acordo com pessoas próximas ao presidente, as crises foram usadas para ver reações e posicionamentos de seus auxiliares oriundos das Forças Armadas. Segundo relatos, existe um trabalho de cruzamento do que sai na imprensa e as movimentações internas em uma tentativa de rastrear as fontes.

No dia 25 de abril, o filho do presidente e vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) reclamou publicamente no Twitter com uma indireta aos militares. Na publicação, ele anexou uma reportagem do Estadão com o título: “Saída de Moro e troca no comando da PF têm digitais do vereador Carlos Bolsonaro”.

“Notaram que tudo que pega mal à primeira vista do público a imprensa diz que eu estou envolvido, e tudo o que pega bem vai para a conta de uma determinada ‘ala’? Alguém acha mesmo que apoiar Bolsonaro e não receber críticas diárias da imprensa não é, no mínimo, incoerente”, escreveu o vereador.

Gabinete do ódio
De acordo com interlocutores do filho do presidente, ele está convencido de que a divulgação na imprensa da existência do “gabinete do ódio” – nome dado ao grupo de assessores que mantém ligação com Carlos e que atua nas redes sociais de Bolsonaro – teve a participação de auxiliares militares do presidente, que têm a intenção de diminuir sua influência na comunicação do governo.

“Será que acham que ninguém notou que a imprensa faz para esse grupo exatamente o que ela diz que um ‘gabinete do ódio’ faz para o presidente, só que neste caso com uma estrutura gigantesca e legítima, verdadeiramente capaz de assassinar reputações pois fala sob o mantra da instituição?”, atacou Carlos.

O recado do 02 foi reforçado com questionamentos do presidente a ministros generais sobre por que eles não contestam notícias com críticas da ala militar a ele. Apesar do incômodo, Bolsonaro segue recorrendo às Forças Armadas para preencher cargos.

Alega que a formação militar garante ética e comprometimento com o trabalho, mas outro motivo é que, sem partido e sem quadros qualificados em seu entorno, tem dificuldades para encontrar nomes para posições-chave.

Contestações
No mesmo dia em que Carlos fez críticas à ala militar, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, contestou no Twitter uma reportagem do Estadão que revelava que oficiais-generais, em caráter reservado, avaliavam que o presidente não recuperaria capital político após a saída de Moro do governo.

“Nenhum de nós: Heleno, Fernando, Braga Netto e Rêgo Barros afirmamos isso”, escreveu citando respectivamente os ministros do Gabinete de Segurança Institucional, da Defesa e da Cada Civil, e o porta-voz da Presidência.

Chefe do GSI, general Heleno, no último dia 12, também contestou pela rede social uma notícia da revista Veja negando que os generais tenha assistindo ao vídeo de Moro para “alinhar versão em depoimento” à PF. “Não alinhei minha versão a ninguém”, rebateu.

Diariamente, o presidente, nas primeiras horas da manhã, costuma enviar links de reportagens e arquivos na íntegra dos principais jornais do País aos seus auxiliares e cobrando explicações. Uma de suas reclamações mais frequentes é que muitas vezes tomar conhecimento pela imprensa do que acontece em seu governo.

No último dia 5, para se defender das acusações de Moro de que tentou interferir politicamente na PF, Bolsonaro exibiu o seu celular com um trecho da conversa com o ex-ministro. Na ocasião foi possível notar que no dia 23 de abril, o presidente encaminhou links do Estadão e da Folha de S.Paulo para Moro com a seguinte frase: “Amanheça bem desinformado”.

Naquele dia, a manchete do Estadão era sobre o programa Pró-Brasil, anunciado pelo ministro-chefe da Casa Civil sem o aval do ministro da Economia, Paulo Guedes: “Ala militar impõe obras; equipe de Guedes diz que não há verbas.” Moro respondeu: “Imprensa não é fácil.”

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