Desde JK, pasta da Saúde nunca teve um ministro interino por tanto tempo
Agosto é emblemático para a continuidade do general Pazuello no governo. Esse foi o prazo combinado com Bolsonaro para a “missão” Covid-19
atualizado
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Nas últimas seis décadas, o comando do Ministério da Saúde nunca permaneceu tanto tempo sem um titular. Nesta quarta-feira (5/8), o ministro interino, general Eduardo Pazuello, completa 82 dias no controle da pasta em meio à pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
O mês de agosto é emblemático para a continuidade de Pazuello no governo. Esse foi o prazo combinado com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para cumprir a “missão” Covid-19.
Desde que assumiu o posto, em maio deste ano, Pazuello indica a auxiliares que pretende voltar para o Exército e retomar a carreira militar. Com isso, a pasta pode ter o chefe substituído mais uma vez.
Somente em 1960, já no fim do governo do presidente Juscelino Kubitschek, o Ministério da Saúde teve um interino em seu comando por tanto tempo: entre 1º de agosto e 31 de dezembro.
“O ministro tem a convicção de que conseguiu organizar procedimentos, mecanismos de trabalho e de reação à pandemia. Com isso, o comando da pasta deve ser passado a uma pessoa de perfil ligado à saúde e que realizará o trabalho do pós-pandemia”, pontua um interlocutor no general.
Forças Armadas e Centrão
Nos bastidores, outros dois fatores colocam a situação em ebulição ainda maior: o entendimento das Forças Armadas e a cobiça do Centrão.
O órgão verde-oliva defende que ou Pazuello sai do ministério ou vá para a reserva a fim de continuar no comando da pasta. Já no Congresso, parlamentares olham para a cadeira como uma das mais promissoras para o aumento de influência política.
A maneira como o governo federal tem tratado o trabalho do Ministério da Saúde chamou a atenção de estudiosos sanitários, de cientistas políticos e até mesmo de servidores.
Entre as principais críticas está a militarização do órgão — são 25 em cargos de chefia — e a mudança de postura ao divulgar temas ligados ao novo coronavírus, como a publicação de dados e a extinção das entrevistas coletivas diárias.
As ponderações, porém, passaram longe do Palácio do Planalto. O presidente Bolsonaro gosta do ministro interino e já disse que, por ele, Pazuello ficaria na pasta por muito tempo.
O atual ministro da Saúde assumiu a pasta de forma interina após a saída de Nelson Teich do governo. Oncologista, o ex-ministro pediu demissão por discordar do presidente sobre o uso da hidroxicloroquina como remédio para a Covid-19. A discordância também foi um dos motivos da saída de seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta.
Pandemia
Reconhecido como especialista em gestão, Pazuello se viu pressionado após falhas na distribuição de medicamentos necessários para intubação de pacientes que utilizarão respiradores.
Além dos fatores políticos, a reorganização do país após a pandemia é uma das preocupações dentro e fora do Ministério da Saúde.
Assim como em julho, agosto deve ter recordes de adoecimentos e mortes pela Covid-19, isso segundo projeções do próprio Ministério da Saúde. O país se aproxima de 100 mil mortos e já passa de 2,7 milhões de casos.
Na história
Até 1953, o Ministério da Saúde era ligado ao da Educação. Com a autonomia dada à área da saúde, surgiu o então Ministério da Educação e Cultura, com a sigla MEC.
Essa não é a primeira vez que a pasta fica sem um titular. Entre agosto de 1960 e fevereiro de 1961 o Ministério da Saúde foi comandado por ministros interinos — o maior período na História.
À época, mudanças como as discussões da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que reorganizou o sistema educacional, causou mudanças na organização que tinha pastas centralizadas.
Pedro Paulo Penido permaneceu na pasta por quatro meses. Acumulou ainda a Educação e Cultura no período. Depois, Armando Ribeiro Falcão assumiu a saúde até 31 de janeiro, quando o presidente eleito Jânio Quadros foi empossado e colocou no posto Edward Cattete Pinheiro.
Outros presidentes, como Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff, também indicaram interinos. Contudo, por períodos menores.
Veja tempo de permanência de ministros interinos na Saúde:
- José Carlos Seixas, 35 dias, em 1996, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.
- José Goldemberg, 19 dias, em 1992, no governo de Fernando Collor de Mello.
- José Agenor Álvares da Silva, 15 dias, no governo de Dilma Rousseff.
- Saulo Pinto Moreira, 10 dias, em 1993, durante o governo de Itamar Franco.
Versão oficial
Em nota, o Ministério da Saúde informou o chefe interino da pasta acompanha a situação e tem trabalhado pelo controle da pandemia.
“Sob a gestão do ministro interino Eduardo Pazuello, a pasta acompanha, junto aos estados e municípios, o cenário da pandemia no país. A pasta mantém contato direto com os gestores para atender as demandas que garantam um atendimento precoce e acesso aos serviços de saúde para salvar vidas”, destaca o texto.