Desafio Bolsonaro: fazer política para melhorar economia e segurança
Eleito, o próximo presidente da República terá que garantir politicamente o enfrentamento desses obstáculos
atualizado
Compartilhar notícia
Quando o presidente eleito, Jair Messias Bolsonaro (PSL), ainda era candidato, pesquisas já indicavam que a economia e a violência eram as duas maiores preocupações dos brasileiros. Com mais de 12 milhões de pessoas sem trabalho, e os índices de criminalidade aumentando, o candidato escolheu as suas bandeiras.
Não à toa, logo na largada, Bolsonaro anunciou aquele que seria o seu ministro responsável pela economia: Paulo Guedes. Somado a isso, seu passado militar e retórica armamentista endereçavam a segunda questão.
Na economia, Bolsonaro rompeu com um estigma que dominou as eleições presidenciais de 1998 até 2014. Decidiu declarar-se um liberal, defender privatizações, cortes nos direitos dos trabalhadores e desregulamentação.
O que seria interpretado como suicídio político em épocas que a Petrobras era uma das 10 maiores empresas do planeta, tornou-se música para os ouvidos dos mais de 57 milhões de brasileiros que o elegeram após serem desvendados os esquemas de corrupção impetrados dentro da estatal.
O discurso, até agora, foi o suficiente para lhe garantir o posto mais alto da nação. De agora em diante, porém, um terceiro desafio vai bater à porta: como garantir politicamente que essas dificuldades sejam vencidas?
Reformas
Um pouco menos evidente aos olhos do público, a governabilidade, na visão do cientista político da Arko Advice Lucas de Aragão, é o que vai garantir que reformas econômicas deem nova dinâmica ao crescimento do país.
Na mesma linha, permitirão ao futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, aprovar pautas no Congresso que visem à redução da criminalidade e o combate à corrupção.
“Bolsonaro precisa garantir, nos 100 primeiros dias, uma presidência da Câmara a seu favor, assim como no Senado, além de composições favoráveis nas comissões. Pode não ter impacto imediato, mas lá na frente é o fiel da balança entre conseguir ou não aprovar as reformas que o Brasil precisa”, avaliou.
Na visão do professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, o problema do crescimento econômico pode encontrar um novo norte na medida em que o próximo governo envie mensagens claras aos investidores. Essas mensagens, em última instância, dependem do apoio político conquistado no Congresso.
“O governo precisa aprovar rapidamente a reforma da Previdência. Com isso, os investimentos voltarão”, afirma. Com a retomada dos investimentos, é esperada uma nova dinâmica de contratações e consequente redução do desemprego.
Tanto Bolsonaro quanto Paulo Guedes, agora superministro da Economia, têm destacado a importância da reforma da Previdência entre as prioridades do próximo governo, ainda que não tenham mostrado com clareza qual será a estratégia para aprová-la.
Qualquer que seja, ela vai depender de uma base aliada forte no Congresso. Por se tratar de uma Emenda Constitucional, aprová-la depende dos votos de pelo menos 308 dos 513 deputados. O PSL, de Bolsonaro, conta com apenas 52 congressistas na Casa.
Segurança
No caso da segurança pública, Fleischer destaca a importância do trabalho de intercâmbio de informações entre as diferentes polícias do Brasil. “Tem que continuar o trabalho de coordenar e integrar as forças de segurança pública”, afirmou, ao lembrar o que já vem sendo desenvolvido pelo atual governo, de Michel Temer (MDB).
O grande símbolo desse desenvolvimento, na sua visão, será reduzir a criminalidade no Rio de Janeiro, que enfrenta sérios problemas com o crime organizado.
“Com uma intervenção parcial, pode ser que as coisas aconteçam”, avaliou. Desde fevereiro de 2018, o Rio de Janeiro esteve sob intervenção do governo federal, que levou tropas militares para as ruas como forma de combater o crime organizado.
Desde que a ação teve início, houve redução no número de roubos. Como contrapartida, o número de mortes pela polícia aumentou.
A maioria da população votante do Brasil decidiu que Bolsonaro e as suas bandeiras mereciam uma chance na Presidência. Se até o momento a retórica antissistema foi o caminho escolhido até a rampa do Palácio do Planalto, de agora em diante o seu sucesso no posto vai depender de como ele vai manejar as engrenagens do sistema.