Deputados cometem equívocos ao debater nova denúncia contra Temer
A Agência Lupa checou alguns dos argumentos dos parlamentares durante as sessões da CCJ da Câmara. Veja os resultados
atualizado
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Nesta semana, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados debateu o relatório de Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) sobre a segunda denúncia apresentada contra o presidente Michel Temer. Ele é acusado pelo Ministério Público dos crimes de corrupção passiva e obstrução da justiça. Na semana passada, o relator apresentou um parecer pedindo a rejeição da denúncia. A Lupa checou alguns dos argumentos dos parlamentares durante as sessões da CCJ.
“O que Rodrigo Janot fez (…) nos investimentos (…) estrangeiros do Brasil não tem retorno”
Deputado federal Paulo Maluf (PP-SP)
FALSO
Maluf tentou relacionar uma queda nos investimentos estrangeiros no Brasil à repercussão da delação dos irmãos Wesley e Joesley Batista, homologada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em maio deste ano. Mas os investimentos estrangeiros cresceram desde aquele mês. Segundo dados fornecidos pelo Banco Central (BC), em maio, o Brasil recebeu US$ 2,9 bilhões. Em junho, mesmo com a denúncia contra o presidente Michel Temer no Supremo Tribunal Federal (STF), os investimentos aumentaram em US$ 1 bilhão, totalizando US$ 3,9 bilhões. Em julho e agosto, entraram no país US$ 4,1 bilhões e US$ 5,1 bilhões, respectivamente. O impacto da segunda denúncia, feita no dia 14 de setembro, ainda não pode ser medido. O BC só possui dados até agosto.
Procurado, não retornou.
“As provas (da denúncia) são telefonemas e conversas”
Deputado federal Darcísio Perondi (PMDB-RS)
EXAGERADO
A segunda denúncia contra Temer, apresentada pelo ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, possui outras provas além das gravações de conversas com outros investigados. Para acusar Temer de obstrução de justiça, por exemplo, a denúncia apresenta imagens de Roberta Funaro, irmã do operador Lucio Funaro, recebendo um pagamento das mãos de Ricardo Saud, executivo da JBS, em ação controlada da Polícia Federal, no dia 20 de abril de 2017. Segundo o doleiro, Temer teria dado aval aos pagamentos para que Funaro não fizesse acordo de delação com o MPF. Por meio de um mandado de busca e apreensão, também foi encontrado R$ 1,7 milhão em mochilas e bolsas na casa de Roberta Funaro. Ainda foram usados como indícios outros materiais apreendidos, como contratos assinados, depoimentos de outros réus arrolados na Lava Jato e imagens como a do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor de Temer, recebendo uma mala com R$ 500 mil em São Paulo.
Procurado, o deputado não retornou.
“97% do povo brasileiro não deseja ter mais Michel Temer como seu presidente”
Deputado federal Alessandro Molon (Rede-RJ)
EXAGERADO
O Ibope divulgou no dia 29 de setembro uma pesquisa com a avaliação do governo do presidente Temer. Nela, 77% dos entrevistados avaliaram a administração do peemedebista como ruim ou péssima. Outros 16% classificaram como regular, e apenas 3% consideraram o governo como ótimo ou bom. Com relação a maneira de governar, 89% dos entrevistados disseram que não aprovam o modo como Temer tem conduzido o país. O instituto, porém, não questionou os entrevistados sobre a permanência do presidente no poder. Pesquisou somente como a população avalia o governo.
Procurado, Molon disse que estava se referindo à pesquisa do Ibope e que, em seu entendimento, “isto revela a total falta de apoio do presidente Michel Temer para continuar à frente da Presidência da República”.
“Havendo fortes indícios de que as gravações [entre Joesley Batista e Temer] foram alteradas e tiveram partes suprimidas”
Deputado federal Bonifácio de Andrada (PSDB-MG)
FALSO
O laudo do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal concluiu que não houve edição nem adulteração na gravação. No documento, os peritos descreveram que o aúdio é “consistente com a maneira em que se alega ter sido produzida”. As 294 descontinuidades encontradas foram atribuídas aos momentos de pressão ou atrito no gravador que estava oculto nas roupas de Joesley. A polícia concluiu também que “não foram observados elementos que indiquem a existência de adulterações” no áudio. O deputado já tinha feitoessa afirmação na sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que analisou a primeira denúncia contra Temer.
Procurado, o deputado não retornou.
“Ele [Eduardo Cunha] só tá preso porque um partido entrou no Conselho de Ética dessa casa”
Deputado federal Ivan Valente (Psol-RJ)
EXAGERADO
O processo que tramitou no Conselho de Ética da Câmara para cassar o mandato do deputado Eduardo Cunha foi feito pelo Psol e pela Rede em outubro de 2015. Depois disso, 46 parlamentares de outros cinco partidos somaram-se à representação inicial. Antes da conclusão do processo na Comissão de Ética, o STF suspendeu o mandato do deputado e, por consequência, da função de presidente da Câmara. O mandato do deputado só foi cassado em setembro do ano passado. A prisão, preventiva, foi pedida pelo juiz Sergio Moro em outubro do ano passado.
Procurado, Ivan Valente disse, por nota, que foi o Psol que teve a iniciativa de entrar no conselho e elaborou o documento de representação. “A Rede reconheceu a importância do pedido e o assinou o nosso pedido”, informou.
*Parte desta reportagem foi publicada na edição impressa do jornal Folha de S.Paulo no dia 20 de outubro de 2017.