Deputados aprovam continuidade do processo de impeachment contra Witzel
Foi votação avassaladora: 69 votos a favor do processo, de um total de 70. O único deputado a não votar está de licença devido à Covid-19
atualizado
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A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) decidiu, nesta quarta-feira (23/9), pelo prosseguimento do processo de impeachment contra Wilson Witzel (PSC), governador afastado do Rio. Ele é suspeito de participar de um esquema de corrupção na área da Saúde. Foi uma votação avassaladora: 69 votos a favor do processo, de um total de 70. O único deputado a não votar está de licença médica por conta do coronavírus.
A votação se estendeu pela tarde e por uma parte da noite, porque cada um dos 25 partidos teve uma hora para se manifestar, assim como a defesa do político fluminense, feita pelo próprio governador afastado.
Com o impeachment aprovado pelo plenário da Casa, o caso segue para um tribunal misto formado por cinco deputados e cinco desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ). Com isso, o tribunal terá até 120 dias para concluir se houve crime de responsabilidade.
Em caso positivo, Witzel será definitivamente afastado do cargo. Ele já está fora preventivamente por outra decisão, do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A sentença ainda foi confirmada pela Corte Especial do STJ.
O prosseguimento do processo de impeachment dependia de 47 votos para ser aprovado. Ou seja, dois terços do total dos 70 deputados.
Acompanhe ao vivo:
Cinco deputados do PSL se manifestaram contra os supostos atos cometidos pelo governador Wilson Witzel. Foram eles: Alana Passos, Filippe Poubel, Rodrigo Amorim, Márcio Gualberto e Marcelo Dino. Amorim chegou a dizer que o político usou a família Bolsonaro para se promover e, após isso, virou as costas para o presidente.
PSol contra “desgoverno”
O ministro diz que o Ministério Público Federal (MPF) descobriu uma “sofisticada organização criminosa, composta por pelo menos três grupos de poder, encabeçada pelo governador Wilson Witzel”.
Pelo PSol, outros cinco parlamentares se manifestaram. Foram eles: Dani Monteiro, Eliomar Coelho, Flávio Serafini, Mônica Francisco e Renata Souza. “A nossa bancada não se curvará diante da defesa dos interesses da população. O nosso voto é contra esse desgoverno”, afirmou Coelho.
Marca da corrupção
Pelo PSD, falaram os deputados Felippe Neto e Rosane Félix. “O governador errou. Seja por publicidade ou por incompetência. O governo Wilson Witzel, eleito pelo sentimento popular de mudança, entra para a história deixando a marca da corrupção. Várias autoridades nomeadas por ele estão presas”, disse a parlamentar.
Os parlamentares Carlos Macedo, Dr. Serginho e Capitão Paulo Teixeira se manifestaram em nome do Republicanos. “Eu não consigo acreditar que um homem com sua qualificação possa não ter percebido tudo o que estava acontecendo em sua gestão, a nível de contratos superfaturados, hospitais de campanha que não foram entregues, respiradores, enfim. Até porquê ele era o ordenador de despesa que assinava os contratos. Lamentável”, disse Macedo.
Luto
A deputada Martha Rocha falou em nome do PDT. Ela se dirigiu a Witzel, que acompanha a sessão por videoconferência: “Todos nós estamos de luto com aquilo que o senhor e sua equipe criminosa fizeram na Saúde do nosso estado. O momento de hoje é péssimo para a nossa política. Chega de terceirizar a culpa, governador”, disse a parlamentar.
Para Waldeck Carneiro, que falou pelo PT, a participação de Witzel no suposto esquema criminoso é algo que precisa ser aprofundado pela comissão mista, mas os indícios existem. “Mais uma vez, o Palácio Guanabara se vê envolvido nas páginas criminais. Os indícios são robustos”, avaliou.
O deputado Luiz Paulo (PSDB), um dos autores do pedido de impeachment, criticou as manobras de Witzel para postergar a análise do processo na Alerj. Já a coautora do processo, deputada Lucinha (PSDB), criticou a decisão de última hora do governador em não comparecer à sessão presencialmente.
Genocida
O deputado Alexandre Freitas, que se manifestou pelo Novo, afirmou que quem rouba durante pandemia é genocida, e disse que, caso o impeachment vá a julgamento na comissão mista, ele se pré-candidata a fazer parte dela.
Durante as cerca de 4 horas de discussão, todos os deputados que se manifestaram se posicionaram de forma favorável ao afastamento de Wilson Witzel e ao prosseguimento do rito ao tribunal misto. O partido do governador afastado, PSC, optou por não falar em plenário.
Tiradentes e Cristo
Ao se defender, Witzel comparou a “injustiça” que diz estar vivendo ao que viveu Tiradentes e Jesus Cristo. “O que tem acontecido é algo absolutamente injusto. Não tive o direito de falar nem na Assembleia, nem nos tribunais. Estou sendo linchado moralmente, linchado politicamente, sem direito de defesa”, começou.
“Agradeço a oportunidade, senhor presidente André Ceciliano, por exercer o meu sagrado direito de defesa nessa histórica tribuna, ainda que virtualmente, do Palácio que leva o nome de Tiradentes, símbolo da luta pela liberdade e contra a opressão. Tiradentes que foi delatado, vendido, morreu enforcado e as partes do seu corpo foram jogadas em praça pública para servir de exemplo para a tirania. A tirania escolhe suas vítimas e as expõem para que outros não mais se atrevam”, finalizou Witzel.
Politização de juízes
O governador afastado criticou a “politização de juízes e membros do Ministério Público. “Se as Casas políticas não reagirem, seremos todos regulados por liminares. Aqui estou eu, alvejado pela hipertrofia de órgãos que deveriam respeitar o voto popular e só intervir após o devido processo legal”, falou.
Ele ainda mencionou a infância “humilde”, que, segundo ele, foi igual à de muitos brasileiros. “Muitos que eram das comunidades vieram da baixa camada da população, não eram diferentes de mim. Sou filho de uma empregada. Minha mãe hoje chora pelo que está acontecendo. Meu pai, metalúrgico, chora pelo que está acontecendo. Encontrem no meu passado uma mácula sequer. Deixei a magistratura sabendo que iria enfrentar máfias instaladas no governo”.