Deputado questiona Abin sobre agente secreto infiltrado na UnB
“Pode ser ataque à democracia financiado pelo próprio contribuinte”, diz o presidente da Comissão de Direitos Humanos da CLDF, Fábio Felix
atualizado
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O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do DF, Fábio Felix (PSol), enviou ofício à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) questionando a atuação de um agente infiltrado do órgão como vigilante na Universidade de Brasília (UnB). A presença de um agente de inteligência lotado no campus foi revelada em reportagem do Metrópoles sobre a exposição de dados de servidores federais a empresas de marketing devido a fragilidades do sistema de um Clube de Descontos, que está sendo formulado pelo Ministério da Economia.
A pesquisa no sistema expunha o local de trabalho dos funcionários públicos. O acesso às empresas foi interrompido na última segunda-feira (10/02/2020), após a publicação da primeira reportagem, que motivou uma investigação interna no ministério e outra no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, que admitiu ter havido “falha de proteção de dados sensíveis”.
De acordo com o deputado distrital Felix, que iniciou sua militância política no movimento estudantil na UnB, “é comum a gente desconfiar da existência de agentes infiltrados na universidade, quase uma lenda urbana, mas é chocante ver a informação concreta”.
“Esse tipo de expediente era muito utilizado durante a ditadura militar, para perseguir estudantes. É preocupante que a Abin ainda queira mapear militância política, se for esse o caso. Eu quero saber qual é o papel, porque pode ser um ataque à democracia financiado pelo próprio contribuinte”, afirma ele.
No ofício endereçado ao diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, o parlamentar questiona se “há algum interesse do presidente da República nas atividades da Universidade de Brasília que necessita da atuação de um agente infiltrado da Abin e cujas informações não poderiam ser obtidas de forma pública” e se, na avaliação da agência, “há ameaças ao Estado e à ordem constitucional por parte da Universidade de Brasília que necessitem da atuação de um agente infiltrado desta agência na Universidade?”.
Veja, ao fim desta reportagem, o ofício completo.
Abin silencia
O Metrópoles entrou em contato com a Abin para questionar tanto a existência de um agente lotado no campus universitário quanto o ofício da Comissão de Direitos Humanos da CLDF, mas não houve resposta do órgão.
UnB com “surpresa e preocupação”
A universidade informou, por nota, não ter conhecimento da presença de um servidor da Abin entre os vigilantes terceirizados. “A Universidade de Brasília recebeu com surpresa e preocupação a notícia publicada no último sábado por este portal”, informou, em nota.
“A Universidade ainda está analisando as informações disponíveis a respeito do caso e avaliando as medidas cabíveis. É importante destacar que as universidades são espaços de diversidade e exercício da liberdade de expressão e de cátedra, princípios constitucionais que vigoram em um Estado democrático como o brasileiro”, diz ainda o texto.
SN – ABIN – 10.02.2020 by Raphael Veleda on Scribd