Queiroga: “Não autorizei distribuição de cloroquina”
Atual ministro da Saúde presta depoimento na CPI da Covid, que apura ações do governo federal na pandemia
atualizado
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O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, são ouvidos, nesta quinta-feira (6/5), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid. Queiroga chegou ao Senado pouco depois das 9h30.
Antes de dar início ao depoimento, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) informou que fez um requerimento para convocar representantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para depor sobre fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que sugeriu que a China criou o coronavírus para ter “guerra química”.
Queiroga começou a participação afirmando que a saída do país para a crise sanitária é a imunização da população. “A solução que nós temos para o problema da pandemia é a campanha de vacinação. Precisamos vacinar a nossa população”, enfatizou.
O ministro afirmou que a vacina contra o novo coronavírus é “uma resposta da ciência”. “Nunca, em tão pouco tempo, tivemos uma vacina eficaz para combater uma doença viral como a Covid”, acrescentou.
Questionado pelo relator, Renan Calheiros, Queiroga garantiu que não autorizou distribuição de cloroquina na gestão dele. “Não tenho conhecimento de que esteja havendo distribuição de cloroquina na minha gestão”, completou.
Queiroga se recusou a responder se concordava com a postura do presidente Jair Bolsonaro em defender medicamentos que não têm eficácia comprovada contra a Covid-19, como a cloroquina. E disse que não poderia fazer juízo de valor sobre a opinião de Bolsonaro.
Ele também afirmou que, como uma das primeiras medidas de sua gestão, resgatou o diálogo com “as sociedades científicas”. Queiroga afirmou, porém, que está há 30 dias no cargo e “não tem condições de se ater a todos os detalhes de um ministério complexo, como o da Saúde”.
O Ministro da Saúde admitiu que o Basil enfrenta situação de “grande dificuldade sanitária”, mas afirmou que o país tem registrado queda no número de casos e na pressão sobre o sistema de saúde. “Não é momento de relaxar, é momento de insistir fortemente para ampliar campanha de vacinação e adesão às medidas não farmacológicas”.
O senador Eduardo Braga (MDB-AM), então, rebateu Queiroga: “Se 410 mil mortos não é uma situação extrema, eu não sei o que é uma situação extrema”, disse.
Depoimentos
A CPI da Covid ouviu, ao longo desta semana, os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, em longos depoimentos. Só Mandetta falou aos senadores por quase oito horas seguidas.
Nesta sessão, Queiroga enfrenta pressão dos senadores com questionamentos sobre a compra de vacinas. Contudo, a tropa de choque governista ganhou um reforço na comissão: o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), passou a integrar oficialmente a CPI como suplente, no lugar do senador Zequinha Marinho (PSC-AP).
A atual situação da vacinação no Brasil deverá ser o foco dos parlamentares, diante dos atrasos na chegada de imunizantes, assim como o planejamento para os próximos meses e anos. Já Barra Torres será confrontado em relação à não autorização da vacina russa Sputnik V.
“Vamos saber se tem ou não tem vacina, quais são os contratos e as perspectivas, inclusive planejamento para mais 500 milhões para o ano que vem. Não espere que com essa pandemia que a gente não esteja preparado com vacinas para os próximos dois, três anos”, antecipou o senador Omar Aziz, presidente da CPI da Covid-19.
“A CPI também tem o papel de procurar propostas e fazer com que a gente acelere negociações”, acrescentou Aziz.
As duas oitivas estão mantidas, embora haja uma preocupação em relação à duração delas. Os dois primeiros depoimentos superaram as expectativas do colegiado. Luiz Henrique Mandetta respondeu aos questionamentos dos senadores por cerca de oito horas; Nelson Teich, por cerca de seis.
O senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) disse que o governo não tem preocupação de blindar qualquer depoente.
“Penso que vai cumprir papel importante, trazer dados dos ministérios, a forma como está se tocando a política de combate à Covid-19 neste momento com o olhar para o passado”, declarou Rogério. “[É importante que Queiroga] faça uma análise dos atos praticados desde o primeiro ministro até hoje.”
Rogério destacou a posição da Anvisa ao recusar por ora a vacina russa Sputnik V. “A Anvisa não tem legitimidade só quando aprova. Tem mais quando reprova por questões de segurança. E que ele [Barra Torres] dentro dos limites éticos vai declinar muitas informações importantes face à última decisão, que acabou impedindo a entrada de um dos imunizantes disponíveis”, disse.