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Denúncias contra presidenciáveis não afetam intenções de votos

Desde o início da campanha, quatro dos cinco principais candidatos ao Planalto foram alvo de acusações: Bolsonaro, Haddad, Ciro e Alckmin

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Além da fragmentação política, a eleição presidencial de 2018 é marcada por denúncias contra os postulantes ao Palácio do Planalto. Desde o início da campanha eleitoral, acusações contra quatro dos cinco principais candidatos ao Palácio do Planalto ganharam destaque. Jair Bolsonaro (PSL), Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) foram acusados pelos mais diversos crimes, desde racismo a enriquecimento ilícito. Por outro lado, diante das pesquisas de intenções de voto, as acusações não apresentaram nenhum impacto significativo contra os postulantes à Presidência.

Líderes das pesquisas, Bolsonaro e Haddad registraram altas em seus desempenhos mesmo após acusações virem a público. De acordo com os levantamentos realizados pelo Ibope, Bolsonaro cresce, ao menos, seis pontos percentuais nas intenções de voto desde 28 de agosto, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento contra ele sobre o crime de racismo.

Na última semana, acusações sobre crimes ocorridos no passado também atingiram a campanha de Bolsonaro. Mas, no recente levantamento do Ibope, divulgado na quinta-feira (27/9), o deputado recuou apenas 1 ponto percentual e manteve-se na liderança.

Fernando Haddad  foi alvo de duas denúncias do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e virou réu em uma ação de improbidade administrativa. Apesar das notícias negativas, o petista foi o que mais cresceu nas pesquisas eleitorais: 15 pontos percentuais, segundo o Ibope. Esse avanço está diretamente ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem Haddad substituiu na corrida presidencial.

Ciro foi acusado via imprensa por esquemas de corrupção envolvendo a própria família, os Ferreira Gomes. Além disso, o pedetista viu sua candidata a vice, Kátia Abreu, ser julgada pelo STF por corrupção. A ação contra a senadora tocantinense foi arquivada. Seu desempenho nas pesquisas eleitorais não apresentou mudanças significativas desde o início da campanha.

Ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin foi acusado de improbidade administrativa por promotores do estado. Além disso, o MP-SP instaurou um inquérito contra o tucano por desapropriação de terrenos envolvendo familiares. Assim como Ciro, o tucano não apresentou alterações em seu desempenho nas pesquisas.

Esta reportagem se baseou nos últimos seis levantamentos do Ibope para a corrida presidencial. As pesquisas estão registradas no TSE sob os seguintes protocolos: BR‐01665/2018; BR-05003/2018; BR-05221/2018; BR-09678/2018; BR-06630/2018; BR-04669/2018.

Avaliações
Mestre em administração pela Universidade de Brasília (UnB), especialista em política e diretor da Strattegia Consultoria, Alexandre Bandeira acredita que as denúncias apresentadas contra os principais candidatos na corrida presidencial ainda são insípidas e frágeis. Para o consultor, a sociedade brasileira enfrenta um processo de “fadiga com o Judiciário”, o que se reflete nas eleições.

“A gente se habituou ao Judiciário como protagonista no cenário político nacional. Isso começou no escândalo do Mensalão e cresceu muito com os julgamentos da Lava Jato. Mas vemos episódios em que alguém manda prender, outro vem e ordena soltar. Isso dá a impressão que o ambiente judicial não é preto no branco”, declara.

Na avaliação de Bandeira, os tribunais e promotores não sabem dialogar com a população. “A população está criando anticorpos ao Judiciário. O que é ruim. Ele tornou-se um ambiente de difícil compreensão para os eleitores. O ‘juridiquês’ mal conversa com quem fala o português.”

Para o consultor, o cenário eleitoral de 2018 é de insegurança geral. “No entanto, tudo isso não é só culpa do Judiciário, mas também dos infringentes. Nós temos um problema de comportamento do Judiciário, de compreensão dos eleitores e da transgressão dos políticos. Nós temos uma eleição insegura, com eleitores desconfiados de tudo.”

Impacto no primeiro turno?
Na avaliação de Everaldo Moraes, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB), é difícil medir o efeito prático das denúncias durante a campanha eleitoral. Mas, segundo ele, é possível observar o efeito psicológico nos candidatos.

“Usar as acusações para desestabilizar o adversário, provocar uma declaração infeliz ou fazê-lo cair em contradição ou expor uma mentira pode provocar efeitos eleitorais, mesmo que de difícil mensuração.” De acordo com Moraes, uma nova acusação contra candidatos a menos de uma semana para o primeiro turno tem impacto incerto.

Acho muito difícil interferir no resultado, mas em se tratando de política nacional, não dá pra dizer que é impossível.

Everaldo Moraes, cientista político

Dos cinco principais candidatos, apenas Marina Silva (Rede) não foi alvo de acusações durante o período eleitoral. Abaixo, as queixas apresentadas contra os presidenciáveis.

Jair Bolsonaro
Durante a campanha eleitoral, o candidato do PSL foi julgado pela 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) por racismo. O caso foi discutido entre os dias 28 de agosto e 11 de setembro. Bolsonaro foi denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR) por declarações feitas em uma palestra em 2017 no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro.

“Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Acho que nem para procriador eles servem mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles”, declarou o candidato em 4 de abril de 2017.

Para a PGR, Bolsonaro incitou ódio a minorias, incluindo indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs. A defesa do deputado alegou que a denúncia era inepta e contrária à liberdade de expressão, um direito garantido pela Constituição. Por 3 votos a 2, a 1ª Turma do STF rejeitou a queixa.

Igo Estrela/Metrópoles
Bolsonaro é réu em duas ações penais no Supremo por injúria e incitação ao estupro.

Na última terça-feira (25), o jornal Folha de S.Paulo revelou que Ana Cristina Valle, uma das ex-mulheres de Bolsonaro, relatou ao Itamaraty ter sido ameaçada de morte pelo candidato em 2011. Segundo a reportagem, na época, Bolsonaro e a mulher travaram uma disputa judicial para decidir a guarda do filho do casal, que tinha 12 anos.

Na quinta-feira (27), a revista Veja revelou um processo em que a ex-mulher dele Ana Cristina Siqueira Valle fez uma série de acusações contra o presidenciável. Entre os crimes, ocultação de patrimônio pessoal e até roubo de um cofre. No dia seguinte, a revista Época informou que o candidato pagou R$ 240 mil a uma empresa de fachada para a campanha eleitoral de 2018.

Fernando Haddad
O candidato do PT foi alvo de duas denúncias do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e virou réu em uma ação de improbidade administrativa. Todos esses eventos ocorreram em meio ao processo de julgamento do registro da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indeferiu o pedido, Haddad foi oficializado como cabeça de chapa petista em 11 de setembro.

Em 21 de agosto, Haddad virou réu na Justiça paulista em uma ação de improbidade administrativa por suposto prejuízo de R$ 5,2 milhões à prefeitura de São Paulo. O dano teria ocorrido por conta da construção de 12,4 quilômetros de uma ciclovia quando ele estava à frente do Executivo paulistano (2013 a 2016).

A obra teria ocorrido sem licitação e projeto executivo e com preço superfaturado. Segundo promotores, cada quilômetro da ciclovia custou R$ 4,4 milhões, um valor 613% maior que os R$ 617 mil pagos na gestão de Gilberto Kassab (PSD), o antecessor do petista na prefeitura.

A assessoria de Haddad afirma que o juiz responsável pelo caso citou, no próprio despacho, medidas tomadas pelo petista como argumentos para afastar culpas ou dolos.

Rafaela Felicciano/Metrópoles
O petista foi o que mais cresceu nas pesquisas eleitorais após ser alvo de acusações: 15 pontos percentuais, segundo o Ibope

Dias depois, o MP-SP apresentou duas denúncias contra Haddad por um esquema de corrupção envolvendo a empreiteira UTC Engenharia. Os promotores alegam que o petista cometeu os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, associação criminosa, improbidade administrativa e enriquecimento ilícito.

Segundo o MP-SP, o candidato do PT teria recebido R$ 2,6 milhões de propina para o pagamento de dívidas contraídas ao longo da campanha à prefeitura da capital paulista em 2012. Para a defesa de Haddad, as acusações têm conotação eleitoral.

Ciro Gomes
Em 31 de agosto, a revista Veja publicou uma reportagem em que Niomar Calazans, ex-tesoureiro do Pros, acusa o presidenciável e o irmão, Cid Gomes, de receberem propina da JBS, comprarem o controle do partido no Ceará por R$ 2 milhões e extorquirem empresários do estado. Os pedetistas foram filiados ao Pros de 2013 a 2015.

“Os irmãos Gomes compraram o diretório cearense do Pros. Eurípedes [Júnior] controlava o partido e ‘vendia’ os diretórios estaduais. Quem quisesse ter o controle local da sigla precisava pagar. Foi assim em Minas Gerais, em Mato Grosso do Sul, no Ceará e em outros estados. Em 2014, o Eurípedes chantageou o Ciro: ‘Se você não depositar 2 milhões de reais na minha conta, eu não libero o diretório’. Esse diálogo foi reproduzido pelo próprio Eurípedes em uma de nossas reuniões”, declarou Calazans.

Ciro nega as acusações. Em nota, o pedetista afirmou que irá processar a revista, a quem classifica como “moribunda”. O ex-governador do Cearpá chegou a pedir direito de resposta contra a publicação, mas o TSE negou.

Vinícius Santa Rosa/Especial para o Metrópoles
Em meio às acusações, Ciro manteve o equilíbrio nas pesquisas eleitorais, oscilando dentro da margem de erro.

Semanas depois, o jornal O Globo revelou trechos da delação premiada de Jorge Henrique Marques Valença, executivo da Galvão Engenharia. Segundo o delator, Lúcio Gomes, irmão de Ciro, recebeu R$ 1,1 milhão em dinheiro vivo e captou R$ 5,5 milhões via doações eleitorais oficiais para o PSB em troca da liberação de pagamentos de obras no governo do Ceará durante a gestão de Cid Gomes (2007-2014), outro irmão do presidenciável. O acordo foi homologado pelo STF.

É uma acusação que não se diz quem é que fez, porque a mentira começa dizendo que é uma delação premiada de alguém que também diz que nunca me conheceu e que discute financiamento de campanha

Ciro Gomes, ao rebater delação

Além dos problemas relativos a Ciro, a chapa ganhou destaque pelo julgamento de uma ação contra a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), a candidata a vice. Ela foi citada em uma delação de executivos da Odebrecht. Segundo os testemunhos, Kátia teria repassado R$ 500 mil para a campanha eleitoral de 2014, quando a pedetista foi eleita senadora pelo Tocantins. Em 11 de setembro, o STF arquivou a ação.

Geraldo Alckmin
Além de Haddad, o MP-SP também apresentou queixas contra o candidato do PSDB. Em 5 de setembro, o órgão acusou o tucano de improbidade administrativa. Para o promotor Ricardo Manuel Castro, há indícios que o ex-governador paulista aceitou recursos da Odebrecht, por meio de caixa 2, para financiamento de campanha à reeleição, em 2014.

Como Alckmin deixou o governo estadual para concorrer à Presidência, o MP pede a perda do cargo que o tucano estiver exercendo após uma eventual sentença condenatória.

Sobre o caso, a defesa do tucano contestou a apresentação da denúncia faltando cerca de um mês para a eleição presidencial.“Para além do barulho almejado pelo promotor, não há fato novo, apenas uma conclusão equivocada e um comportamento inusual. O promotor, inexplicavelmente, sugere algo que não existe e que jamais alguém tenha sequer cogitado, nem mesmo os ditos delatores.”

HUGO BARRETO/Metrópoles
Alckmin manteve desempenho apesar da apresentação de uma denúncia e a abertura de inquérito pelo MP-SP

Em 24 de setembro, o MP-SP instaurou um inquérito contra Alckmin para apurar supostas irregularidades em decretos que levaram a desapropriações de terrenos envolvendo familiares dele. Segundo os promotores envolvidos, o tucano teria feito duas desapropriações, em 2013 e 2014, que atingiram propriedades de Othon Cesar Ribeiro, sobrinho do ex-governador paulista. Eles teriam recebido ao menos R$ 3,8 milhões. O candidato do PSDB à Presidência nega as acusações.

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