DEM já não sabe se Onyx continua no cargo
Proximidade do ministro com Alcolumbre e Maia incomoda Jair Bolsonaro, para quem chefe da Casa Civil está fazendo “jogo” do Legislativo
atualizado
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A proximidade do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), incomoda o presidente Jair Bolsonaro. Mesmo após esvaziar o poder de Onyx, que perdeu o comando da articulação política com o Congresso, Bolsonaro ainda se queixa, nos bastidores, de que o ministro está fazendo o “jogo” do Legislativo, dando a impressão de que o governo cedeu ao toma lá, dá cá. Agora, nem mesmo a cúpula do DEM arrisca dizer se Onyx sobreviverá no cargo.
Em conversas reservadas, o presidente tem dito que não se pode ceder a tudo o que deputados e senadores querem para o governo não virar refém da “velha política”. No sábado, Bolsonaro chegou a afirmar que o Congresso tem cada vez mais “superpoderes” e quer deixá-lo como “rainha da Inglaterra”, que reina, mas não governa.
Quem conversou com Onyx, nos últimos dias, encontrou um ministro abatido. A interlocutores, o titular da Casa Civil disse, porém, que o seu foco é “única e exclusivamente” a votação da reforma da Previdência. Questionado pelo Estado se está por um fio no governo, ele respondeu: “Claro que não. Isso é uma baita bobagem.”
No fim de semana, Onyx esteve na fazenda do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM). Amigos dos dois disseram que o ministro foi se aconselhar com Caiado e saber se deveria pedir demissão. O governador negou, porém, ter sugerido a Onyx que se antecipasse a uma possível decisão do presidente.
“Nunca teve essa conversa. Especulações foram feitas, mas eu disse a ele que não desse ouvido a falações de quem não tem nenhuma história ao lado do presidente”, afirmou Caiado ao Estado. “Ele foi o único político que, um ano e meio antes da campanha, rompeu com a Executiva do nosso partido e foi apoiar Bolsonaro. Sair por quê?”
O Estado apurou que Bolsonaro não gostou do fato de Onyx ter sido fiador de um acordo pelo qual cada parlamentar deverá receber R$ 40 milhões até 2020 em emendas e recursos extra orçamentários. Pelo acerto, o governo promete liberar R$ 10 milhões para quem votar a favor da reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara e outros R$ 10 milhões após a aprovação da proposta no plenário.
Se tudo correr conforme o script combinado, os deputados receberão, ainda, mais R$ 20 milhões para obras nos seus redutos eleitorais em 2020, ano de disputas municipais. A oferta apresentada por Onyx também beneficia deputados novatos, que não teriam direito a emendas.
Bolsonaro transferiu a articulação política da Casa Civil para a Secretaria de Governo há apenas nove dias, mas as mudanças no núcleo duro da equipe ainda não terminaram. A tarefa de negociação do Palácio do Planalto com o Congresso caberá, agora, ao general Luiz Eduardo Ramos, que assumirá a Secretaria de Governo em julho, no lugar de Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido recentemente.
A Casa Civil também perdeu a Secretaria de Assuntos Jurídicos, que faz a análise de decretos e projetos de lei. Embora Onyx tenha ficado com o comando do Programa de Parcerias de Investimentos, na prática boa parte do PPI é tocada pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. Ainda assim, o comando do programa foi alvo de disputa. O Ministério da Economia, por exemplo, chegou a reivindicar ascendência sobre o PPI.
Desgaste. Um auxiliar de Onyx argumentou que foi por causa desse embate e da crescente tensão, às vésperas da reforma da Previdência, que o ministro se tornou alvo de especulações.
Há rumores de que o senador Eduardo Gomes (MDB-TO), aliado de Bolsonaro, pode assumir a cadeira de Onyx. Outro nome lembrado é o do secretário especial da Previdência, Rogério Marinho (PSDB), mas o presidente não quer mexer com ele antes da votação final das mudanças na aposentadoria, prevista para o segundo semestre.
No último dia 19, logo após o anúncio do esvaziamento da Casa Civil, Onyx foi conversar com Rodrigo Maia e, a portas fechadas, não escondeu a contrariedade. No início do governo, o ministro teve vários atritos com o presidente da Câmara — tanto que não apoiou a sua reeleição –, mas se aproximou dele por intermédio de Davi Alcolumbre, de quem é amigo. Em fevereiro, o aval de Onyx foi decisivo para Alcolumbre conquistar a presidência do Senado, derrotando Renan Calheiros (MDB-AL), que acabou desistindo da briga.
Apesar de comandar três ministérios (Casa Civil, Saúde e Agricultura), além da Câmara e do Senado, o DEM não integra a base aliada do governo. E, se depender da bancada do PSL – partido de Bolsonaro –, o ministro da Casa Civil deve sair. Deputados do PSL pediram a cabeça de Onyx ao presidente após a demissão do então secretário especial para a Câmara, Carlos Manato. Filiado ao PSL, Manato foi dispensado por Onyx pelo telefone.
“Esperamos que Onyx nunca peça para o PSL votar sobre a permanência dele no governo, porque não vai gostar da resposta”, disse ao Estado o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP).