Deltan reconhece que Lava Jato cogitou pedir suspeição de Gilmar
Ao admitir informação, procurador atestou a autenticidade de ao menos parte das mensagens vazadas
atualizado
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O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, afirmou em entrevista à revista Época nesta sexta-feira (09/08/2019) que pensou em desistir do cargo após os primeiros vazamentos de mensagens trocadas entre ele, integrantes do Ministério Público Federal (MPF) e o ex-juiz Sergio Moro, atual ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PSL).
“É claro que em alguns momentos pensei em desistir”, assentiu, para logo em seguida tentar mostrar autoconfiança. “Mas o propósito de servir à sociedade, com minha fé e esperança em Deus, é uma estrela que ilumina o caminho e dá forças para seguir adiante”, completou o procurador, que é evangélico.
Dallagnol ainda admitiu ter tratado com os colegas sobre a pertinência de pedir o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, além de ter discutido a criação de uma empresa para gerir as palestras e cogitado colocar a mulher na administração do negócio.
“Em diversos momentos, ao longo da operação, cogitamos uma série de medidas relativas a decisões do ministro Gilmar Mendes. Cogitamos recursos que sugerimos para a PGR [Procuradoria-Geral da República], cogitamos encaminhar pedido de suspeição de Gilmar Mendes, estudamos se os atos dele configurariam, para além de atos sob suspeição, infrações político-administrativas”, disse.
Deltan, no entanto, afirmou que a Lava Jato jamais investigou Gilmar Mendes e nenhuma outra autoridade com prerrogativa de foro perante o Supremo. O procurador insiste em descrever o vazamento como “supostas mensagens, com origem criminosa” e que, por isso, seria apenas especulações.
O procurador se refere à reportagem publicada nessa quarta-feira (07/08/2019) pelo El País, em parceria com o site The Intercept Brasil. Na ocasião, o jornal disse que procuradores da Lava Jato em Curitiba fizeram esforço de coleta de dados sobre Gilmar Mendes com o objetivo de pedir o impeachment do ministro, além de terem planejado investigar bancos da Suíça.
“É preciso distinguir buscar os indícios de recolher os indícios em material já obtido. São duas coisas diferentes”, explicou Dallagnol. “Você está investigando um empresário, coleta documentos e, lá no meio desses documentos, folheando as páginas, encontra uma lista indicando pagamentos a pessoas. Só que você não consegue identificar quem são aquelas pessoas porque existem apenas iniciais.”