Delegados: enquanto PF não tiver autonomia, vai haver crise
Para presidente de associação, trocas feitas pelo governo estimulam especulações sobre interferência no trabalho da corporação
atualizado
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A crise deflagrada pela possível queda do ministro Sergio Moro, que avisou nesta quinta-feira (23/04) que deixará o governo se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentar impor uma troca no comando da Polícia Federal, será recorrente enquanto a corporação não tiver autonomia administrativa. É o que afirma o presidente da associação que representa os delegados.
“Nós vamos viver a vida assim. Toda hora, se há uma especulação sobre troca na Polícia Federal, há esse problema todo”, afirmou o Evandir Felix Paiva, presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF).
“Sempre especulam: ‘Ah, estão trocando por dinheiro, estão trocando porque querem interferir na polícia. Querem mexer com investigação, querem fazer isso, querem fazer aquilo. Infelizmente, nós vamos viver assim enquanto não aprovar o mandato (para o chefe da PF)’”, concluiu.
Bolsonaro informou a Moro nesta quinta que pretendia trocar o comando da Polícia Federal, atualmente ocupado por Maurício Valeixo. Pelas leis atuais, o presidente da República pode mudar o diretor-geral da corporação quando quiser. Embora a indicação para o comando da PF seja uma atribuição do mandatário, tradicionalmente é o ministro da Justiça quem escolhe.
Enxurrada de especulações
Paiva explica que crises como a desta quinta são recorrentes, já que o Congresso não pautou e aprovou os projetos sobre autonomia da PF. “Toda hora que se fala em troca de comando da Polícia Federal, tem essa enxurrada de especulações e isso não é bom para a instituição”, afirmou.
“Todos os governos vão ter algum tipo de investigação da PF que não lhes interesse. Todos. Não me lembro de um governo nos últimos 20 anos que não tenha uma investigação que tenha envolvido algum membro do governo ou do poder político”, disse, sobre a frequência de crises do tipo. Só no governo Bolsonaro, é a segunda vez que o presidente ameaça destituir Valeixo.
Paiva criticou o fato de que o ocupante do cargo de diretor-geral da PF possa ser trocado a qualquer momento. “Eu já estou no quarto diretor-geral”, disse, em referência ao período desde que assumiu a presidência da ADPF, no final de 2017. Ele se refere, além de Valeixo, a Rogério Galloro, Fernando Segovia, que permaneceu por apenas 3 meses, e Leandro Daiello.
Nesta quinta, Valeixo, em videoconferência com os 27 superintendentes regionais da PF nos estados, descartou com veemência que sua provável saída seja movida por pressões políticas e afastou rumores de que ela estaria relacionada à uma reação de aliados de Bolsonaro por causa de investigações que incomodam o Planalto.