Delator acertou com Walter Torre R$ 18 mi para ele desistir de obra
É o que revela em detalhes o empresário Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Christiani-Nielsen Engenharia, em sua delação premiada anexado aos autos da Operação Abismo – 31ª fase da Lava Jato, deflagrada nesta segunda-feira (4/7)
atualizado
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O acerto de propina de R$ 18 milhões para que a empresa WTorre desistisse da obra de ampliação do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), no Rio, foi feito pelo presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, e um dos donos da empresa, Walter Torre. É o que revela em detalhes o empresário Ricardo Pernambuco Júnior, da Carioca Christiani-Nielsen Engenharia, em sua delação premiada anexado aos autos da Operação Abismo – 31ª fase da Lava Jato, deflagrada nesta segunda-feira (4/7).
“O acerto final foi realizado pelo executivo Léo Pinheiro, da OAS, junto a Walter Torre, que aceitou a oferta de R$ 18 milhões em um encontro pessoal realizado num domingo”, registra os pedidos de prisão e busca e apreensão da Operação Abismo, com base na delação de Pernambuco Júnior e executivos do grupo.“O mesmo colaborador detalha ainda que, como conhecia Walter Torre em virtude de obra anterior em que consorciados, foi procurado pessoalmente pelo dirigente da WTorre e confirmou que o acordo por ele firmado com Léo Pinheiro seria cumprido, com pleno aval e conhecimento dos dirigentes das demais empresas consorciadas no Novo Cenpes.”
O consórcio era formado pelas empreiteiras OAS, Carioca, Construcap, Construbase e Schahin. A Operação Abismo aponta propina de pelo menos R$ 39 milhões do grupo, para vencer as obras do Cenpes, com parte desse dinheiro destinado também ao PT, via ex-tesoureiro Paulo Ferreira. A obra tinha valor de mais de R$ 800 milhões.
Os procuradores afirmam que as empresas cartelizadas foram “surpreendidas pelo oferecimento de melhor proposta por concorrente que não havia participado das tratativas”. Isso porque a empresa WTorre Engenharia e Construção S.A apresentou o menor preço para a obra, cerca de R$ 40 milhões abaixo do ofertado pelo Consórcio Novo Cenpes, classificando-se como primeira colocada no certame.”
Lula
Léo Pinheiro é o empreiteiro alvo da Lava Jato considerado um dos mais próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Desde o início do ano, ele negocia com a Procuradoria Geral da República (PGR) um acordo de delação premiada para contar o que sabe do esquema de corrupção na Petrobras e em outras áreas do governo.
Segundo o MPF, foi ele um dos principais responsáveis pelo acordo que se firmou para afastar a WTorre das obras da Cenpes. “Em virtude disso, as empresas integrantes do Consórcio Novo Cenpes resolveram oferecer aos dirigentes da WTorre uma vantagem econômica para que ela abrisse mão do certame”, explica a Procuradoria, em pedido enviado ao juiz federal Sérgio Moro.
“Os integrantes do Consórcio Novo Cenpes acordaram o oferecimento de R$ 18 milhões aos representantes da WTorre, Francisco Geraldo Caçador e Walter Torre Júnior, para que a empresa classificada em primeiro lugar não reduzisse o valor de sua proposta.”
O executivo da Carioca, que detinha 20% do consórcio Novo Cenpes, entregou dados da conta Cliver, no banco Delta, na Suíça, por meio da qual repassou propina para o operador Mário Góes, destinada a repasses para executivos da Petrobrás – ligados ao PT.
“Embora ainda seja preciso especificar a forma como se deu o pagamento dos R$ 18 milhões, os documentos do procedimento licitatório já demonstram que, em cumprimento ao acordo espúrio, a WTorre não ofereceu desconto e, em negociação direta com a Petrobrás, o Consórcio Novo Cenpes ofereceu preço menor ao da primeira colocada, sagrando-se vencedora da licitação”, suspeita a força-tarefa da Lava Jato. “Da mesma forma, há suficientes indícios do pagamento de valores indevidos à empresa WTorre ou a seus dirigentes a fim de possibilitar a prática dos crimes de cartel e fraude à licitação.”
O ex-diretor de Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró afirmou em sua delação premiada que Lula chegou a indicar a WTorre para a obra de um prédio da estatal no Rio.
Endereços da empresa e dos executivos foram alvos de buscas nesta segunda-feira, alvos da Operação Abismo.