Defesa de Moro quer depoimento presencial de Bolsonaro em apuração sobre PF
A única peça que ainda falta para a conclusão das investigações é justamente o posicionamento do presidente
atualizado
Compartilhar notícia
A defesa do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro espera que o presidente Jair Bolsonaro preste depoimento de forma presencial na investigação que apura denúncias de ingerência na Polícia Federal, estopim para que o ex-juiz deixasse o governo.
Embora a apuração esteja em uma fase interna de checagem de provas, o esclarecimento do presidente é o elemento que ainda falta para a conclusão das investigações, que estão sendo conduzidas pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Para a defesa de Moro, o ideal é que o depoimento do presidente seja tomado de forma presencial, com oportunidade para que os advogados de defesa possam também elaborar seus questionamentos ao presidente. Isso garantiria, no entender dos defensores, um tratamento equânime, já que o ex-ministro, ao comparecer para depor na Polícia Federal, também pode ser inquirido por representantes do presidente, que participaram do depoimento.
Neste caso, advogados do ex-ministro rechaçam a ideia de que Bolsonaro possa prestar depoimento por escrito, como foi autorizado a Michel Temer, em 2017, no inquérito que tratava de gravação feita pelo empresário Joesley Batista. Desta forma, as perguntas são formuladas pela Polícia Federal e enviadas ao presidente, que teria um prazo para responder.
Conclusão
O depoimento do presidente é o que falta para concluir as investigações e ainda não foi realizado, segundo informações da PF e da Justiça. “Esperamos que seja marcado e que seja feito no local e hora marcada pelo presidente, mas que possa ser acompanhado pelos advogados, como ocorreu com o ex-ministro”, disse o advogado Rodrigo Rios Sanchez, representante de Moro.
O ex-juiz foi o primeiro a prestar depoimento no caso. Ele apontou como prova de suas acusações a reunião do dia 22 de abril, na qual Bolsonaro disse que iria interferir na corporação para não “foderem a minha família toda”.
O presidente foi informado pela PF, por meio de ofício da delegada Christiane Correa Machado enviado ao ministro Celso de Mello, da necessidade de ser ouvido. Mello encaminhou o pedido para manifestação do Procurador-Geral da República, Augusto Aras.
Três ministros palacianos listados por Moro como testemunhas já foram ouvidos pela PF presencialmente no Planalto, com a participação dos advogados de Moro. São eles: Augusto Heleno (GSI), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).
Também prestaram depoimentos o ex-diretor-geral Maurício Valeixo, cuja exoneração foi pivô da saída de Moro do governo, o diretor da Abin Alexandre Ramagem, o delegado Carlos Henrique Oliveira, além de parlamentares apoiadores de Bolsonaro, como a deputada Carla Zambelli (PSL-SP).
Sigilo
Outra pessoa a prestar depoimento no caso foi o empresário Paulo Marinho, ex-aliado do presidente e suplente do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos). Ele chegou a ser ouvido três vezes pela PF, no Rio de Janeiro, e também entregou para a perícia celulares com mensagens trocadas com o clã Bolsonaro.
Os depoimentos de Marinho, no entanto, foram os únicos colocados em sigilo na investigação. Isso porque as informações também fornecem dados a outro inquérito, da polícia fluminense, que tem como alvo o senador Flávio, suspeito de liderar um esquema de desvios de recursos públicos que teria vigorado em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Marinho disse que um delegado simpatizante de Bolsonaro teria repassado a dica ao então candidato que seria deflagrada uma operação contra ele. O policial teria também informado que iria “adiar” a ação para depois do segundo turno das eleições de 2018.
No mês passado, a defesa do senador tentou ter acesso ao depoimento de Marinho, no entanto, o ministro Celso de Mello negou o pedido, atendendo requisição da Polícia Federal.