Defesa alega misoginia, machismo e racismo estrutural contra Flordelis
A Câmara vota nesta quarta-feira (11/8) o processo de cassação de mandato da deputada, que é acusada de mandar matar o marido
atualizado
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A defesa da deputada Flordelis (PSB-RJ) alegou nesta quarta-feita (11/8), durante a sessão destinada a julgar a cassação do mandato da parlamentar, que as acusações contra ela são marcadas pela “misoginia”, pelo “machismo” e pelo “racismo estrutural”. Os advogados pediram que os parlamentares esperassem a conclusão do processo no qual ela é acusada de mandar matar o marido para depois decidirem sobre seu mandato.
Ao se defender, a deputada apelou para os colegas de Câmara reafirmando que é inocente e que a verdade ainda virá à tona. Ela ainda acusou o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), de não ouví-la. Em seguida, passou a palavra para seus defensores. “Sejam justos, não me cassem”, implorou a parlamentar.
Racismo
O advogado Rodrigo Faucs apontou que a deputada tem visto sua história de vida sendo destruída desde que seu marido foi executado e que não tem tido oportunidades para se defender.
“O caso aqui hoje é uma mistura de perversidade histórica do nosso sistema, imperada por uma misoginia, machismo e um racismo estrutural”, disse o defensor.
“Eu admito, eu não tenho lugar de falar em questões faciais e de gênero, sou um homem branco, heterossexual de classe média, tive todos os privilégios inerentes a essas características, sou advogado, tenho doutorado, estou fazendo pós-doutorado, habilitado para atuar no Tribunal Penal Internacional, em Haia, sou privilegiado. O que não me impede de reconhecer nos meus proprios privilégios, perceber a crueldade e a desumanidade intrínseca daqueles que não são como eu”, argumentou o advogado.
“Hoje em dia, não se pode odiar negros, mas se pode odiar, como diria Djamila Ribeiro, os criminosos”, citou o advogado.
“Toda vida, Flordelis sofreu preconceitos severos, impotência tripla, uma mulher negra e oriunda da favela a deputada, Flordelis está com mais de 60 anos. Ela tem uma história linda de vida e a história dela, os fatos que aconteceram no decorrer da vida dela, não podem ser simplesmente apagados. É interessante perceber que a própria historia das marginalizadas, estigmatizadas, também sofre uma violenta tentativa de destruição”, argumentou.
“Perseguição”
Faucz alegou que Flordelis sofre perseguição política e religiosa. “Desde que seu marido foi assassinado, a imagem da Flordelis foi massacradas e concebida pelo prisma daqueles que são seus inimigos, de uma acusação leviana de adversários políticos e religiosos”, disse. “Esses detratores aproveitam para legitimar essa ojeriza e a cólera acumulada contra a deputada. Muda-se o rótulo, mas mantém a essência”, observou.
Outro defensor da parlamentar, Jader Marques, apontou que o pastor Anderson do Carmo violentava filhas de Flordelis. “O homem que a amava era uma abusador, ele acariciava as filhas dela de maneira asquerosa”, disse o advogado.
A deputada chegou a pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão do processo, mas a ministra Cármen Lúcia negou o recurso, alegando que não viu instrumentos legais para barrar a sessão. “Ausência de requisitos inconstitucionais e legais para o processamento válido desta ação”, escreveu a ministra.
Flordelis está no plenário acompanhada de dois advogados.
Para que a deputada tenha o mandato cassado, são necessários, pelo menos, 257 votos — a maioria absoluta dos parlamentares. A acusada, que nega participação no crime, entrou com mandado de segurança no STF para tentar impedir a votação.
Flordelis não pôde ser presa por causa da imunidade parlamentar — segundo a qual somente flagrantes de crimes inafiançáveis são passíveis de prisão.