Decotelli: “Há muitos brancos com imperfeições em currículo trabalhando”
O ex-ministro da Educação atribuiu ao racismo o desgaste provocado ao governo pelas inconsistências em seu histórico acadêmico
atualizado
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Exonerado do Ministério da Educação após virem à tona uma série de inconsistências em seu currículo, o ex-ministro Carlos Alberto Decotelli, em entrevista ao Uol, atribuiu ao racismo o desgaste gerado para o governo pelos títulos inexistentes em sua ficha profissional.
“Há muitos brancos com imperfeições em currículo trabalhando sem incomodar ninguém”, disse Decotelli, nomeado para o cargo na semana passada, mas que pediu demissão na tarde dessa terça-feira (30/06) após a deflagração de uma crise pelas revelações das falsas informações.
O presidente Jair Bolsonaro aceitou a carta de demissão apresentada por Decotelli, que ficou cinco dias no cargo. Ele foi o terceiro ministro da Educação de Bolsonaro em 1 ano e meio de governo. Apesar de a nomeação ter sido publicada em Diário Oficial da União na quinta-feira (25/06), ele não chegou a tomar posse.
A cerimônia, prevista para essa terça foi cancelada na segunda (29/06) após a revelação de inconsistências no currículo do ministro.
Gota d’água
A gota d’água foi a nota da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgada na noite de segunda, informando que Decotelli não foi pesquisador ou professor da instituição.
O presidente Jair Bolsonaro ficou irritado ao saber de mais uma incoerência no currículo do indicado, que já teve doutorado e pós-doutorado questionados por universidades estrangeiras e é acusado de plágio no mestrado. A partir daí, o governo então passou a pressioná-lo para que apresentasse a carta de demissão.
O ex-ministro disse ainda que a FGV atuou por “interesses obscuros, não declarados, na intenção de apoiar outro ministro a ser indicado”.
Ele também afirmou ter ministrado sua última aula pela instituição, na disciplina de Administração de Recursos de Longo Prazo no MBA de Finanças, na noite de terça e que pediu o desligamento da instituição. “Destruído e massacrado na minha integridade como professor”, disse o ex-ministro.
“Mesmo assim, após o ocorrido, lecionei ontem à noite utilizando a plataforma Zoom, em respeito aos alunos, que não têm culpa da fraude da FGV”, ressaltou.
Homenagens
Depois de a FGV ter emitido nota dizendo que ele não era professor na instituição e encerrado as chances de sua permanência na pasta, Decotelli divulgou placas de homenagens recebidas por ele como docente.
Em nota, a FGV afirmou que Decotelli “atuou apenas nos cursos de educação continuada, nos programas de formação de executivos, e não como professor de qualquer das escolas da Fundação”. Nestes cursos, professores atuam como pessoa jurídica.