Bolsonaro entra na mira no último debate antes do 1º turno
Apenas o candidato do Podemos, Alvaro Dias, poupou ataques ao deputado federal. Encontro entre presidenciáveis ocorreu na TV Globo
atualizado
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Ausente, Jair Bolsonaro (PSL) foi alvo de críticas de adversários no último debate da corrida presidencial realizado antes do primeiro turno eleitoral, marcado para o próximo domingo (7/10). A falta do candidato ao programa promovido pela TV Globo na noite desta quinta (4) ocorreu por proibição da equipe médica que o atendeu depois de ele sofrer um atentado em 6 de setembro. No entanto, no momento em que o debate da Globo ia ao ar, a RecordTV exibiu entrevista com o peesselista.
Dos 7 participantes, 6 atacaram o deputado federal e líder nas pesquisas de intenção de votos. Segundo eles, se o candidato teve condições de conceder entrevista, Bolsonaro também poderia ter enfrentado o embate de ideias com seus opositores. Apenas Alvaro Dias (Podemos) poupou críticas ao presidenciável do PSL.
Marina Silva (Rede) disse que Bolsonaro “amarelou”. “Eu ia fazer uma pergunta para o candidato Bolsonaro, que mais uma vez amarelou. Ele deu uma entrevista para a Record e não veio aqui debater conosco”, disse.
“Suspendi minha campanha quando houve o atentado. Fiquei muito mal. Ele está de alta, deu entrevista e fugiu. Você acha correto um homem que quer ser presidente do Brasil fugir do debate?”, questionou Ciro Gomes (PDT) a Henrique Meirelles (MDB).
“O eleitor merece respeito. Se alguém foge de debate, se esconde e só vai dar entrevista em situação de absoluto controle, mostra que essa pessoa não tem condições de administrar o país”, respondeu o emedebista.
Ciro estendeu as críticas à equipe de campanha de Bolsonaro. “O que me assusta não é a mentira. É Bolsonaro, Mourão e Guedes brigando na véspera da eleição. Você imagina que isso vai dar certo depois da eleição?”, completou o pedetista.
Fernando Haddad (PT) associou Bolsonaro ao governo do presidente Michel Temer. “Ele aprovou todas as pautas do governo Temer. A campanha dele agora quer acabar com 13º salário, bonificação de férias, aumentar imposto de renda de pobres e trazer de volta a CPMF”.
Geraldo Alckmin (PSDB) aproveitou para provocar o Partido dos Trabalhadores: “O país não vai voltar a crescer com a irresponsabilidade do PT. Nem PT e nem Bolsonaro vão recuperar o Brasil”.
Guilherme Boulos (PSol), que fez um discurso contrário ao regime militar, disse que Bolsonaro faltou ao debate por não ter o que dizer aos brasileiros. “Não tem como não dizer da ausência do Bolsonaro. Ele teria todas as condições de estar aqui. Já deu entrevistas e dará hoje para outro canal. Não veio hoje porque não tem o que responder, por exemplo, sobre seu vice [general Hamilton Mourão] ser contra 13º salário e férias”, destacou.
Marina x Haddad
Logo após as críticas, a candidata da Rede comparou o PT com Bolsonaro, pois, segundo ela, ambos colocam o país numa situação de polarização ao disseminar o ódio. Haddad respondeu que Marina Silva não estava sendo justa.
“Represento um projeto que deu certo. Lula governou para todos e saiu do governo com 80% de aprovação. Ele não disseminou ódio. Governou olhando para os mais pobres. É o que pretendo fazer a partir de 1º de janeiro: reabrir o Palácio do Planalto para os pobres”, disse o petista.
Marina retrucou afirmando ser lamentável que o petista não reconheça os erros do seu partido. “Vocês têm um projeto de poder, temos que pensar no país”, disparou.
Na tréplica, Haddad novamente cobrou correção da candidata. Disse que, em entrevistas, tem reconhecido erros e que ajustes devem ser feitos. “Mas não vou jogar a criança com a água do banho (…). Vivo de salário, sou professor universitário, tenho ética, história, tenho uma vida pública sem reparos. Na minha vida é trabalho e educação”, destacou.
Sete candidatos participam deste último debate: Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSol), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede).
Início morno
O debate da TV Globo começou frio e sem grandes polêmicas. O candidato do Podemos, Alvaro Dias, bem que tentou, mas não conseguiu polarizar com Fernando Haddad durante o primeiro bloco. Só o fez no segundo, quando teve a oportunidade de escolher a qual adversário poderia direcionar uma pergunta.
O senador do Paraná chamou o petista de “representante de presidiário”, em alusão ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse que o PT é uma organização criminosa e indicou falhas na gestão petista.
“Vocês são uma brincadeira governando. Aliás, quando você estava no Ministério da Educação, fazia parecer que estava na Dinamarca”, declarou Alvaro. Haddad então respondeu: “O senhor está atrapalhado em relação a tempo e espaço. Não sabe o quanto fizemos à frente do Ministério da Educação”.
Outro ponto de destaque ocorreu com Ciro Gomes e Marina Silva falando sobre o risco de ingovernabilidade caso Jair Bolsonaro ou Haddad cheguem à Presidência. Tanto Ciro quanto Marina aproveitaram para se “vender” como melhores opções “para construir um país diferente”.
Além disso, a dobradinha promovida por Haddad com Guilherme Boulos (PSol) também chamou atenção. O petista questionou o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) sobre o que ele achava das candidaturas de Bolsonaro, Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles. Boulos, no entanto, abordou temas ligados aos direitos humanos, lembrando episódios relacionados ao regime militar.
“Faz 30 anos que este país deixou a ditadura, mas acho que a gente não está tão perto daquele momento. Se estamos aqui hoje, é porque teve gente que deu a própria vida para isso”, disse o candidato do PSol, emocionado.
“O que acontece hoje no Brasil é um descalabro. Todo dia é uma notícia ruim para o país”, completou Haddad, em indireta a Bolsonaro.
No tema Transportes, Alckmin questionou Marina sobre suas propostas para resolver os problemas de logística que elevam o custo-Brasil. Marina respondeu que, quando ministra do Meio Ambiente, teve a oportunidade de fazer os enfrentamentos mais difíceis.
“Tenho a exata noção da dificuldade que temos na infraestrutura do Brasil. Vamos trabalhar diferentes modais e criar ou recuperar rodovias. Vamos investir em hidrovias e em ferrovias, que é o transporte mais barato e ambientalmente mais sustentável”, afirmou.
Alckmin disse que vai desenvolver um grande projeto de obras e prometeu trazer investimentos privados. “Nossa prioridade é emprego, emprego e emprego (…). Integrar modais rodoviários, nas grandes cidades, como metrô e trem, para dar qualidade de vida para a família poder chegar mais cedo em casa”, prometeu o tucano.
Marina rebateu ressaltando que, quando chegou ao Ministério do Meio Ambiente, havia muitos projetos parados da época do governo do PSDB. “A infraestrutura do nosso país pode ser trabalhada com a iniciativa privada, mas tem que se ouvir a população local. Nós temos capacidade técnica e autoridade para debater com a sociedade qual projeto deve ser feito”, observou.
Drogas
Ciro questionou Boulos a respeito do tema. O candidato do PSol disse que, no país, procura-se resolver o problema das drogas como se o comando do crime organizado estivesse num barraco de favela. “Está mais perto do Congresso ou da indústria das armas”, acusou Boulos.
“Essa ideia que usuário de drogas tem de ser tratado com porrada, com bomba, está superada em todo o mundo. Tem que mudar aqui também. A ideia do Bolsonaro de que tem de prender mais, dar mais armas, polícia, não resolve nada. Droga não é caso de Código Penal. É caso de saúde pública, do SUS”, emendou o candidato do PSol.
Ciro Gomes fez dobradinha com Boulos em mais um ataque a Bolsonaro. Ele afirmou que a empresa armamentista Taurus obteve um acréscimo em suas ações de 180% em dois meses. “Enquanto o trabalhador tem aumento da poupança de 6% ao ano, quem especulou com ações da fábrica de armas ganhou 180% em 60 dias. Esse é um país assaltado. Tudo em cima do discurso de um candidato que faltou ao debate e que fala nisso o tempo todo. Eu queria tirar a máscara dele aqui”, atacou Ciro.
Ausências
Jair Bolsonaro, candidato pelo PSL, foi convidado. Mas os médicos que o acompanham na recuperação do atentado que sofreu, no dia 6 de setembro, vetaram sua ida aos estúdios da emissora.
A Globo não convidou para o encontro o Cabo Daciolo (Patriota). A emissora alega que, segundo documento publicado no site do TSE, o partido do militar “não tem representatividade mínima necessária” exigida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que é de cinco integrantes no Congresso Nacional.
Regras
O debate desta quinta (4) foi dividido em quatro blocos e as regras foram acordadas com os representantes dos candidatos. O primeiro e o terceiro blocos serão de temas livres. Já o segundo e o quarto abordaram assuntos determinados, sorteados pelo mediador, o apresentador do Jornal Nacional, William Bonner.
As perguntas foram feitas sempre de candidato para candidato. Os presidenciáveis tiveram 30 segundos para fazer as perguntas, um minuto e meio para resposta, um minuto para réplica e um minuto para tréplica.
A ordem das perguntas e o posicionamento dos candidatos no cenário do debate foram definidos por sorteios prévios.