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De símbolo de coragem a idiota: a trajetória de Moro segundo Bolsonaro

O ex-juiz federal chegou ao governo Bolsonaro como “superministro”. Hoje, já de olho em 2022, o presidente o chama de “palhaço” e “idiota”

atualizado

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Jair Bolsonaro e Sergio Moro
1 de 1 Jair Bolsonaro e Sergio Moro - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Desde que deixou o governo, em 24 de abril do ano passado, Sergio Moro tornou-se um dos maiores desafetos do presidente Jair Bolsonaro (PL). O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública deixou o cargo acusando o chefe do Executivo de interferir na Polícia Federal. A denúncia resultou na abertura de um inquérito, no Supremo Tribunal Federal (STF), para investigar o caso, que segue em andamento.

A demissão do ex-ministro foi motivada pela exoneração de Maurício Valeixo, então diretor-geral da PF. Valeixo era homem de confiança de Moro e chegou à direção da PF indicado pelo próprio ex-juiz. Quando o presidente pediu a troca no comando da corporação, o então ministro tentou intervir, mas, sem sucesso, acabou pedindo demissão. Saiu atirando contra Bolsonaro.

Antes de deixar o primeiro-escalão de Bolsonaro, no entanto, Sergio Moro era chamado pelo presidente de herói nacional, “símbolo de coragem e patriotismo” e do combate à corrupção.

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A união dos dois se deu pela forte oposição ao ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Presidente Jair Bolsonaro e o então ministro Sergio Moro
Outrora aliados, Bolsonaro e Moro trocam críticas públicas frequentemente
No fim de agosto de 2019, Bolsonaro ameaçou tirar Maurício Valeixo, chefe da Polícia Federal indicado por Moro, do cargo de direção da corporação
“Ele é subordinado a mim, não ao ministro, deixar bem claro isso aí”, afirmou, na época, o presidente
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Após 22 anos de magistratura, o ex-juiz Sergio Moro, conhecido por conduzir a Lava Jato, firmou aliança com Bolsonaro e assumiu a condução do Ministério da Justiça, em 2019

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A união dos dois se deu pela forte oposição ao ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

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Presidente Jair Bolsonaro e o então ministro Sergio Moro

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Outrora aliados, Bolsonaro e Moro trocam críticas públicas frequentemente

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No fim de agosto de 2019, Bolsonaro ameaçou tirar Maurício Valeixo, chefe da Polícia Federal indicado por Moro, do cargo de direção da corporação

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“Ele é subordinado a mim, não ao ministro, deixar bem claro isso aí”, afirmou, na época, o presidente

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Em 24 de abril de 2020, Bolsonaro exonerou Valeixo do comando da PF e Moro foi surpreendido com a decisão

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Sergio Moro critica o presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma entrevista ao Estadão

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Para o senador, Moro não representa um adversário forte por não integrar o cenário político e não possuir o "exército de seguidores" de Bolsonaro

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Em novembro, o ex-juiz retorna ao Brasil e se filia ao partido Podemos. Pela sigla, lançou-se pré-candidato à Presidência da República

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A relação, antes amigável, torna-se insustentável. Em entrevistas e nas redes sociais, Moro e Bolsonaro protagonizam trocas de farpas

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Moro ganhou visibilidade nacional por ter sido o juiz responsável pelos processos da Operação Lava Jato na primeira instância. Ele era juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, que é especializada em crimes financeiros e de lavagem de dinheiro.

A operação foi deflagrada em 2014 e começou as investigações com suspeitas de lavagem de dinheiro em um posto de combustíveis de Brasília, até chegar a um esquema de fraude, corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobras.

Na Lava Jato, Moro foi responsável por sentenciar 46 processos, nos quais 140 pessoas foram condenadas. Entre elas, está o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O STF, contudo, decidiu que Moro cometeu sérios erros na condução dos processos e foi considerado parcial contra o petista, o que derrubou as condenações de Lula.

Bolsonaro e Moro: a chapa imbatível

O currículo do ex-juiz chamou a atenção de Bolsonaro, que, antes de convidar Moro para fazer parte de seu governo, ainda em 2018, já fazia elogios públicos a ele.

“O juiz Sergio Moro é um símbolo aqui no Brasil. Eu costumo dizer que é um homem que perdeu sua liberdade no combate à corrupção. Ele não pode mais ir à padaria sozinho ou ir passear com a família no shopping sem ter aparato de segurança ao lado. É um homem que tem que ter o trabalho reconhecido”, disse o presidente em 29 de outubro de 2018, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo.

Na mesma entrevista, o então candidato à Presidência disse que pretendia convidar Moro para assumir o Ministério da Justiça ou então indicá-lo para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).

“Na qual melhor ele achasse que poderia trabalhar para o Brasil. Um homem com passado exemplar no combate à corrupção, em qualquer uma das duas casas ele levaria avante sua proposta. A corrupção tem que ser banida do Brasil, ninguém suporta mais conviver com essa prática tão nefasta”, prosseguiu Bolsonaro.

Já no governo e considerado o ministro mais bem avaliado no primeiro ano de Bolsonaro no Planalto, Moro foi novamente elogiado pelo chefe do Executivo federal. O ano de 2019 foi repleto de manifestações de afeição ao trabalho do então chefe da Justiça.

Em sua primeira vez na abertura da Assembleia Geral da ONU, realizada em Nova York, em setembro daquele ano, Bolsonaro elogiou a “coragem” de Moro no combate à corrupção e afirmou que o então ministro era um “símbolo” do Brasil.

“Os presidentes socialistas que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e do parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto. Foram julgados e punidos graças ao patriotismo, perseverança e coragem de um juiz que é símbolo do meu país, Sergio Moro, que é ministro da Justiça e da Segurança Pública”, afirmou o mandatário do país.

Durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais, em 26 de dezembro de 2019, o presidente disse que o Brasil estaria em boas mãos se Sergio Moro fosse candidato à sua sucessão, em 2022. De acordo com ele, o ex-juiz era “adorado no Brasil” e possuía um “potencial enorme”.

“O Moro tem um potencial enorme. Ele é adorado no Brasil. Pessoal fala que ele deve encarar como presidente. Se o Moro vier, que seja feliz, não tem problema, vai estar em boas mãos o Brasil.”

Dias antes, em entrevista à revista Veja, o presidente admitiu a possibilidade de formar uma chapa com o então ministro da Justiça nas próximas eleições.

“Tem de ver se ele [Moro] quer. Nunca entrei em detalhes com ele sobre esse assunto. Mas seria uma chapa imbatível”, declarou Bolsonaro.

O ego de Moro

Horas depois de Sergio Moro ter pedido demissão do governo alegando interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, em abril do ano passado, o presidente convocou um pronunciamento, no Palácio do Planalto.

Acompanhado do time de ministros e aliados, o chefe do Executivo negou interferência e disse que o ex-ministro da Justiça afirmou a ele que aceitaria a troca na Diretoria-Geral da PF depois que fosse indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal.

Em sua fala, Bolsonaro também disse que Moro tinha compromisso “com o próprio ego”, “consigo próprio” e “não com o Brasil”. O presidente afirmou ainda que, se Moro gostaria de ter “independência e autoridade”, deveria ser candidato.

“Sabia que não seria fácil. Uma coisa é você admirar uma pessoa. A outra é conviver com ela, trabalhar com ela. Hoje pela manhã, por coincidência, tomando café com alguns parlamentares, eu lhes disse: ‘Hoje, vocês conhecerão aquela pessoa que tem compromisso consigo próprio, com seu ego e não com o Brasil. Hoje, essa pessoa vai buscar uma maneira de botar uma cunha entre eu e o povo brasileiro. Isso aconteceu há poucas horas'”, declarou o presidente, em referência à demissão e às acusações feitas por Moro na entrevista em que confirmou seu desembarque do governo.

Os meses seguintes à demissão de Moro foram de ataques de Bolsonaro ao ex-ministro. Em maio de 2020, o presidente disse que o ex-juiz cometeu “crime federal” ao divulgar conversas privadas que teve com o chefe do Executivo.

“Eu confiava nele, passava extrato de informações. Como um presidente, me sinto chateado”, lamentou Bolsonaro.

No mesmo mês, o presidente lamentou que Moro tenha chegado “ao final da carreira”. Durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais, ele foi questionado se considerava o ex-ministro um “traidor”.

“Olha, eu não vou polemizar nessa área. Eu lamento que o final da carreira dele tenha sido dessa forma”, respondeu Bolsonaro.

Palhaço, mentiroso, sem caráter

Quando Sergio Moro estava prestes a se filiar ao Podemos para disputar as eleições presidenciais de 2022, Bolsonaro disse que o ex-ministro “sempre teve um propósito político” para além do cargo no primeiro escalão do governo.

“Olha, aí que você começa a entender um pouco mais as coisas, né? Começa a entender o que eu passei com o ministro Sergio Moro. Ele sempre teve um propósito político. Nada contra, mas fazia aquilo de forma camuflada. Ele tinha a intenção, sim, de ir para o Supremo [Tribunal Federal]”, afirmou o presidente.

Se antes era aclamado por Bolsonaro, hoje Moro é tratado ora com desdém, ora com raiva escancarada pelo presidente. O chefe do Executivo tem aproveitado suas conversas diárias com apoiadores, no Palácio da Alvorada, para criticar o ex-juiz.

“Não tenho acompanhado esse cara, não”, disse em novembro último. “Ficou comigo [no Ministério da Justiça] um ano e pouco aí. Eu quero ver ele num carro de som falando com o povo. Só isso e mais nada. Não vou criticar ninguém, não.”

Em uma das declarações mais recentes sobre Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro rebateu uma declaração do ex-ministro, na qual disse que o chefe do Executivo federal comemorou ao saber que o ex-presidente Lula foi solto, em 2019.

“Um assunto que eu não queria tocar aqui porque mexe com ex-ministro, mas esse cara está mentindo descaradamente. E o cara quer ser candidato. É um direito dele. E em vez de ele mostrar o que ele fez [durante o governo], ele fica só apontando dedo para os outros e mentindo. É o caso do Sergio Moro aqui”, disse Bolsonaro, durante sua transmissão ao vivo nas redes sociais.

“A última notícia dele é: ‘Bolsonaro comemorou quando Lula foi solto, diz Moro’. E no vídeo ele fala ‘ouvi dizer’. É um papel de palhaço, um cara sem caráter. Está se comportando como jornalista da Folha de S.Paulo ou do Antagonista. Aprendeu rápido, hein, Sergio Moro? Aprendeu rápido com a velha política. Pelo amor de Deus, cara. Falta de caráter. Saiu pelo governo pelas portas dos fundos, traindo a gente…”, prosseguiu.

Propósito político

Sergio Moro se filiou ao Podemos em novembro deste ano, a pouco menos de um ano das eleições de 2022. O ex-juiz não anunciou oficialmente a qual cargo pretende concorrer no pleito, mas o evento de filiação o definiu como “o futuro presidente da República”.

“Embora tenha muita gente boa na política, nós não vemos grandes avanços. Após um ano fora, eu resolvi voltar. Não podia ficar quieto, sem dizer o que penso, sem tentar, mais uma vez, com vocês, ajudar o Brasil. Então, resolvi fazer do jeito que me restava, entrando na política, corrigindo isso de dentro para fora”, disse.

Na última terça-feira (7/10), depois de dizer que Moro não aguentaria 10 segundos de debate, Bolsonaro voltou a atacar o ex-juiz. Em conversa com apoiadores, o chefe do Executivo federal disse que, agora, Moro “tem solução para tudo”, mesmo tendo passado mais de um ano “sem abrir a boca” como ministro.

“Veio um idiota agora, não vou falar o nome dele, e disse: ‘Ah, comigo a economia vai ser inclusiva, sustentável…’”, debochou Bolsonaro.

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