De olho nos votos do impeachment, Dilma troca ministro do Esporte
Troca se deu para evitar o rompimento definitivo com o PRB. 24 horas depois, o contrato de publicidade da pasta – no valor de R$ 44 milhões – foi prorrogado sem licitação, medida que beneficiou um empresário ligado ao partido
atualizado
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De olho nos votos do impeachment, a presidente Dilma Rousseff aceitou trocar o ministro do Esporte na quarta-feira passada (30/3) para evitar o rompimento definitivo com o PRB. Vinte quatro horas depois, o contrato de publicidade da pasta – no valor de R$ 44 milhões – foi prorrogado sem licitação, medida que beneficiou um empresário ligado ao partido. Entre as duas empresas contempladas está a Fields Comunicação, cujo proprietário, o publicitário Sidney Campos, já foi filiado ao PRB e mantém amizade com lideranças do PC do B, como o atual deputado federal Orlando Silva (SP), que foi ministro do Esporte entre 2006 e 2011, nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Campos foi uma espécie de entusiasta do ingresso do PRB no Ministério do Esporte, em janeiro de 2015. Como suas empresas prestam serviço na pasta desde 2008, ele não teve dificuldades para ajudar a promover “uma parceria sem traumas” entre os comunistas e os evangélicos do PRB – partido fundado por integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus após o mensalão O próprio Campos é evangélico e já trabalhou para a filiada em Brasília da TV Record, cujo dono é o bispo Edir Macedo, fundador e principal líder da Universal.
Na semana passada, Dilma chegou a pedir a Macedo que intercedesse no PRB para convencer a bancada a votar contra o impeachment. Os dois falaram por telefone. Na conversa, o bispo disse que o interlocutor da sigla era Marcos Pereira, o presidente nacional do PRB. Uma má notícia para Dilma. Isso porque, no último dia 16, fora Pereira o principal responsável por articular o rompimento do partido com o governo. Para voltar atrás, ele cobrou de Dilma a demissão de George Hilton, deputado eleito pelo PRB que chegara ao comando do Esporte em janeiro de 2015.
Ao longo do ano passado, Pereira e Hilton se desentenderam, e o dirigente partidário começou a jogar a bancada contra o ministro Hilton tentou se segurar no cargo migrando para o PROS. Contudo, para tentar reverter os votos do PRB, Dilma resolveu ceder a Pereira. Ele, porém, preferiu não indicar um filiado do partido para o Esporte a fim de “não se desmoralizar”, segundo contou um deputado da sigla.
Pereira, então, sugeriu um nome que agradava ao PRB e ao PC do B ao mesmo tempo: Ricardo Leyser, que já havia sido secretário executivo do ministério e até a semana passada era o secretário Nacional de Esporte de Alto Rendimento. Leyser é filiado ao PC do B.
“Como vai ter Olimpíada neste ano, eu sugeri o Ricardo, o Aldo Rebelo (ex-ministro do Esporte e atual ministro da Defesa) ou o Edinho Silva (atual ministro da Secretaria de Comunicação Social)”, contou Pereira ao Estado. Apesar de ter defendido o rompimento com Dilma, ele afirmou que o partido é “independente” “Não somos oposição”, ressaltou.
Até a última sexta-feira, três dos quatro principais cargos da pasta ainda eram ocupados por filiados ao PRB. “Mas eles deverão sair”, garantiu Pereira. Apesar de ter já defendido o impeachment de Dilma, ele afirmou que a bancada só deverá tomar um posicionamento oficial “nas próximas semanas” – discurso similar a PSD, PP e PR, que negociam mais espaço na Esplanada dos Ministérios. Nas contas do Palácio do Planalto, Dilma tem esperança de contar com pelo menos 11 dos 22 votos do PRB. Trata-se do mesmo número de deputados que são ligados à Universal.
Sentado na cadeira
Na sexta-feira, um dia após a renovação do contrato da sua empresa com o Ministério do Esporte, o publicitário Sidney Campos esteve na pasta para uma reunião. Conforme apurou o Estado, ele chegou a se sentar por alguns instantes na cadeira do novo ministro Ricardo Leyser.