Datafolha: maioria dos brasileiros não acredita nas falas de Bolsonaro
Segundo o estudo, o índice de desconfiança total da população com as declarações do presidente é de 55%. Percentual é o maior já registrado
atualizado
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Pesquisa Datafolha aponta que mais da metade dos brasileiros não acredita em nada do que é dito pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo o estudo, o índice de desconfiança total da população com as falas do mandatário do país é de 55%.
A pesquisa passou a aferir o índice em agosto de 2019. Neste ano, o estudo foi realizado pelo instituto entre 7 e 8 de julho e divulgado neste sábado (10/7).
Os números apontam que o descrédito saltou de 50% para 55% no período de um ano (2020-2021). Ainda conforme o levantamento, 15% dos brasileiros acreditam em tudo que é dito pelo presidente, enquanto 28% entendem que Bolsonaro é crível às vezes.
Impeachment
Mais cedo, em outra pesquisa, o Datafolha indicou apoio da maioria dos brasileiros à abertura do processo de impeachment do presidente. É a primeira vez que o instituto registra essa opinião, desde que começou a questionar a população sobre esse assunto em abril de 2020.
Ao todo, para este levantamento, foram entrevistadas presencialmente 2.074 pessoas maiores de 16 anos, em todo o país, nos dias 7 e 8 de julho. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.
Desse total, 54% se posicionaram a favor do processo que deve ser iniciado pela Câmara dos Deputados, ante 42% que são contrários à iniciativa.
Na pesquisa anterior, realizada em 11 e 12 de maio, aqueles que apoiavam o impedimento do presidente ultrapassaram numericamente os que desaprovam a ação, mas ainda constava empate técnico, em 49% a 46%. Na nova pesquisa, essa diferença aumentou.
O levantamento reflete o agravamento da crise política que acompanha a tragédia sanitária decorrente da pandemia da Covid-19, que fez mais de 530 mil vítimas até o momento. A imagem do governo perante a população tem se deteriorado no rastro das investigações sobre as decisões do governo federal na pandemia, realizada pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado.
Denúncias de corrupção envolvendo integrantes do governo, como o líder na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), e negociações obscuras de vacinas que não foram entregues compõem o cenário de desgaste de Bolsonaro.
Manifestações
Somam-se a isso o aumento da frequência e amplitude dos protestos de rua contra o presidente, além do superpedido de impeachment entregue ao Congresso em 30 de junho.
O documento conta com as assinaturas de políticos de diferentes campos ideológicos, como o deputado liberal Kim Kataguiri (DEM-SP), a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PT-PR), e a ex-bolsonarista Joyce Hasselmann (PSL-SP).
A decisão sobre o encaminhamento do processo de impedimento de Bolsonaro cabe ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), prócer do centrão, aliado de Bolsonaro, que até o momento não sinalizou nessa direção.
Segundo a pesquisa do Datafolha, o perfil que mais defende o impeachment é composto por mulheres (59%), jovens (61%), mais pobres (60%, no grupo mais volumoso da estratificação econômica da pesquisa, 57% da amostra) e moradores do Nordeste (64%).
Os índices mais altos de quem aprova o impeachment são encontrados entre os que se declaram pretos (65%) e homossexuais ou bissexuais (77%).
Com relação ao apoio ao presidente, o perfil se mantém representado pelos mais velhos (49% de rejeição a processo), evangélicos (56%), quem ganha de 5 a 10 salários mínimos (62%), mais ricos (59%) e empresários (68%, mas um grupo com apenas 2% da amostra).
O histórico da pesquisa se repete quanto ao recorte regional. A rejeição ao impedimento de Bolsonaro ganha por 52% a 46% no Norte e Centro-Oeste. No Sul ela registra empate, com 49% para cada lado — essas ainda são as regiões mais bolsonaristas do país.