Da honraria às críticas. Entenda a briga de Carlos e general Mourão
Lula, Olavo de Carvalho, Bebianno, facada de Bolsonaro, crise na Venezuela, Jean Wyllys e até uma palestra nos EUA desencadearam o conflito
atualizado
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Os sete meses de uma relação com altos e baixos entre o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão (PRTB), atingiu o nível máximo de tensão nessa semana. As rusgas entre os dois deixaram os bastidores do Palácio do Planalto – onde habitavam de forma calada – e ganharam as redes sociais em uma série de mais de 10 posts.
A última publicação teve a ver com a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de reduzir a pena de prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no processo do triplex do Guarujá, no litoral paulista. Questionado, Mourão afirmou: “Decisão do Judiciário a gente não comenta”. A fala foi alvo de críticas do filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL). “Tirem suas conclusões…”, reclamou no Twitter.
Tirem suas conclusões…. de novo e de novo e de novo e de novo: https://t.co/suk3kLJ5yN
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) April 24, 2019
Antes de Lula, houve outras situações de tensão entre os dois. Olavo de Carvalho, Gustavo Bebianno, a facada do presidente Jair Bolsonaro (PSL), a crise na Venezuela, o ex-deputado federal Jean Wyllys (PSol-RJ) e até uma palestra nos Estados Unidos colocaram Carlos e Mourão em lados antagônicos.
Apesar do entrevero, a relação, lá atrás, esteve menos tensionada. O vereador carioca chegou a assinar, em fevereiro, um requerimento na Câmara Municipal do Rio de Janeiro para que o general Mourão recebesse a Medalha Pedro Ernesto – principal homenagem que o Rio presta a quem mais se destaca na sociedade.
Assinando pedido de colega para oferecer a Medalha Pedro Ernesto para o Grande @GeneralMourao . ?? pic.twitter.com/0rCjIUW8vI
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 15 de fevereiro de 2019
Passado o breve momento de trégua, o duelo voltou à tona.
O começo da crise
As primeiras críticas abertas, iniciadas nessa semana, ecoaram ataques anteriores do guru do vereador, o escritor Olavo de Carvalho. O segundo filho do presidente da República relembrou o atentado sofrido pelo pai na campanha presidencial, quando o então candidato foi esfaqueado, durante agenda em Minas Gerais.
Com o presidenciável hospitalizado, Mourão tentou tocar a campanha, inclusive participando de debates. A movimentação política do general desagradou Carlos posteriormente.
Naquele fatídico dia em que meu pai foi esfaqueado por ex-integrante do PSOL e o tal de Mourão em uma de suas falas disse que aquilo tudo era vitimização. Enquanto um homem lutava pela vida e tentava impedir que o Brasil caísse nas garras do PT, queridinhos da imprensa opinavam: pic.twitter.com/mAPVVvKAiR
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) April 23, 2019
Na época, em entrevista à imprensa, Mourão falou: “Esse troço já deu o que tinha que dar. É uma exposição que eu julgo que já cumpriu sua tarefa. Ele [Bolsonaro] vai gravar vídeo do hospital, mas não naquela situação, não propaganda. Vamos acabar com a vitimização, chega”.
Antes disso, porém, a demissão do ex-ministro Gustavo Bebianno já havia colocado os dois em lados opostos. Envolvido em um suposto esquema de desvio de verba pública eleitoral, Bebianno afirmou que continuava despachando com o presidente normalmente após a denúncia. Carlos, no Twitter, desmentiu a informação. Depois, áudios revelaram conversas entre Bolsonaro e o ex-ministro.
Ontem estive 24h do dia ao lado do meu pai e afirmo: “É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro para tratar do assunto citado pelo Globo e retransmitido pelo Antagonista.” pic.twitter.com/AqzZ0YPNOO
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 13 de fevereiro de 2019
Mourão foi crítico à postura de Carlos. “Roupa suja se lava em casa”, disse, ressaltando que “futriquinhas” eram ruins para o governo. O “chega para lá” do general não agradou. Carlos, então, reclamou nas redes sociais.
Não há roupa suja a ser lavada! Apenas a verdade: Bolsonaro não tratou com Bebiano o assunto exposto pelo O Globo como disse que tratou: pic.twitter.com/pJ4bkvMMGj
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 13 de fevereiro de 2019
Essa foi a primeira crítica do vereador endereçada ao vice depois da postagem sobre a condecoração que ele havia assinado, a ser dada pela Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.
Olavo de Carvalho, palestra, Venezuela e Jean Wyllys
Em mais um entrevero, Carlos se incomodou após o vice-presidente rebater críticas do escritor Olavo de Carvalho aos militares. O general disse que Olavo deveria “se concentrar na função de astrólogo”. Seguidor assíduo do escritor, na sequência Carlos replicou um post da jornalista Raquel Sherazade, no qual ela critica Bolsonaro e elogia Mourão. O general curtiu a postagem. “Tirem suas conclusões”, alfinetou Carlos.
Tirem suas conclusões: pic.twitter.com/48x9xRpWCX
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) April 23, 2019
Pouco depois, Carlos trouxe à tona uma cópia do convite para que o general Mourão fizesse uma palestra no Instituto Wilson Center, nos Estados Unidos. O convite aponta o vice-presidente como uma “voz moderada” no governo. O texto ressalta as “sucessivas crises geradas pelo próprio círculo interno do presidente”. Isso bastou para Carlos voltar às redes sociais: “Se não visse, não acreditaria que aceitou com tais termos”.
Tradução “so que parece ser” convite ao vice presidente para palestra nos EUA e convidados-se não visse não acreditaria que aceitou com tais termos (que pode ser conferido no próprio site da empresa) / já que desta vez não se trata de curtida vamos ver como alguns irão reclamar. pic.twitter.com/saNy6qRYGf
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) April 23, 2019
A crise na Venezuela, que há quase dois meses não tem novos capítulos, também virou tema das postagens. O filho nº 2 de Bolsonaro não gostou do posicionamento do general, que defendeu o desarmamento no país para evitar uma guerra civil. No sentido contrário, o vereador escreveu: “Pérolas que mostram muito mais do que palavras ao vento, mas algo que já acontece há muito tempo”.
Quando a única coisa que lhe resta é o último suspiro de vida, surgem estas pérolas que mostram muito mais do que palavras ao vento, mas algo que já acontece há muito. O quanto querer ser livre e independente parece ser a maior crueldade para alguns. pic.twitter.com/FNCS6yDH2x
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) April 23, 2019
O exílio do ex-deputado federal Jean Wyllys (PSol-RJ), que deixou o Brasil após sofrer ameaças de morte, também virou mote para a discórdia. Em janeiro, Mourão disse que Wyllys deveria ter ficado no Brasil: “Nosso governo não tem política para perseguir minorias, esse não é o jeito que nós nos comportamos. Poderíamos protegê-lo”, afirmou na época. Carlos disse que “estranha” o alinhamento de Mourão com políticos que detestam Bolsonaro.
Caiu no colo de Mourão algo que jamais plantou. Estranhíssimo seu alinhamento com políticos que detestam o Presidente. Qualquer um sabe que Jean Willians não saiu do Brasil por perseguição, mas por uma esperta jogada política cultural. Com a palavra, o culto: pic.twitter.com/8baawxnBzf
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) April 24, 2019
Ação e reação
Mourão, desde o início dos conflitos, minimizou o caso. Ele nunca usou as redes sociais para tratar do tema e só comentou a briga quando foi questionado por jornalistas. Nessa semana, ele declarou: “Quando um não quer, dois não brigam”.
Carlos adotou um tom menos amistoso. “Lembro que não estou reclamando do vice só agora e tals…. São apenas informações! Não ataco ninguém, são apenas fatos que já aconteceram e gostaria de continuar compartilhando com os amigos”, publicou no Twitter, no início da última semana.
Na quarta (24/04/2019), o jornal O Estado de S.Paulo publicou uma entrevista com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), irmão de Carlos, na qual o congressista endossa as críticas do irmão. Para ele, as declarações de Mourão têm causado “ruído” e Carlos está “apenas reagindo”.
Após uma semana de ataques, o porta-voz Otávio do Rêgo Barros disse que Bolsonaro quer colocar um ponto-final na “pretensa discussão” entre os dois. Em declaração à imprensa, Bolsonaro reforçou que o filho estará sempre ao seu lado. “É sangue do meu sangue“, afirmou o presidente, em mensagem lida pelo porta-voz.