Cunha e Funaro ficam frente a frente em audiência sobre a Caixa
Foi o primeiro encontro desde a prisão da dupla. Eles acompanharam depoimento do ex-vice-presidente do banco Fábio Cleto à 10ª Vara Federal
atualizado
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Após negar, na noite de quarta-feira (25/10), pedido de adiamento de interrogatório do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal, ouviu na tarde desta quinta (26) o depoimento dos réus na ação penal decorrente da Operação Sépsis. A investigação tratou de suposto esquema de corrupção no fundo de investimentos FI-FGTS, controlado pela Caixa. Prestaram depoimento o ex-vice-presidente do banco Fábio Cleto e o empresário Alexandre Margotto. O operador financeiro Lúcio Funaro e Eduardo Cunha estiveram no prédio da Justiça Federal, em Brasília, acompanhando a oitiva de Cleto por videoconferência.
Cunha cumpre pena em Curitiba (PR), mas está em Brasília desde setembro justamente para participar das oitivas na 10ª Vara. Na capital, permanece detido em uma cela da Delegacia de Polícia Especializada (DPE), no Parque da Cidade, e Funaro, no Complexo Penitenciário da Papuda. Ao chegarem ao prédio da Justiça Federal, na Asa Norte, ficaram em locais separados. Mas quando a oitiva de Cleto estava prestes a começar, ambos foram levados para a sala de audiência, onde ocorreu o primeiro encontro entre o ex-presidente da Câmara dos Deputados e o suposto operador de propinas do PMDB desde que eles foram presos.
A conferência entre o ex-vice-presidente da Caixa e juiz Vallisney também foi transmitida para Natal, a fim de que fosse acompanhado por outro réu no processo, detido na capital do Rio Grande do Norte: o ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves.
Delator do esquema, Fábio Cleto falou de Campinas (SP), onde encontra-se preso. Nesta tarde, ele disse ao titular da 10ª Vara Federal ter partido de Eduardo Cunha sua indicação à vice-presidência da Caixa e acrescentou que Henrique Eduardo Alves validou a escolha. Funaro confirmou a informação. Na delação, Cleto revelou esquema de desvio de recursos do banco: a verba seria liberada para empresas em troca de propina ao grupo político liderado por Cunha, que ficaria com a maior parte do dinheiro desfalcado.
“Eu tinha condição de atrapalhar o andamento da empresa dentro da Caixa Econômica”, explicou Cleto. O executivo esteve na estatal de abril de 2011 a abril de 2015. Segundo ele, inicialmente, os repasses eram acertados com Funaro, mas após um desentendimento com o operador, a propina passou a ser negociada diretamente com Eduardo Cunha. De acordo com Fábio Cleto, dos R$ 3,5 bilhões liberados em 2011 pela Caixa para o Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, 1,5% foi redirecionado a Cunha e aliados.
O depoente também descreveu reunião, segundo ele convocada pelo ex-presidente da Câmara, em um hotel paulista. O objetivo seria explicar a executivos das construtoras responsáveis pelo Porto Maravilha a situação de liberação de recursos federais ao empreendimento. Enquanto Cleto contava os detalhes desse encontro ao juiz Vallisney, afirmam fontes, Cunha discordava, balançando a cabeça de um lado para outro.
Na quinta, nova rodada
Eduardo Cunha, no entanto, terá que esperar até esta sexta-feira (27/10) para apresentar sua versão dos fatos. Está marcada para as 10h o segundo dia de oitivas dos investigados na Sépsis. Serão ouvidos o ex-ministro Henrique Alves (da sede da Justiça em Natal, com transmissão por videoconferência para Brasília), Cunha e Funaro.
Preso há mais de um ano e respondendo pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e violação de sigilo funcional, Cunha deve regressar para o Complexo Médico Penitenciário de Pinhais (PR) após cumprir seu compromisso com a 10ª Vara Federal. Entre o sábado (28) e a próxima quarta-feira (1º), o ex-presidente da Câmara dos Deputados será levado de volta ao Paraná.
Nesta quinta, após seu encontro com o operador que o delatou, Eduardo Cunha deixou o prédio da Justiça Federal em Brasília por volta das 19h, antes mesmo da conclusão da oitiva de Fábio Cleto. Ele foi levado de volta ao DPE no banco de trás de uma viatura da Polícia Federal (imagem em destaque). Funaro só deixou o prédio 45 minutos depois, e seguiu para a Papuda igualmente no banco traseiro de um carro da PF (imagem abaixo).
Colaborou Larissa Rodrigues