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“Cunha dificilmente conseguirá salvar o mandato”, diz Ronaldo Fonseca

Parlamentar que relata os recursos do agora ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha na CCJ, o deputado federal eleito pelo DF afirmou que as provas contra o peemedebista são “difíceis de serem contestadas”

atualizado

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Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Ronaldo fonseca
1 de 1 Ronaldo fonseca - Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

“Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.” O versículo do Livro do Apocalipse, na Bíblia, pode ser aplicado ao atual momento da Câmara dos Deputados, onde o período conturbado tem levado parlamentares a transitar por lados extremos. É o caso do pastor Ronaldo Fonseca (Pros-DF), relator dos recursos apresentados pelo ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Fonseca, que assumiu o cargo na condição de aliado do peemedebista, diz, hoje, que a relação é meramente “institucional”, e traça um diagnóstico desfavorável ao colega, também integrante da bancada evangélica: “Eduardo Cunha dificilmente conseguirá salvar o mandato”.

Embora não haja data definida para votação, a tendência é que o processo de cassação de Eduardo Cunha seja aprovado na CCJ antes de ser enviado ao Conselho de Ética e, posteriormente, ao plenário da Câmara. Em entrevista ao Metrópoles, Ronaldo Fonseca afirmou que os indícios contra o parlamentar são robustos. Ao ser questionado se achava que Cunha era culpado da série de acusações — que incluem o recebimento de propinas milionárias —, o deputado do DF fez uma pausa e respirou fundo por quase cinco segundos antes de dizer que as provas são “difíceis de serem contestadas”. Na avaliação de Fonseca, Cunha demorou para deixar o cargo e a situação dele se fragilizou nesse período.

Advogado e pastor da Assembleia de Deus, Ronaldo Fonseca está no segundo mandato e há seis anos integra a CCJ da Câmara. Ao ser indicado como relator dos recursos de Eduardo Cunha ao relatório do Conselho de Ética que opinou favoravelmente à cassação do deputado afastado, Fonseca recebeu críticas por ser aliado do peemedebista. Em seu relatório, recomendou que a votação contra o peemedebista seja anulada, e que o Conselho de Ética vote novamente, pelo painel eletrônico. Agora, acredita que o caminho de Cunha não tem mais volta.

Ao contrário do colega, Fonseca sonha com uma longa carreira pública. No segundo mandato como deputado federal, ele garante que não concorrerá a um terceiro. Se depender da própria vontade, tentará a vaga no Palácio do Buriti, hoje ocupada por Rodrigo Rollemberg (PSB), ou uma das duas cadeiras que estarão em jogo no Senado Federal em 2018. Confira a entrevista com o deputado.

Embora tenha se manifestado a favor da anulação da sessão que decidiu pela abertura do processo contra Eduardo Cunha, o senhor recusou outros 15 pedidos de nulidade feitos por ele. Após a leitura do seu relatório, o peemedebista decidiu renunciar ao cargo. O senhor acredita que o ato foi motivado pelo relatório ou se trata de apenas mais uma manobra para Cunha tentar salvar o mandato?
As manifestações do Eduardo Cunha e do advogado dele estão sugerindo que meu relatório foi desfavorável, decepcionante. Pelo que acompanhei, deu a entender que ele (Cunha) não ficou satisfeito.

Ele já pretendia renunciar à presidência da Câmara?
Ele sempre dizia que não renunciaria. Da minha parte, acredito que ele tinha esperança maior na CCJ, o que não se confirmou.

Como o senhor avalia a renúncia dele?
Acho que veio tarde. A Câmara não suportava mais isso. Eduardo Cunha deveria ter renunciado alguns meses atrás. Acho difícil que ele consiga salvar o mandato. Acho que está muito consolidado quem vota a favor e quem vota contra ele.

Nos bastidores, o senhor foi escalado para ajudá-lo na condição de aliado político de Cunha. Afinal, o senhor o traiu?
Não traí, não fui contra. Eu atuei como julgador porque, no momento em que aceitei a relatoria, virei julgador. Meu relatório foi técnico, elaborado de forma independente, imparcial.

Por que o senhor acatou um dos pedidos de Cunha?
Acatei a nulidade parcial, apenas sobre o sistema de votação. Houve prejuízo ao representado. O regimento proíbe mudança no sistema de votação. O Regimento Interno da Câmara permite a votação por chamada de deputado em três hipóteses: se o painel eletrônico estiver estragado; quando é para instaurar processo crime contra o presidente ou o vice-presidente da República — ou ministro de Estado para crimes comuns —; e para se instaurar processo de crime de responsabilidade. Não existe outro item. Em uma inovação, votaram o requerimento de um deputado do PT pedindo a votação nominal. O regimento não permite isso, logo, o requerimento está viciado. O Conselho de Ética deveria aprovar o meu relatório para mostrar que está independente na votação para cassar Eduardo Cunha. Por que fazer uma manobra? Por que esse negócio de inovar? Foi antirregimental. Se corrigirmos este vício, estreamos impedindo que, numa possível judicialização, a votação não seja decretada nula.

O senhor comunga da mesma fé de Cunha. Os dois pertencem à Assembleia de Deus. Também está alinhado com ele politicamente…

Não pertencemos à mesma igreja. Dizem que ele é da Assembleia de Deus do Rio de Janeiro, que não tem nada a ver comigo. Nunca participei de um culto com ele. Dizem que ele é evangélico, mas não o conheço como evangélico

Para elaborar o voto, pesou a ligação com o Cunha ou a opinião pública?
Prometi fazer um voto técnico, jurídico, independente, imparcial. Trabalhei com a Constituição, com o Código de Ética e com o Regimento Interno, não com a Bíblia. A opinião pública é totalmente contrária ao Eduardo Cunha; e os votos, mesmo no Conselho de Ética, muitas vezes vêm carregados de política. Não livrei Eduardo Cunha da cassação. A cassação será votada no plenário.

Como deputado e como relator do pedido de anulação na CCJ, o senhor passou a conhecer profundamente as acusações contra Cunha. O senhor acredita que o ex-presidente da Câmara é culpado dos crimes dos quais é acusado?

Veja… Não conheci o mérito do processo, porque, na CCJ, não posso julgar o mérito. No entanto, posso lhe garantir que a investigação da Lava Jato, as operações da Polícia Federal e tudo o que se demonstra ter contra Eduardo Cunha são provas difíceis de serem contestadas. Pelo que vejo, embora não conheça todo o mérito (não conheço as ações do STF), entendo que o trabalho da Procuradoria e da Polícia Federal é muito bem feito. Defendo a Lava Jato, e o maior mérito é mostrar ao Brasil que não há impunidade. Defendo o trabalho do juiz Sérgio Moro. Esse rapaz iluminado veio para mostrar algo diferente

Qual a relação do senhor com o Eduardo Cunha?
Institucional. Sou líder de um partido, que tem contatos com o presidente, mas sou líder recente. Como deputado, não visitava a presidência da Câmara, não tinha contato com Eduardo Cunha. Nunca parei para conversar com ele.

Tanto o senhor quanto o deputado Rogério Rosso (PSD), ambos eleitos pelo Distrito Federal, têm participação destacada nos últimos dois processos de expressão na Câmara — contra Eduardo Cunha e contra a presidente afastada Dilma Rousseff (PT), respectivamente. Isso é bom, ruim ou não faz diferença para os brasilienses?
O trabalho do Rogério Rosso foi uma moleza. Queria eu estar no lugar dele (risos). Indiferente não pode ser. Mostrou para o Brasil que Brasília tem parlamentares que podem ser encontrados nos momentos difíceis da nação. Foram dois momentos conturbados, com dois deputados de Brasília em destaque. É interessante que Brasília fique conhecida por ter parlamentares que podem enfrentar grandes temas neste país.

Quais os planos do senhor para o futuro?
Sempre defendi que dois mandatos no mesmo cargo são suficientes. Sou contra o político profissional. Agora, quando se oferece para servir à população, não tem muita escolha. Espero que, em 2018, a população me escolha para outro cargo. Agora, eu não posso dizer. Resta, para mim, os postos de deputado distrital, senador, vice-governador ou governador. A população que vai dizer. Se perguntar para mim o que eu gostaria de ser, diria senador ou governador.

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