Crises fazem PT atrasar plano eleitoral de Lula
Em eleições passadas, nesta altura da disputa, o partido já tinha definido os nomes da coordenação da campanha
atualizado
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O cenário político conturbado desde o início da Lava Jato, em 2014, o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, em 2016, e a indefinição jurídica sobre a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocaram atraso no cronograma eleitoral do PT. Em eleições passadas, nesta altura da disputa, o partido já tinha definido os nomes da coordenação da campanha responsáveis pelas articulações políticas, mesmo que informalmente.
Até agora, o único setor cujos integrantes já foram confirmados é o de programa de governo, a cargo do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
“A partir do dia 25, quando o partido vai reafirmar a candidatura de Lula, vamos acelerar este processo”, disse o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, um dos vice-presidentes do PT. “Estamos em uma situação excepcional em relação a anos anteriores. Agora é uma disputa com grande instabilidade institucional, temos a situação de enfrentamento pelo direito de Lula ser candidato, desde 2003, pela primeira vez, não estamos no governo federal. É natural. Não é só no PT, o ambiente político está muito diferente”, afirmou.
Segundo dirigentes petistas, embora o partido tenha descartado plano B e decidido insistir na candidatura de Lula, o julgamento do ex-presidente ganhou prioridade na agenda da sigla, tirando espaço, tempo e recursos das articulações políticas.
Na condição de presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) deve assumir a coordenação-geral da campanha – hoje ela comanda o Grupo de Trabalho Eleitoral criado em dezembro do ano passado -, mas alguns petistas graúdos questionam a viabilidade de ela acumular a função com a campanha à reeleição ao Senado. Pela primeira vez um coordenador de campanha presidencial deve ser candidato a cargo majoritário – José Dirceu, em 2002, e Ricardo Berzoini, em 2006, disputaram a Câmara.
Além disso, petistas apontam a falta de articuladores com experiência eleitoral no entorno do ex-presidente. Dirceu e Antonio Palocci foram abatidos pela Lava Jato. Marco Aurélio Garcia morreu em julho do ano passado. Berzoini está afastado da política, os velhos colaboradores que integravam a direção do Instituto Lula foram substituídos por jovens sem experiência e apenas dois dos cinco vice-presidentes do PT não são candidatos a deputado – Luiz Dulci e Alberto Cantalice.
A Secretaria de Organização do PT destacou um funcionário para atualizar diariamente a situação eleitoral nos Estados, mas o partido e Lula ainda não têm nomes com estofo e mandato partidário para negociar a montagem dos palanques regionais para o ex-presidente.
Sem marqueteiro
Com pouco dinheiro em caixa depois dos escândalos revelados pela Lava Jato, a campanha de 2018 não terá a figura do marqueteiro, desde 2002 ocupada por estrelas como Duda Mendonça e João Santana, e a comunicação vai ficar a cargo de um colegiado. Os últimos programas de TV do PT foram realizados por uma produtora independente com ajuda de Sidônio Palmeira, e palpites da direção. A comunicação do PT hoje é feita por uma empresa criada por militantes.
A equipe do programa de governo também vai sofrer mudanças. Alas petistas rejeitaram a escolha de “três homens, brancos, paulistas” (Haddad, Renato Simões e Márcio Pochmann) e, agora, cobram a inclusão de negros e mulheres.
Desde 2016, Lula se reúne semanalmente com grupo de economistas antes liderados por Marco Aurélio Garcia. Após a morte do ex-assessor especial da Presidência, a coordenação ficou com Pochmann, cujo perfil acadêmico e discreto permitiu a ascensão do ex-ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante.
“Em dia”
Por meio da assessoria de imprensa, o PT informou que a escolha de Gleisi como coordenadora da campanha de Lula ainda não foi decidida, negou atraso no cronograma e disse que o partido é um dos únicos com candidato definido desde o ano passado. Segundo a legenda, a montagem da equipe vai entrar no foco da direção a partir do dia 25.