“CPI não vai ajudar em nada quem está morrendo”, afirma Ciro Nogueira
Em entrevista ao Metrópoles, o senador criticou a determinação do STF, mas defendeu que decisão seja cumprida e dê prosseguimento à CPI
atualizado
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Em entrevista ao Metrópoles, o presidente nacional do Progressistas, senador Ciro Nogueira (PI), criticou a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a abertura, no Senado, de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para avaliar supostas omissões e ingerências do governo federal no combate à pandemia do novo coronavírus.
Liderança do chamado Centrão, grupo de parlamentares da base aliada do presidente, o congressista afirmou que a decisão de Barroso não ajudará o Brasil a contornar o agravamento da crise sanitária. No entanto, o parlamentar defendeu que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), cumpra a determinação judicial e dê prosseguimento à instalação da CPI.
“É uma decisão errada, mas que tem de ser cumprida. Critico totalmente, mas ele [Barroso] tem poder para isso. Temos que respeitar as instituições, sou favorável de que seja cumprida totalmente essa determinação. Eu não questiono isso [a legitimidade da decisão]. Eu questiono o momento em que ela está sendo instalada”, explicou.
“A instalação de uma CPI, neste momento, não vai ajudar em nada as pessoas que estão morrendo, que estão sofrendo. Mas decisão judicial se cumpre”, enfatizou Ciro Nogueira.
O líder do Centrão negou que a instalação da comissão simbolize um estremecimento na relação entre o Planalto e o Congresso. Na avaliação do senador, ela servirá para os parlamentares que “gostam de holofotes terem seu momento de glória”.
“Muita gente que estava sumida e que só gosta de holofotes, na época de CPI, de escandalizar, de aparecer, vai ter seu momento de glória. As pessoas responsáveis, que estão pensando na população, vão ter de dar estabilidade a essa situação, para que ela não crie qualquer problema para o país. Tenho certeza de que o Congresso Nacional vai ter maturidade na condução dessa CPI, para que ela não atrapalhe nosso país. [A CPI] Não está sendo feita para ajudar o Brasil, com toda certeza”, disse o senador ao Metrópoles.
Impeachment de ministros
Em reação à decisão de Barroso, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu que a Casa colocasse em tramitação os pedidos de impeachment de ministros do STF. Para Ciro Nogueira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, não deve atender ao desejo do mandatário do país. “O Senado tem um presidente muito equilibrado, que tem tido posições firmes, corretas e coerentes nesse processo. E um erro não se corrige com outro erro. Eu posso discordar, e discordo radicalmente da posição do ministro Barroso, mas ele tem um direito, é legítimo da sua parte”, ponderou.
Nogueira, no entanto, criticou declarações públicas de ministros da Corte. “Toda hora eu vejo ministro do Supremo dando opinião. Eles deviam estar mais preservados. Você não vê ministro da Suprema Corte nos Estados Unidos dando opinião sobre tudo. Acho isso um erro. Está na hora de nós separarmos as opiniões do exercício das suas funções. Eu acho que os ministros têm que julgar em cima da Constituição, das leis, e a gente tem de respeitar o direito de cada um se expressar.”
Ainda assim, sem citar nominalmente o presidente Bolsonaro, o parlamentar afirmou que é preciso prudência na manifestação de opiniões. “Só acho que, às vezes, tem de se ter um pouco mais de prudência ao externar uma opinião.”
Reforma ministerial
O líder do Centrão também comentou as recentes mudanças feitas pelo Executivo no comando de seis ministérios. Segundo Ciro Nogueira, a saída de alguns ministros, como a de Eduardo Pazuello e de Ernesto Araújo, era desejo antigo dos partidos que compõem a base aliada do governo. Havia um entendimento de alocar um médico no comando do Ministério da Saúde e de alguém com “melhor diplomacia” no Ministério das Relações Exteriores.
“Essas modificações foram em virtude da necessidade de um governo mais eficiente, principalmente no que diz respeito à gestão na saúde. A questão do Ministério das Relações Exteriores era uma vontade, era praticamente uma unanimidade no país. O novo ministro é um homem que tem tido receptividade muito grande, seja no campo internacional, seja da parte interna do país.”
O senador criticou a linha ideológica adotada por ministros do governo Bolsonaro. No entanto, negou a possibilidade de que haja pressão pela saída de outros integrantes do alto escalão, como Ricardo Salles, do Meio Ambiente.
“Eu sou um defensor do trabalho do ministro Ricardo. Tem sido um grande ministro, preparado, competente, mas que, às vezes, a questão das relações exteriores, da forma como estava sendo conduzida, acaba criando uma imagem ruim do nosso país lá fora. Como se o Brasil tivesse, agora, uma política ambiental desastrosa, de desmatamento, o que não é verdade. Não houve mudanças de legislação no nosso país neste último governo, nada que afete essa situação do meio ambiente no nosso país”, defendeu.
Já sobre o chefe da Economia, Paulo Guedes, o senador afirmou: “Nenhum ministro é insubstituível”. “Faz muito tempo que não vejo um ministério tão poderoso e um ministro tão competente quanto Paulo Guedes. Sou admirador de seu trabalho, pelo que ele representa, pela sua história de vida, pela sua dedicação, tem sido fundamental. Acho só que não tem ninguém insubstituível”.
Nas negociações em torno do Orçamento de 2021, Nogueira avalia que faltou habilidade política ao ministro Guedes: “Faltou habilidade, faltou um pouco de tato. Mas isso vai ser superado facilmente”. O senador defendeu o cumprimento do acordo das lideranças partidárias com o governo federal no que se refere às emendas constitucionais.
Eleições de 2022
Ciro Nogueira, que já foi aliado de gestões petistas, vislumbra um segundo turno nas eleições presidenciais de 2022 entre duas figuras carimbadas: o ex-presidente Lula e o atual mandatário da República. O senador diz não ver condições de seu partido, e a maioria das demais siglas do Centrão, caminhar ao lado do PT novamente.
“Nós temos uma identificação muito maior com o presidente Bolsonaro. O Progressistas é um partido de centro-direita, um partido conservador, tem uma identificação com o projeto liberal do presidente Bolsonaro.”
Segundo o senador, as altas intenções de voto em Lula e em Bolsonaro acabam inibindo qualquer crescimento de uma terceira via. Sobre possíveis candidaturas de Luciano Huck e Sergio Moro, o parlamentar assinala: “Não vejo perspectiva nem para um nem para o outro”.
A respeito de seu futuro político pessoal, Ciro Nogueira não descartou a possibilidade de se lançar como candidato a governador do Piauí, estado que o elegeu senador, em 2022. Ele disse sentir reciprocidade do eleitorado no seu desejo de governar o estado.
“Eu tenho um sonho de governar meu estado. É o ápice da minha carreira. Existe hoje uma vontade muito grande da população. Em qualquer pesquisa de opinião, estou disparado nas intenções de voto. Quero ser um grande senador até o próximo ano, e nós fazemos uma avaliação.”
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