CPI espera que Pfizer esclareça demora do governo para fechar contrato
Municiados com depoimento de Fabio Wajngarten, senadores do colegiado querem saber se o Executivo federal se negou a comprar doses
atualizado
Compartilhar notícia
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid ouve, nesta quinta-feira (13/5), o depoimento do gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo. O gestor será questionado sobre as tratativas iniciais com o governo federal a respeito da aquisição de vacinas produzidas pela farmacêutica e todo o processo até que, enfim, foram assinados os contratos com o Brasil.
O encontro de Murillo com os senadores da CPI ocorre um dia após o colegiado ouvir o depoimento do ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República Fabio Wajngarten. A oitiva do antigo subordinado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) serviu para municiar os parlamentares da comissão de informações sobre as negociações entre o governo federal e a farmacêutica.
Wajngarten entregou aos senadores carta redigida pela Pfizer e endereçada à alta cúpula do Palácio do Planalto. Apesar de ter sido encaminhado ao governo federal em 12 de setembro do ano passado, o documento só foi respondido em 9 de novembro.
Na carta, o próprio diretor-executivo da empresa, Albert Bourla, informa que se encontrou com representantes dos ministérios da Saúde e da Economia e da Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Bourla pontua que foi apresentada proposta para o governo federal visando “proteger milhões de brasileiros”. E ele prossegue, reclamando: “Mas até o momento não recebemos uma resposta”.
A tendência é que o gerente-geral seja pressionado pelos senadores para se pronunciar sobre o documento cedido por Wajngarten à CPI.
O objetivo dos senadores da oposição, que formam a maioria do colegiado, é apurar se o Executivo se negou a adquirir os imunizantes contra o novo coronavírus no momento em que o Brasil era tido como comprador prioritário das doses na América Latina, bem como identificar os impactos disso sobre a vacinação no país.
Wajngarten prestou depoimento nessa quarta-feira (12/5)
Fabio Wajngarten foi o quinto depoente da CPI da Covid. A oitiva do ex-secretário de Comunicação Social da Presidência foi marcada por tensão entre opositores e base aliada do governo. Houve bate-boca, xingamentos, pedidos por quebra de sigilo telemático e bancário, além de pedidos de prisão em flagrante.
Relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL) pediu formalmente a prisão de Wajngarten, acusando-o de ter mentido reiteradamente ao colegiado. A manifestação da relatoria foi endossada pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Fabiano Contarato (Rede-ES), que não integra o corpo da comissão e estava como não membro.
Vieira pressionou Wajngarten sobre as declarações à revista Veja, em que o ex-secretário culpa o governo federal pelo fracasso na aquisição de doses da Pfizer. “É melhor mentir à Veja do que à CPI, aqui dá cadeia”, disparou o senador.
Irritado com as respostas pouco objetivas do ex-gestor, Alessandro pediu ao presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), que avaliasse a prisão em flagrante de Wajngarten.
“Não há nisso nenhuma ameaça. Reforço que cabe a vossa excelência decidir se não é caso de prisão em flagrante por ter mentido à CPI. Impressionante a disponibilidade de vir até aqui com essa desfaçatez”, disse Alessandro Vieira ao presidente do colegiado.
Apesar da pressão de senadores, Aziz se negou a prender Wajngarten. “A gente não pode tornar o país pior do que já está. Eu não tomarei essa decisão. Tenho tomado decisões equilibradas até o momento. Daí a ser carcereiro de alguém, não. Sou democrata. Se ele mentiu, podemos fazer um relatório, e ele será indiciado. Eu não farei isso”, enfatizou Aziz.
À noite, quando a CPI voltou a se reunir, o presidente da comissão informou que enviaria ao Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF-DF) requerimento solicitando a análise das declarações dadas por Wajngarten.
Aziz atendeu a um pedido do senador Humberto Costa (PT-PE). “Trata-se de percepções de diversos senadores sobre o depoimento da testemunha ouvida na data de hoje, sendo certo que cabe ao ilustre MPF, nos termos do § 3º do art. 58 da Constituição Federal e do art. 151 do Regimento Interno do Senado Federal, a responsabilização civil ou criminal do infrator”, diz trecho do despacho.