CPI do 8/1: veja quais estratégias governo e oposição pretendem adotar
Governo manobra para ter maioria na CPI e ditar ritmo de investigação; oposição quer desgastar imagem de Lula e divulgar tese de infiltrados
atualizado
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Caso as indicações cotadas até o momento sejam confirmadas, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá a maioria dos 32 assentos da CPI Mista que vai apurar os ataques golpistas de 8 de janeiro. O requerimento para a instauração do colegiado foi lido nessa quarta-feira (26/4) por Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado e do Congresso Nacional. Base governista e oposição agora se organizam para definir as estratégias.
O governo manobra para conseguir uma base aliada que garanta votações favoráveis no colegiado. Isso possibilitaria ao Planalto ditar o ritmo da CPI, definindo quais seriam os primeiros ouvidos, além de facilitar a propagação da tese de que a escalada golpista teve início durante a gestão bolsonarista. O objetivo é desgastar ainda mais a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que já acumula uma série de acusações na Justiça.
Nos bastidores, a base governista não descarta, inclusive, convocar o ex-presidente para falar na CPI — pedido que a defesa de Bolsonaro já disse que o ex-mandatário atenderia.
“A escalada [começou na] atuação da PRF na eleição e com o não reconhecimento do resultado das urnas. Teve um conjunto de eventos: a ocupação de estradas e quartéis, os atos terroristas em Brasília no dia da proclamação do presidente, a tentativa de bomba no Aeroporto Internacional de Brasília. Tudo isso é objeto de investigação. Isso faz parte da da escalada golpista”, diz o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo.
Além do próprio Bolsonaro, o desejo dos governistas é que um dos primeiros a ser convocado seja Anderson Torres. Ex-ministro da Justiça, Torres foi preso no dia 14/1 por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que encontrou indícios de omissão do então secretário de Segurança Pública do Governo do Distrito Federal. Pesa contra ele, ainda, a minuta do golpe encontrada em sua residência.
O líder do governo também não descartou a convocação de nomes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que promoveu diversos bloqueios em estradas no segundo turno das eleições do ano passado. A oposição tenta um acordo para a relatoria ficar com um nome governista e a presidência com nome de oposição ou independente, mas Randolfe rechaçou a possibilidade, se confiando na formação favorável. “Quem tem maioria, leva tudo”, disse.
Valendo-se da máxima “CPI se sabe como começa, mas não como termina”, o governo Lula não apoiou inicialmente a instauração da comissão sobre os atos de 8/1. A mudança de posicionamento ocorreu somente após a divulgação do vídeo de Gonçalves Dias, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, interagindo com invasores no Palácio do Planalto.
A oposição usou as imagens para pressionar pela instauração da CPMI e, após a saída de G. Dias do cargo, o governo decidiu apoiar o requerimento e iniciou a movimentação para assumir a maioria do colegiado. O general é o principal nome citado por bolsonaristas na fila de possíveis convocações.
Se a CPI Mista do Congresso seguir caminho semelhante à comissão de inquérito instaurada na Câmara Legislativa do Distrito Federal, os generais Augusto Heleno, ex-ministro chefe do GSI, e Gustavo Dutra, ex-comandante militar do Planalto, também devem ser figurinhas carimbadas. Os aliados de Lula veem os dois como alternativas para causar desgaste à base bolsonarista.
Oposição
A oposição critica a manobra do governo para tentar ditar os rumos da CPI. Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição, classificou como “antidemocrática, totalitária e arrogante” a movimentação de governistas para formar maioria no colegiado.
“Claramente, a posição que o governo tem primeiro é de mover céus e terras para que não ocorra a CPMI. […] Depois, com o vazamento das imagens, abraçar a CPMI com a seguinte atitude”, declarou.
Além de garantir mais uma vaga para o governo, a manobra de Randolfe fez com que o bloco de Marinho perdesse uma cadeira no colegiado.
Para tentar recuperar o protagonismo na comissão, Marinho apresentou uma questão de ordem ao presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, pedindo a abertura de mais uma vaga para seu bloco. O senador ameaçou não indicar nomes para a CPMI até que o pedido seja analisado por Pacheco.
Estratégia
Além de pleitear mais espaço na CPMI, a oposição estuda chamar nomes ligados a Lula para tentar enfraquecer o governo no colegiado.
A principal estratégia da oposição é justamente tentar ligar Lula e gente de seu governo aos atos de 8 de janeiro.
Por mais que pareça um movimento arriscado, teorias que tentam apontar interesses do governo Lula nos atos têm circulado desde janeiro nas redes bolsonaristas.
Não se sabe, no entanto, se tal proposta pretende atingir uma parcela expressiva da opinião pública ou se é mais voltada ao público fiel do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A convocação do ex-ministro Gonçalves Dias é dada como unânime entre parlamentares da oposição. O grupo quer explicações sobre a atuação de Dias no Palácio do Planalto no dia dos ataques.
Outro nome na mira da oposição é o do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Nas últimas semanas, o maranhense foi convidado a participar de uma série de audiências no Congresso Nacional para prestar esclarecimentos sobre o 8 de janeiro.
Ao Metrópoles, lideranças informaram que o ministro deve ser chamado para explicar o suposto relatório enviado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) com informações sobre a possibilidade de ataques na Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro.