CPI da Covid retoma depoimentos com Dimas Covas, diretor do Butantan
Senadores querem saber sobre cronogramas de vacinas contra a Covid-19 e a relação entre atrasos dos insumos e críticas à China
atualizado
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Um dia após sessão deliberativa tumultuada, a CPI da Covid ouve, nesta quinta-feira (27/5), o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, com foco na produção e cronogramas de vacinas contra a Covid-19 e na relação entre atrasos na entrega do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) e críticas de membros do governo Jair Bolsonaro à China.
O Butantan desenvolve a Coronavac, em parceria com o laboratório chinês Sinovac, que é responsável por 65% das doses de vacinas aplicadas no Brasil, segundo o Localiza SUS, plataforma do Ministério da Saúde.
O imunizante começou a ser aplicado no país em 17 de janeiro deste ano, após muitas divergências políticas entre o governo federal e o governo de São Paulo, ao qual o Butantan é ligado.
Em um dos episódios, o presidente Jair Bolsonaro publicou nas redes sociais e declarou publicamente que não compraria a “vacina da China”, inclusive afirmando que já havia mandando cancelar a aquisição, um dia depois de Pazuello anunciar a intenção de adquirir 46 milhões de doses do imunizante.
O diretor do Butantan também deve ser questionado a respeito dos primeiros contatos do instituto com o governo federal, que se iniciaram em 30 de julho de 2020. Ao todo, três cartas foram enviadas ao Ministério da Saúde, sem respostas.
Atrasos de insumos
Os senadores também querem sobre os atrasos na entrega do IFA e a relação com as declarações críticas de Bolsonaro ao país asiático. Esses atrasos têm prejudicado a produção de vacinas e, consequentemente, o programa de imunização do país.
O Butantan recebeu, nesta terça-feira (25/5), 3 mil litros do insumo chinês para a produção de mais 5 milhões de doses. A previsão inicial, no entanto, era de 4 mil litros, mas houve redução do quantitativo enviado pela China.
O ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo – que já criticou o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, e pediu a troca dele ao governo chinês – negou em depoimento, no último dia 18, qualquer dificuldade diplomática por suas atitudes ou do presidente em relação ao país asiático.
O vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), avalia que o depoimento de Dimas Covas é fundamental para esclarecer alguns pontos em relação aos atrasos de insumo e à aquisição do imunizante por parte do governo federal.
“O Instituto Butantan encaminhou três cartas para aquisição de vacinas, junto ao governo federal, e é importante esclarecer o atraso de insumo da China que tem prejudicado a vacinação dos brasileiros. Tenho a impressão que será um dos depoimentos mais proveitosos da comissão”, afirmou.
Calendário de vacinas
Já o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO) destacou que o foco será o calendário de vacinas.
“A presença dele, como foi no caso da Pfizer, é importante para esclarecer o que vem sendo feito em razão da produção de vacinas e do calendário de entregas. Espero que ele possa vir aqui falar da capacidade de produção. O Butantan é fundamental para o Brasil, produz não apenas essa, mas outras vacinas importantes”, declarou Rogério.
“Espero que traga muitas informações e, sobretudo, nos ofereça indicativo do calendário de entregas. [Afinal,] precisamos de vacinas aprovadas pela Anvisa para garantir a imunização dos brasileiros”, acrescentou.
Convocações
Nesta quarta-feira, em uma sessão tensa, senadores aprovaram a convocação de nove governadores, a reconvocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga e do ex-ministro Eduardo Pazuello, além de pessoas supostamente ligadas ao “ministério paralelo”, grupo informal de aconselhamento a Bolsonaro durante a pandemia da Covid-19.
Entre os convocados estão o assessor da Presidência Filipe Martins, o empresário Carlos Wizard e o ex-assessor Arthur Weintraub. Este último foi convocado após o Metrópoles publicar reportagem e vídeo indicando que o ex-assessor coordenou o grupo de aconselhamento paralelo de Bolsonaro.
A CPI da Covid-19 tem o objetivo de investigar as ações e omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia e, em especial, no agravamento da crise sanitária no Amazonas com o desabastecimento de oxigênio hospitalar, além de apurar possíveis irregularidades em repasses federais a estados e municípios.