CPI da Covid encerra semana ouvindo a “quase secretária” Luana Araújo
Médica infectologista foi demitida antes mesmo de ser nomeada para cargo de secretária do Enfrentamento à Covid-19, no Ministério da Saúde
atualizado
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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid ouve, nesta quarta-feira (2/6), o depoimento da infectologista Luana Araújo, anunciada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para o cargo de secretária do Enfrentamento à Covid-19. Apesar de ter sido praticamente confirmada na pasta, ela não foi nomeada por resistência do Palácio do Planalto.
A previsão é de que senadores de oposição e os que se consideram independentes do governo federal tentem arrancar de Luana Araújo os motivos que levaram o Executivo federal a barrar sua nomeação ao cargo estratégico.
Apesar de não ter sido formalmente nomeada, a profissional de saúde trabalhou, por nove dias, no comando da secretaria. Ela chegou a desenvolver um plano de testagem que foi apresentado à pasta.
Porém, pouco após assumir o posto estratégico de combate à pandemia, ela passou a receber cobranças da militância bolsonarista por fazer críticas a remédios sem eficácia comprovada contra a doença, como cloroquina e ivermectina, defendidos pelo presidente.
A resistência do Executivo federal com o nome da médica foi, inclusive, reafirmada por Queiroga. O ministro afirmou a jornalistas que encaminhou a indicação da profissional “para as instâncias do governo”. Na ocasião, o cardiologista insinuou que a não integração da infectologista decorreu da falta de “validação técnica e política” de seu nome.
Luana Araújo é médica formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-graduada pela Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos.
Mudança no calendário
Inicialmente, o colegiado havia marcado para esta quarta uma audiência pública com especialistas e autoridades sanitárias para discutir medidas e ações técnicas no combate da pandemia do novo coronavírus no Brasil. O encontro, contudo, foi adiado por decisão do presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM).
Cobrado por senadores governistas da comissão, Aziz afirmou que não compete ao colegiado a realização de audiências públicas.
“Nós estamos investigando e não é na audiência pública que nós vamos descobrir se a cloroquina é a favor ou contra. Aliás, vai ficar até 1 a 0 para quem é a favor da cloroquina, porque hoje [terça-feira (1°/6)] a doutora Yamaguchi vem aqui defender a cloroquina. Não é interesse desta comissão”, afirmou Aziz, na sessão destinada ao depoimento da médica Nise Yamaguchi.
O que disse Nise à CPI da Covid
Conhecida pela defesa ampla ao uso do tratamento precoce, a médica Nise Yamaguchi foi conselheira do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre o assunto. Por seu trabalho frente à defesa da cloroquina, a médica foi convidada a depor na CPI da Covid, nessa terça.
Ao colegiado, Nise disse desconhecer o chamado “gabinete paralelo” que supostamente prestava auxílio ao Palácio do Planalto no enfrentamento da crise sanitária. “Desconheço um gabinete paralelo e muito menos que eu integre. Sou uma colaboradora eventual. Participo como médica, cientista, chamada para opinar”, afirmou aos senadores.
Aos parlamentares, ela ressaltou que “é uma colaboradora eventual de qualquer governo” e nunca teve encontros privados com o presidente Bolsonaro. “Tive um almoço com diversos integrantes, onde conversei sobre a importância desse tratamento precoce inicial”, disse.
Nise também negou que tentou alterar a bula da cloroquina por decreto. “De forma alguma. Eu não fiz nenhuma minuta, inclusive eu não conhecia o que tinha no papel”, disse ela, contrariando o que foi dito, em depoimentos à CPI, pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e pelo diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres.
A médica confirmou ter sido favorável à tese da imunidade na fase inicial da doença no Brasil. No entanto, negou ter discutido isso com o presidente. “Nunca discuti imunidade de rebanho com ele”, enfatizou.
Outra informação negada por Nise, na oitiva, foi de que ela teria sido convidada por Bolsonaro para comandar o Ministério da Saúde após a demissão do entã0 ministro Nelson Teich.