Barra Torres diz que negou pedido para trocar bula da cloroquina
Diretor-presidente da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) presta depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira
atualizado
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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 ouviu, nesta terça-feira (11/5), o depoimento do diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres.
A oitiva com o chefe da agência estava prevista para ocorrer na última quinta-feira (6/5), mas precisou ser adiada. Ele é o quarto depoente do colegiado. Antes de Barra Torres, a CPI ouviu os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, além do titular da pasta, Marcelo Queiroga.
Acompanhe ao vivo:
Ao ser questionado pelo relator, Renan Calheiros (MDB-AL), sobre posição em relação à cloroquina, um dos principais assuntos da CPI, Barra Torres disse que o fármaco está em avaliação para casos leves, mas já há apontamento para “não eficácia comprovada em estudos ortodoxamente regulados”.
“A minha posição sobre tratamento precoce não contempla esse medicamento [cloroquina], mas sim testagem e diagnóstico precoce, com observação dos sintomas, e tratá-los o quanto antes”, afirmou.
Barra Torres foi pressionado, ainda, por um episódio citado por Mandetta em seu encontro com os senadores. No depoimento, o ex-ministro afirmou que o Palácio do Planalto tentou alterar a bula da hidroxicloroquina para que o medicamento fosse indicado ao tratamento do novo coronavírus. Coube ao diretor da Anvisa barrar a investida do governo federal.
Ele confirmou que houve um encontro com integrantes do Palácio do Planalto para discutir a possibilidade de alteração na bula da cloroquina para recomendação em uso de tratamento de pacientes da Covid-19.
Segundo o diretor-presidente da Anvisa, a proposta partiu da imunologista e oncologista Nísia Yamaguchi. “Provocou uma reação deselegante minha, disse que aquilo não poderia ser. Só quem pode modificar uma bula é a agência reguladora, mas desde que solicitada pelo detentor do registro”.
Veja:
Com o depoimento de Antônio Barra Torres na CPI da Pandemia, são agora duas testemunhas que descreveram em detalhes a tentativa, em pleno Palácio do Planalto, de alterar a bula de um remédio sem eficácia contra a Covid-19.
🎥: @sampancher pic.twitter.com/TnFGqHsnRn
— Metrópoles (de 🏠) (@Metropoles) May 11, 2021
Segundo Barra Torres, participaram da reunião o atual ministro da Defesa, general Braga Netto, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, a médica Nísia Yamaguchi e um outro médico, que não se recorda do nome.
Vacinas
Renan Calheiros também quis saber se houve pressão política para que a agência aprovasse vacinas contra a Covid-19. O presidente da Anvisa negou qualquer tipo de pressão ou interferência.
Calheiros também indagou se houve “precipitação” do Ministério da Saúde na compra de 20 milhões de doses da Sputnik V, antes mesmo da aprovação do uso emergencial do imunizante pela Anvisa. Barra Torres, então, respondeu: “Anvisa não compra nenhum comprimido de aspirina, nenhum band-aid”.
O diretor-presidente da Anvisa esclareceu aos senadores da CPI que dois documentos essenciais faltaram para aprovação do uso da vacina russa: o relatório técnico e a validação da inativação viral.
“O relatório técnico é relatório da autoridade reguladora do país de origem que comprova a qualidade de segurança e eficácia [da vacina] através da publicidade que se dá pelos métodos que chegou naquele índice. Inativação não pode simplesmente ser testada, tem que ter validade, consiste em realizar um processo exaustiva vezes e obter sempre o mesmo resultado. Isso torna o procedimento, um procedimento válido”, completou.