Coronel negociou vacinas para o setor privado e nega propina
Marcelo Blanco, que atuou como assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, depõe na CPI da Covid
atualizado
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Em depoimento à CPI da Covid-19 nesta quarta-feira (4/8), o tenente-coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, afirmou aos senadores que negociou com policial militar e vendedor Luiz Paulo Dominguetti Pereira, da Davati Medical Supply a compra de vacinas para empresas do setor privado antes de a lei começar a ser discutida no Senado.
Blanco é ouvido pelos parlamentares, que buscam aprofundar as investigações no caso de suposta propina para a aquisição de vacinas na pasta. O tenente-coronel foi quem teria apresentado Dominguetti ao ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias.
Ele também participou do jantar em que o ex-diretor teria pedido propina de US$ 1 por dose a Dominguetti, em 25 de fevereiro deste ano, em um restaurante do Brasília Shopping. Dias nega o pedido.
Acompanhe:
O tenente-coronel, que foi exonerado em janeiro passado, abriu a empresa Valorem Consultoria em Gestão Empresarial, três dias antes do encontro. As atividades econômicas do empreendimento são de mediação de negócios e assessoria técnica. Contudo, cerca de 20 dias depois do jantar, Blanco fez uma alteração para acrescentar atividades ligadas ao mercado de saúde.
Aos senadores, o coronel apresentou prints de conversas com Luiz Paulo Dominguetti em que as partes negociam a possibilidade de compra de vacinas contra Covid-19 pelo setor privado.
Conforme consta nas reproduções das mensagens, as tratativas começaram em fevereiro deste ano. Na ocasião, não havia uma lei que autorizasse a aquisição de imunizantes pela iniciativa privada.
“Dominguetti me procurou no início de fevereiro e sempre deixei muito claro que essa compra seria destinada ao meio privado somente, necessitando de uma liberação do laboratório AstraZeneca”, explicou.
Blanco é um dos diversos militares do governo citados na CPI por envolvimento em supostos ilícitos na condução da pandemia da Covid-19. Ele é visto pelos senadores como um dos elos entre a pasta e as intermediárias.
A CPI requisitou ao Comando do Exército Brasileiro todos os relatórios e as informações de inteligência a respeito de militares do governo, como do ex-secretário executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco, do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e de Blanco. O Exército disse não ter.
“Grupo do Blanco”
Blanco também foi citado no depoimento do representante da Davati Medical Supply no Brasil, Cristiano Carvalho, à CPI da Covid. Na ocasião, Carvalho disse que Dominguetti comentou com ele sobre um pedido de “comissionamento” do “grupo do Blanco”.
“A informação que veio a mim, vale ressaltar isso, não foi o nome propina, tá? Ele usou comissionamento. Ele se referiu a esse comissionamento sendo do grupo do tenente-coronel Blanco e da pessoa que o tinha apresentado ao Blanco, que é de nome Odilon”, disse Carvalho.
Habeas corpus
O militar chega ao depoimento amparado por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal (STF), que lhe concede o direito ao silêncio em situações que o incriminem.
Contudo, em decisão proferida no último dia 13 de julho, o presidente do STF, Luiz Fux, destacou que cabe ao depoente o direito de avaliar o que pode ou não autoincriminá-lo e cabe à CPI da Covid decidir se ele abusa ou não do direito fundamental e, portanto, poderá adotar as providências que julgar cabíveis.