Corrida presidencial: 2º turno sem Alckmin já divide alas do PSDB
Defensor de apoio a Bolsonaro, grupo conservador diverge de fundadores da sigla
atualizado
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Diante da dificuldade de Geraldo Alckmin, presidenciável do PSDB, de avançar nas pesquisas de intenção de voto, setores do partido já atuam pela aproximação e apoio ao candidato do PSL ao Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro, no segundo turno. Deputados e líderes tucanos ouvidos pela reportagem temem que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outros quadros da legenda trabalhem para apoiar Fernando Haddad (PT), caso o ex-governador de São Paulo não chegue à próxima fase da disputa presidencial.
Reservadamente, tucanos dizem que o PSDB deve enfrentar o pior racha de sua história e pode “implodir” se houver uma guerra entre a ala mais conservadora e liberal e os fundadores do partido.
“Vou ser leal ao Geraldo até o último dia, mas, se ele não for para o segundo turno, sou anti-PT e vou encaminhar na bancada o apoio ao Bolsonaro”, disse o deputado Nilson Leitão (MT), líder do PSDB na Câmara. “O PT nós já conhecemos e não podemos experimentar de novo”, concluiu o tucano.
Uma das possibilidades ventiladas pela cúpula do partido é liberar os filiados no segundo turno. Em um movimento que desafiou a direção do PSDB, um grupo de militantes do partido criou um grupo no Facebook chamado “Sou tucano e voto Bolsonaro”, que já conta com 6.986 integrantes.
“O Geraldo fez gestos à esquerda e se aproximou do MST e do MTST. Ele não é um candidato viável. Nunca foi. Por isso, meu voto é para o Bolsonaro”, disse Caíque Mafra, criador e administrador do grupo na rede social.
Filado ao PSDB, ele lidera uma corrente interna chamada “Liberdade Tucana”, que se apresenta como liberal e de direita. Mafra chegou a disputar a direção da juventude do PSDB no ano passado por outro grupo interno, o Conexão 45.
O movimento pró-Bolsonaro no PSDB gerou reações. “O PSDB cometeu um erro lá atrás, que foi permitir a filiação pela internet e sem critérios mínimos. Entraram pessoas sem nenhum compromisso com a social-democracia e que se infiltraram no partido”, afirmou o sociólogo Fernando Guimarães, integrante do diretório nacional do PSDB e coordenador da corrente tucana Esquerda Para Valer (EPV). O grupo, que é ligado ao senador José Serra (SP) e ao ex-senador José Aníbal, vai pedir a expulsão de Mafra do partido.
Se algum tucano se posicionar pró-Bolsonaro, não tem outro caminho a não ser a expulsão
Fernando Guimarães
Um dos fundadores do PSDB, o jurista José Gregori, ex -ministro da Justiça e titular da Secretaria Nacional de Direitos Humanos no governo Fernando Henrique Cardoso, disse considerar um “equívoco” a aproximação de setores do PSDB com o presidenciável do PSL e afirmou que seu posicionamento sobre o assunto é “diametralmente” oposto.
Estratégia
O PSDB se apega aos números laterais das mais recentes pesquisas de intenção de voto para pregar que ainda é possível ocorrer uma virada que favoreça Alckmin na disputa ao Palácio do Planalto.
“É preciso olhar os outros números da campanha. A alta rejeição do Bolsonaro, os 28% que podem mudar de voto e as mulheres. Esses são fatores que podem virar a eleição de cabeça para baixo”, disse o deputado Silvio Torres (SP), tesoureiro do PSDB e um dos coordenadores da campanha tucana. A avaliação reservada da equipe do ex-governador é de que a estratégia mais agressiva contra Bolsonaro surtiu efeito.
As pesquisas internas mostram que o presidenciável do PSL parou de crescer nos levantamentos de intenção de voto, mas o eleitor não entendeu a mensagem dos comerciais tucanos segundo a qual votar em Bolsonaro significa eleger o PT no segundo turno.
Para os estrategistas do PSDB, Alckmin teria de atingir 12% no Datafolha (ficou com 10%) para dar a esperança de começar a semana que vem com 15% e criar alguma expectativa positiva. Nesse cenário, a busca é por uma “virada heroica”, que atraia a candidata da Rede, Marina Silva, para a campanha.
“Se Alckmin crescer 3% ou 4% até segunda-feira, ele pega impulso e consegue chegar ao segundo turno. O final de semana é fundamental. É quando há troca de informação nos grupos sociais”, afirmou o sociólogo Antonio Lavareda, presidente do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), que presta serviços ao PSDB.
Segundo Lavareda, na reta final de outras eleições houve registro de movimentos importantes nesta etapa: Aécio Neves (PSDB) teve variação positiva de 10 pontos em 2014, Marina (então no PV) cresceu 6 pontos em 2010 e Alckmin, 8 em 2006.
Para o cientista político Cláudio Couto, coordenador do mestrado de política públicas da FGV, seria um “milagre” Alckmin ir para o segundo turno. “Ele perdeu o eleitor antipetista para Bolsonaro”.
“Aproximação com Bolsonaro é equívoco”
Ministro da Justiça e titular da Secretaria Nacional de Direitos Humanos no governo Fernando Henrique Cardoso, o jurista José Gregori, um dos fundadores do PSDB, disse à reportagem que considera um equívoco a aproximação de alas do partido com Bolsonaro.
Uma ala do PSDB defende o apoio a Bolsonaro caso Alckmin não vá ao 2º turno. Como avalia
Gregori: Isso é um equívoco. Minha posição é diametralmente oposta. O grande sucesso do PSDB e sua justificativa histórica foi sua trajetória de trabalhar pela desradicalização do Brasil. Fernando Henrique sempre foi um moderador, um homem do diálogo. Enquanto não se fecham as urnas, é precipitação. O resultado da eleição está aberto. O PSDB deve mostrar a vantagem da via que oferece ao povo, que é o Geraldo Alckmin.
O PSDB e Bolsonaro estão em campos opostos?
Gregori: Houve um avanço nos direitos humanos no País. Isso foi feito por gente que pensa, age, acredita e sonha de maneira diferente do Bolsonaro. A mensagem que justifica o aparecimento do PSDB é ter conseguido a manutenção de uma democracia que não se ajusta à concepção de democracia que Bolsonaro tem.
Em um eventual 2º turno sem Alckmin, o que falaria mais alto no partido: o antipetismo ou a rejeição a Bolsonaro?
Gregori: Não devemos antecipar etapas. Essa é uma eleição de movimentos. O que me preocupa na polarização é que são dois movimentos que se hostilizam de uma forma que atravanca o desenvolvimento.
Existem mais pontos em comum entre tucanos e petistas do que entre tucanos e o candidato do PSL à Presidência?
Gregori: Desde o momento que se soube da existência do Bolsonaro, ficou claro que ele é contra a nossa visão de democracia.