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Coronavírus leva Bruno Covas à segunda “quarentena”

Prefeito de São Paulo retomaria agenda pública, mas avanço de vírus impôs novo isolamento

atualizado

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Bruno Covas
1 de 1 Bruno Covas - Foto: Reprodução

Quase cinco meses depois de receber o diagnóstico de câncer no trato digestivo, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), havia sido liberado pelos médicos, nessa sexta-feira (20/03), para retomar a agenda de inaugurações e eventos públicos.

A pandemia do novo coronavírus, no entanto, lhe impôs uma nova “quarentena”, e o prefeito teve de determinar o fechamento do comércio e parques municipais na capital e aplicar regras severas de circulação de pessoas na cidade. As medidas frustraram os planos de seu entorno, que esperava torná-lo mais conhecido da população com vistas à disputa pela reeleição em outubro.

Com a nova “quarentena”, Covas literalmente se mudou para a prefeitura e levou para o gabinete a cama que estava no quarto do apartamento na Barra Funda, na zona oeste.

Frequentador de academia, Covas também foi liberado para retomar a rotina de exercícios, mas, por falta de tempo, não levou equipamentos para se exercitar no local de trabalho. Havia a opção de usar a academia dos servidores, mas ele não achou conveniente.

“No fim de semana vou fazer uma caminhada no 13º andar [do prédio da prefeitura]”, disse o prefeito ao Estado em seu quarto-gabinete, no 5º andar do Edifício Matarazzo, no centro. A reportagem acompanhou Covas ao longo do dia em que, pela primeira vez nos últimos meses, participou de agenda pública.

A cama foi instalada ao lado da mesa de trabalho. Há também uma televisão sobre uma mesa repleta de objetos com motivos religiosos. “Até a semana passada eu estava assistindo à série O Alienista, da Netflix, mas agora meu único lazer tem sido fazer lição de matemática com o Tomás”, afirmou Covas, referindo-se ao filho de 14 anos.

“Recebo mensagens dizendo para trabalhar e ficar em casa cuidando da saúde. Quero até esclarecer que nada que tenho feito é escondido dos meus médicos. Ocupar a cabeça é parte do tratamento”, disse.

Ao lado do quarto-gabinete há um banheiro com chuveiro e uma cama de solteiro. O ambiente já existia antes da crise do coronavírus, mas era pouco usado por ele. Quem mais fazia uso do local, segundo servidores, era o então prefeito José Serra (PSDB), que cultiva o hábito de trabalhar de madrugada. 

“Essa semana eu ia começar a voltar a frequentar eventos públicos. Os médicos tinham me liberado porque estou com a imunidade normal. Com o fim da quimioterapia e o início da imunoterapia, não estou mais imunodepressivo. Não estou mais no grupo de alta vulnerabilidade do coronavírus”, relatou o prefeito.

A conversa continuou no carro no trajeto até Parelheiros, na zona sul, onde Covas foi vistoriar a entrega de novos leitos de UTI no hospital municipal do bairro e anunciar que o Estádio do Pacaembu e o sambódromo do Anhembi serão usados como “hospitais” para infectados pelo coronavírus. “Orientação da vigilância sanitária baseada em estatística da OMS é restringir em 60% a circulação de pessoas”, disse o tucano, sentado no banco da frente do carro oficial.

Covas desconversou sobre a escolha do candidato a vice. “Datena é uma possibilidade. Seria um prazer poder contar alguém com tamanho prestígio como vice. Mas, como ele, tem outros nomes. Não fechamos a porta para ninguém”, disse o prefeito sobre o apresentador de TV José Luiz Datena.

Nos bastidores, aliados de Covas relatam que conversas caminham bem com o partido Republicanos, que poderia indicar o deputado Celso Russomanno como vice, mas não descartam uma chapa “pura” do PSDB com a senadora Mara Gabrilli.

“Temos conversado com vários partidos. Não é momento de fechar nome de vice, mas de fazer acordo partidário. A partir de abril vamos focar na escolha de vice. Tem partidos que nem escolheram seu candidato a prefeito. Não há necessidade de correr contra o tempo.”

No momento em que alas do PSDB questionam a liderança do governador João Doria na legenda e o nome do governador gaúcho, Eduardo Leite, passa a ser cogitado como presidenciável, Covas não hesita. “Eu vejo hoje a candidatura natural do governador João Doria à presidência. É o meu candidato.”

Sobre especulações de que o PSDB teria um “plano B” na disputa na capital em função do tratamento de saúde, Covas disse que isso “faz parte de quem vive política”. “Enquanto os médicos disserem que posso tocar minha vida, vou tocando. Se em algum momento os médicos apontarem para outra direção, aí a gente vai tratar isso com a maior transparência possível.”

Ao avaliar o cenário político, Covas não poupou críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas elogiou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “Faço um agradecimento ao ministro Mandetta. Estamos dobrando número de leitos de UTI. Mas Bolsonaro, em vez de dialogar com o Congresso, estimula pessoas a irem às ruas pedindo o fechamento da Casa. Isso faz com que tenha mais dificuldade de aprovação das reformas.”

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