Contrário a Bolsonaro, Exército defende isolamento social
Para a instituição, “há um consenso mundial, entre os especialistas em saúde, de que o isolamento social seja a melhor forma de prevenção“
atualizado
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Duramente criticado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o isolamento social — medida de controle da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus — é defendido pelo Exército Brasileiro.
Força de tração no governo, o discurso dos militares está afinado com o do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Para o Exército, “há um consenso mundial, entre os especialistas em saúde, de que o isolamento social seja a melhor forma de prevenção do contágio, especialmente o horizontal, para toda a população”.
A conclusão está no estudo Crise Covid-19: Estratégias de Transição para a Normalidade do Centro de Estudos do Exército (CEEEx).
O documento contraria totalmente o entendimento de Bolsonaro. “O isolamento seletivo, ou vertical, para determinados grupos de risco, é defendido por alguns especialistas e vem sendo adotado por alguns países. No entanto, ainda é prematuro para que sejam elaboradas conclusões a cerca de seus resultados”, frisa o texto.
O estudo aponta que a transição para o isolamento vertical — quando só grupos de risco são colocados em quarentena — depende de fatores como “rígido cumprimento das orientações das autoridades, necessidade de um rigoroso isolamento dos grupos de risco e grande disponibilidade de testes de checagem rápida, para diagnóstico massivo de pessoas contaminadas”.
“Embora ainda seja cedo para uma avaliação mais conclusiva, observa-se que a adoção precoce de estratégias de isolamento horizontal tem apresentado resultados parciais mais efetivos, no achatamento da curva”, defende o estudo do Exército.
Desentendimento no governo
Desde o início da pandemia, Mandetta defende o isolamento para conter a transmissão do vírus. O posicionamento contrariou Bolsonaro, que acredita que somente pessoas acima de 60 anos e doentes crônicos devem se isolar para não prejudicar a economia.
O presidente, por exemplo, é favorável ao funcionamento do comércio e a abertura das escolas.
A compreensão diferente criou um distanciamento entre Bolsonaro e Mandetta e acentuou as rusgas entre os dois.
O presidente já fez críticas públicas ao ministro da Saúde. Nesse domingo (05/04), o chefe do Palácio do Planalto chegou a insinuar que “pode usar a caneta”, um recado de possível demissão endereçado a Mandetta.
Além de Mandetta, defendem o isolamento os ministros Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Paulo Guedes (Economia) e o vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB).
“Caráter acadêmico”
Em nota, o CEEEx afirma que os textos publicados pelo órgão “são de caráter acadêmico e abordam questões relevantes da conjuntura nacional e internacional”, produzidos por “analistas e estudiosos de diversas áreas, não só militares, da ativa e da reserva, como também por pesquisadores civis”.
O comunicado acrescenta que “as opiniões, neles externadas, não representam a posição oficial do Exército, e têm por objetivo contribuir para o debate dos grandes temas nacionais, com ênfase para aqueles com impacto para a Defesa”.