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Conheça o voto útil, fiel da balança nas eleições polarizadas de 2018

Eleitor, segundo pesquisas, deve abdicar de seu candidato preferido para barrar entrada de presidenciável que mais rejeita no segundo turno

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1 de 1 pessoa vota - Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil

As eleições de 2018 se aproximam e alguns eleitores se deparam com um impasse: o candidato dos seus sonhos não é competitivo e, por outro lado, aquele concorrente que eles não querem de jeito nenhum é o favorito para vencer a disputa. Neste caso, a saída tem sido escolher um outro nome que tenha maiores chances de vencer o adversário: é o chamado voto útil.

Dados revelados pelo Ibope nessa quarta-feira (19/9) indicam que o eleitorado brasileiro cogita fortemente aderir à prática do voto útil. Segundo a pesquisa, 32% dos entrevistados admitem essa hipótese. Destes, 18% veem como alta a possibilidade de aderir a outro candidato; outros 14% afirmam ser muito alta. Ou seja: o voto útil pode ser o fiel da balança das eleições já no primeiro turno.

“O voto útil é, na verdade, mais do que expressar uma preferência por um candidato. Ele expressa uma extrema aversão aos concorrentes”, ressalta Paulo Kramer, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB). Ele explica por que o voto útil também pode ser uma expressão de veto: “Esse tipo de voto é dado sempre com a intenção de evitar aquilo que o eleitor consideraria o pior cenário”.

Essa escolha eleitoral tem uma característica própria: surge sempre que um candidato – ou mais de um – tenha altos índices de rejeição. A polarização ou a radicalização de forças leva alguém a abdicar de sua escolha para embarcar em um projeto que, se não é o ideal, pelo menos tem maiores probabilidades de bater o inimigo.

Para o jornalista especialista em marketing eleitoral Marco Bahé, da empresa pernambucana Icorp – Imagem Corporativa e Comunicação Digital, o que leva as pessoas a optar pelo voto útil é geralmente um inimigo maior. “As pessoas identificam que existe um mal maior a ser combatido”, raciocina Bahé. “Isso é estabelecido quando fica configurada uma polarização, geralmente entre os campos ideológicos de esquerda e de direita. Pelo menos na tradição brasileira é assim”, afirma.

Mas Bahé lembra que essa tendência faz parte do jogo político há muito tempo e não é um fenômeno atual ou desta eleição. “É um fenômeno que não acontecia com a magnitude deste ano porque a configuração que se dá atualmente não ocorria há algum tempo”, explica.

Inimigo comum
O “inimigo comum” é exatamente o motivo pelo qual a empresária do setor financeiro Ana Venina aderiu às hostes do candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro. Ex-simpatizante de João Amoêdo (Novo), Venina elegeu o inimigo comum a ser combatido: as esquerdas – especificamente, o PT.

“Estou sendo extremamente censurada por isso, mas não quero nem saber”, observa a empresária, que, embora tenha optado por Bolsonaro, diz ser extremamente feminista. “Não voto na esquerda de forma alguma. Jamais acreditei nas suas propostas. Não acredito em quem aponta muito o dedo para os outros e nada faz.”

Porém, Venina garante que não fez sua escolha de maneira aleatória. Procurou saber qual entre todos os candidatos poderia derrotar a esquerda. “Fiz uma pesquisa básica”, diz. “Não vou votar em Ciro [Gomes, candidato do PDT à Presidência da República], porque ele representa uma oligarquia política. Apesar de ele ser nordestino, e eu adoraria votar num presidente nordestino. Mas Ciro estreou pela Arena e passou por mais de 11 partidos. É um oportunista”, avalia.

Após a pesquisa, ela descartou Amoêdo e vai mesmo de Bolsonaro na luta contra o PT. “Haddad [Fernando Haddad, candidato petista à Presidência] é um despreparado, pau-mandado de presidiário, que vai ter reunião política dentro da cela da Polícia Federal em Curitiba”, esbraveja. “Vou cobrar muito Bolsonaro. Cobrar e fiscalizar. Coisa que o brasileiro não faz e que deveria fazer”.

Eleitor mediano
Para Kramer, eleições de conjunturas muito radicalizadas, muito polarizadas, colocam em dúvida um quase postulado, um axioma da ciência política: os partidos, quando competem entre si pelo voto do eleitor, tendem a uma posição de centro para buscar aquilo que os cientistas políticos chamam de “o eleitor mediano”.

“Só que o eleitor mediano, numa conjuntura muito radicalizada, desaparece. O que estamos vendo agora, nessa movimentação antecipada pelo voto útil, não é uma convergência para o centro, e sim uma fuga para os extremos”, destaca o professor.

Segundo ele, o eleitor que vota útil pensa assim: “Quero evitar aquilo que eu considero pior, mesmo que eu não morra de amores e nem considere melhor aquele candidato no qual estou votando”.

Aí se encaixam eleitores como o jornalista Cláudio Araújo, convicto de que o grande desafio desta eleição é impedir Bolsonaro de chegar ao poder. Por isso, ele já decidiu: embora seja eleitor do PT, de Lula e de Haddad, poderá ir de Ciro.

“Eu só vou decidir em quem votarei no último final de semana, levando sempre em conta o critério de que o mais importante é que o candidato que vá ao segundo turno seja o que tiver maiores condições de ganhar de Bolsonaro”, ressalta Araújo.

Frustração
Mas como fica o eleitor que vota útil em relação ao seu candidato preferencial? Será que não fica uma frustração por optar não escolher aquele projeto, aquelas propostas, aquela sigla e outras coisas com as quais ele se identifica?

“Eu ficaria frustrada se não tivesse consciência do que estou fazendo”, garante Ana Venina. “E eu tenho total consciência da minha escolha. Acho que quem tem frustração é quem votou em Lula, em Dilma e nesse povo que não correspondeu às expectativas e colocou o Brasil nesta crise”, acredita.

Marco Bahé, por sua vez, pondera que fica, sim, um certo sentimento de frustração. “Claro que a pessoa gostaria de ver o seu candidato sendo eleito. Mas, no momento em que ela faz a opção, a conversão para uma opção menos ruim, na opinião dela, acaba que ela própria vai trabalhar internamente sobre a importância dessa conversão.”

Para o marqueteiro, o eleitor acaba por incorporar o candidato útil. “Tem uma certa resistência no começo, mas a pessoa acaba enxergando mais as qualidades daquele candidato que ela adotou como o que pode vencer a eleição.”

Kramer concorda que o voto útil é uma prática frustrante. Mas cita sua experiência pessoal para minimizar tal sentimento: “Falo não como cientista político, mas como cidadão: minha primeira eleição, no Rio de Janeiro, foi para vereador, em 1976. E eu não lembro de não ter dado um voto que não fosse voto útil. Mais do que adesão ao candidato em quem eu votei, o que me moveu foi tentar evitar aquilo que eu considerava pior”.

Pragmatismo

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Emojis de nove dos 11 candidatos feito pelo Metrópoles: eleitores tentam ser pragmáticos para escolher a quem entregar seu voto

Mas o sentimento de frustração muitas vezes dá lugar ao pragmatismo. Esse é o parâmetro estabelecido pelo jornalista Cláudio Araújo. Para ele, vale tudo, dentro do jogo democrático, para derrotar o adversário que tem maior aversão e chances de ganhar pelas intenções de votos apontadas pelas pesquisas.

“O problema de Haddad é que, com ele no segundo turno, Bolsonaro vai reunir todas as forças antipetistas”, diz Araújo. “Se for Ciro, ele terá muito mais chances de herdar uma parcela dos votos de [Geraldo] Alckmin, de Marina [Silva], de [João] Amoêdo, de Alvaro Dias, eleitores que são mais direitistas, mas que não estão dispostos a colocar Bolsonaro lá”.

Posições polarizadas são legítimas e fazem parte do jogo democrático. No entanto, nestas eleições o quadro se agravou consideravelmente. Na ótica de Paulo Kramer, uma parcela da responsabilidade pelo atual cenário radicalizado é da classe política. “Nós temos uma classe política que não evoluiu com a nossa sociedade.”

De acordo com o professor da UnB, a nossa sociedade se tornou maior, mais complexa, e a classe política não a acompanhou. “Continuou muito despreparada e provinciana, de uma maneira geral. Então, isso gera esses desajustes. Só que, nesta eleição, isso é particularmente grave. Um dos candidatos levou uma facada”, pondera.

“Alguns atribuem a origem de todo este atual clima de polarização em que o Brasil se encontra àquelas primeiras manifestações de junho de 2013, todo aquele processo que descambou no impeachment da presidente Dilma”, observa Paulo Kramer. “Essa tendência tem se tornado mais acentuada ainda: fulano de tal não. Sicrano de tal não. E, aí, opta-se pelo voto útil”, encerra.

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