Quais são as vozes e as mentes que vão às ruas pelo impeachment de Dilma
O “Metrópoles” acompanhou reuniões e protestos organizados pelos principais líderes do Fora Dilma para mostrar quem são, de onde vêm e pra onde vão
atualizado
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“Queremos fugir desse bullying”, diz a engenheira civil Maria Luisa Furtado Guido, de 43 anos. Minutos antes, ela tomava o cuidado de tirar a carteira de grife, de couro azul cobalto, de um de seus colegas de cima da mesa, para evitar que a imagem aparecesse no vídeo do Metrópoles. “Estão colando na gente uma imagem que não é a nossa. Hoje, nós somos 93% da população indignada. Somos um grupo eclético, heterogêneo”, completa Malu, como é conhecida entre os amigos a militante do Vem Pra Rua.
Eram 19h30 de uma quarta-feira quando chegavam ao restaurante Belini, na Asa Sul, alguns dos idealizadores do ato que seria realizado no dia 16 de agosto. Embora o movimento se defina como suprapartidário, uma das maiores expectativas entre os coordenadores do grupo era de que comparecessem ao protesto lideranças políticas da oposição, como os senadores Ronaldo Caiado (DEM-GO), Aloysio Nunes (PSDB-SP) e o ex-presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG).
De acordo com Almeida, o movimento já é vitorioso a partir do momento em que “aumenta o grau de politização” da sociedade. “Estamos a três anos das eleições e as pessoas estão discutindo política. Isso é ótimo”, diz o professor. “Acredito que essa é a nova esperança do país. Segundo a Constituição, o poder emana do povo. Então, quando as instituições respeitam a vontade do povo elas estão simplesmente cumprindo a sua obrigação democrática”, completa.
Questionada se a corrupção não seria algo que atinge também gestões anteriores ao PT, a empresária e fazendeira Juliana Dias, de 53 anos, nega que haja qualquer parcialidade. “Nós aqui das ruas não defendemos quem veio antes não. A gente defende que todos os partidos sejam punidos – quer seja PMDB, PSDB, PT. A gente quer moral, quer ética para todo mundo”, diz ela.
Nos protestos acompanhados pelo Metrópoles, petistas não eram bem-vindos. Nem qualquer pessoa que ousasse vestir vermelho. Entre os cartazes, sobravam metáforas de um PT destroçado e ensanguentado.
O mesmo valia para os gritos de guerra entoados por La Banda Loka Liberal, a responsável for viralizar os hinos do Fora Dilma país afora. Desde a marchinha “olha a roubalheira do PT, quem paga é você, quem paga é você” até “pé na bunda dela, o Brasil não é Venezuela”, passando por “chora, petista, bolivariano, a roubalheira do PT ‘tá’ acabando”, o tom de ódio ao PT predominava. Apesar disso, o grupo evita classificar os protestos como algo da direita.
É um movimento contra a esquerda
Maria Luisa Furtado Guido, engenheira civil, 43 anos.
“Podemos, sim, dizer que somos de direita a partir do momento que nos identificamos como capitalistas que querem um governo mais enxuto. Mas nós não somos contra coisas ditas socialistas, como ensino público, saúde pública e aposentadoria”, relativiza Malu.
Entre os entrevistados, vários têm militância partidária. Nas últimas eleições, Ludmila de Faro e Daisy Condé concorreram aos cargos de deputada federal e distrital pelo PSDB, respectivamente. Jefferson Banks é um dos entusiastas do recém-lançado Partido Novo e Aldecyr Maciel disputou uma vaga na Câmara Legislativa do DF, em 2010, pelo PDT. Nenhum deles foi eleito.
Prestação de contas
Embora cobre transparência dos políticos, o movimento Vem Pra Rua evita abrir detalhes sobre a origem de seu financiamento. Pela prestação de contas divulgada oficialmente, apenas R$ 14,7 mil foram arrecadados – tanto em dinheiro quanto em doações de produtos como camisetas, faixas e panfletos. O grupo se recusa a divulgar os responsáveis pelas doações.
“Muitos deles preferem não se expor”, explica o servidor público federal Aldecyr Maciel. “É diferente do governo, que tem uma obrigação legal de prestar contas de seus doadores. No nosso caso, seria uma opção. Mas nós explicamos como o dinheiro arrecadado é gasto”, diz Jefferson Banks.
Os famosos bonecos infláveis gigantes do Pixuleco, que satiriza o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido de presidiário, e da Pixuleca, que traz a presidente Dilma Rousseff com uma faixa presidencial rasgada e um nariz de Pinóquio, custaram respectivamente R$ 12 mil e R$ 13,5 mil. O valor foi arrecadado pelo Movimento Brasil, coletivo independente dos outros grupos.
Aposta institucional
Passadas as manifestações dos dias 16 de agosto e 7 de setembro, o grupo decidiu concentrar estratégias na pressão institucional. Nas últimas semanas, o Vem Pra Rua tem buscado sensibilizar ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Tribunal de Contas da União (TCU).
Durante as reuniões, entretanto, os magistrados evitam sinalizar quais serão os posicionamentos adotados durante o julgamento. “É mais um monólogo, a gente diz qual é a nossa expectativa e o que os cidadãos estão cobrando”, resume a engenheira. “Queremos um julgamento técnico e não político.”
Além da atuação junto aos tribunais, o movimento também aposta no crescimento da adesão de deputados ao pedido de impeachment. Desde seu lançamento, no dia 10/9, o Movimento Parlamentar Pró-Impeachment conseguiu reunir mais de um milhão de assinaturas da população defendendo a saída da presidente Dilma Rousseff.