Conheça as ameaças contra Jean Wyllys: “Vou te matar com explosivos”
Depois de renunciar ao mandato, o parlamentar recebeu e-mail anônimo: “Nossa dívida está paga. Não vamos mais atrás de você e sua família”
atualizado
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“Vou te matar com explosivos”, “já pensou em ver seus familiares estuprados e sem cabeça?”, “vou quebrar seu pescoço”, “aquelas câmeras de segurança que você colocou não fazem diferença”. Essas são algumas das ameaças de morte que chegaram ao deputado federal Jean Wyllys (PSol-RJ) nos últimos dois anos. O conteúdo dessas mensagens, que o fizeram desistir de assumir seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados, foi revelado pelo jornal O Globo.
Disparados pelas redes sociais, no e-mail e telefone do gabinete em Brasília ou no e-mail pessoal do próprio deputado, os textos levaram a Polícia Federal a abrir cinco investigações sobre as ameaças e obrigaram o deputado a andar com escolta policial desde março de 2018, após o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSol). Ele era acompanhado o tempo todo por três agentes e transportado com o suporte de dois carros blindados.
O Globo teve acesso nesta sexta-feira (25/1) ao conteúdo de dezenas de ameaças contra Wyllys. Marcadas por declarações de ódio e de preconceito, elas se avolumaram a ponto de fazerem o parlamentar decidir não voltar ao Brasil: reeleito pela terceira vez em outubro passado, com pouco mais de 24 mil votos, ele viajou durante o recesso parlamentar e não regressará ao país. O local onde decidiu se refugiar, contudo, segue sigiloso, para garantir a proteção do parlamentar.
Na tarde dessa quinta (24), por volta das 14h30, Wyllys pegou até mesmo os assessores do seu gabinete em Brasília de surpresa ao anunciar a decisão de renunciar ao mandato e se mudar para o exterior. O clima de luto tomou conta do local.
“A gente notava que ele estava preocupado com o resultado das eleições, mas só isso. Não achamos que chegaria a tanto”, disse um dos assistentes sobre a última vinda de Wyllys a Brasília, no início do mês.
Endereço em segredo
Desde o assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018, Wyllys pouco saía de casa e limitava sua vida a compromissos de trabalho. O endereço onde mora, no Rio, era tratado como um segredo e compartilhado apenas com poucos amigos e familiares mais próximos. Segundo assessores, a campanha para se reeleger em 2018 foi feita basicamente por meio das redes sociais, sem agendas de Wyllys na rua.
A renúncia do deputado repercutiu rapidamente nas redes sociais e nos portais de notícias, mas não livrou o parlamentar das mensagens de seus algozes. Por volta de 16h45 de quinta-feira, duas horas após a entrevista concedida por ele ser publicada, um novo e-mail, enviado de um endereço apócrifo, chegou aos assessores do deputado:
“Nossa dívida está paga. Não vamos mais atrás de você e sua família, como prometido. Mesmo após quase dois anos, estamos aqui atrás de você e a polícia não pôde fazer para nos parar.”
Esse foi apenas o desfecho de um longo período de “terrorismo psicológico”, como definiu o parlamentar. Em novembro do ano passado, Wyllys afirmou ao Globo que “a campanha de fake news montada pelos inimigos da democracia que agora chegam ao poder (sobretudo a mentira do inexistente ‘kit gay’)” o transformou “num pária para os eleitores desse maldito”, referindo-se ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL).
Disse ainda que esses grupos invadiam diariamente suas redes “com dezenas de milhares de xingamentos e ameaças” e colocaram “minha vida em risco em quase todos os lugares do Brasil”.
Ataques à família
Apesar de ter recebido ameaças desde quando assumiu seu primeiro mandato, em 2011, em dezembro de 2016 o deputado se deparou com uma uma das mensagens que mais o assustaram. Em um longo e-mail que o chamava de “bixona”, o autor escreveu: “Você pode ser protegido, mas a sua família não. Já pensou em ver seus familiares estuprados e sem cabeça?”.
Poucos dias depois, o mesmo remetente enviou para o e-mail de Wyllys e de seus irmãos informações como endereços de todos e placas de carros que o deputado já teve, entre outros dados que mostravam conhecimento sobre a família. Essa ameaça foi uma das que basearam a abertura de uma das investigações pela PF.
Segundo um assessor da equipe de Jean, os endereços de IP do dispositivo do qual partiram essas mensagens remetiam ao exterior, um deles à Califórnia (EUA). A constatação, que teria sido feita em investigação da própria Polícia Federal, levou a equipe dele a considerar como alto o nível de qualificação e de conhecimento tecnológico dos autores.
Explosivos
No mês seguinte, o deputado recebeu de outro autor uma nova leva de intimidações. Neste caso, o remetente detalhou como elaborar explosivos, mostrando conhecimento sobre o assunto.
“Eu vou espalhar 500 quilos de explosivo triperóxido de triacetona, explosivo tão perigoso e potente que é chamado de mãe de Satan pelos terroristas do Estado Islâmico. […] Se vocês duvidam que tenho capacidade para fazer isto, apenas vejam como é fácil produzir o explosivo.”
“Vamos sequestrar a sua mãe, estuprá-la, e vamos desmembrá-la em vários pedaços que vamos te enviar pelo Correio pelos próximos meses. Matar você seria um presente, pois aliviaria a sua existência tão medíocre. Por isso, vamos pegar sua mãe, aí você vai sofrer”, ameaçava o autor da mensagem, revelou o jornal carioca.